São Paulo – A Casa da Boia, tradicional ponto de comércio no centro de São Paulo, promoveu na noite desta sexta-feira (18) uma festa para comemorar seus 120 anos. “Qual é o segredo para se manter na ativa por 120 anos? O respeito às nossas relações com todos os componentes de nosso holograma, principalmente nossos colaboradores e clientes”, disse Mário Rizkallah, empresário que hoje comanda o negócio fundado por seu avô, o imigrante sírio Rizkallah Jorge, em 1898.
Mário destacou que uma empresa tem corpo, mente e alma, e que estes três elementos têm que ser mantidos em equilíbrio. O local onde o empreendimento funciona é o corpo, a mente são os clientes e a alma são seus colaboradores. Neste sentido, a companhia prestou homenagem a vários de seus funcionários, como o gerente de Atacado Miguel Baldino, que trabalha lá há 39 anos. Começou quando tinha apenas 15 como auxiliar de escritório, seu primeiro emprego.
Jorge chegou ao Brasil em 1895 e fundou a empresa três anos depois, primeiro como Rizkallah Jorge & Cia, produzindo itens de decoração em metal como arandelas, gradis e candelabros, mas no início do século passado passou a trabalhar com material hidráulico, dada a demanda por saneamento com o aumento da preocupação com a saúde pública e o próprio crescimento da cidade. O cobre para projetos hidráulicos e elétricos era o carro chefe.
No início, além da loja, a companhia tinha sua própria fundição, mas hoje a Casa da Boia atua principalmente como distribuidora de metais não ferrosos e, lógico, no varejo de metais e produtos hidráulicos no tradicional ponto da Rua Florêncio de Abreu, 123.
Com o aniversário de 120 anos, a Casa da Boia criou um espaço cultural e inaugurou na segunda-feira (14) a exposição “Entre papéis, fotografias e objetos: o acervo de Rizkallah Jorge Tahan”. O local estava aberto para visitação dos convidados na noite desta sexta.
O espaço é dirigido por Adriana Rizkallah, mulher de Mário, que também auxilia na administração da empresa, e a curadoria da mostra é da historiadora Renata Geraissatti, que fez seu trabalho de conclusão de curso na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sobre a companhia, escolheu Rizkallah Jorge como tema de seu mestrado e continua a estudar o assunto em programa de doutorado.
Mário disse que convidar sua mulher para trabalhar na empresa foi uma das melhores ideias que já teve, depois da de casar com ela, há 30 anos.
Benção
Na cerimônia, Dom Matthias Braga, abade do Mosteiro de São Bento, que fica ali quase ao lado, o bispo Nareg Berberian, prelado titular da Diocese da Igreja Apostólica Armênia do Brasil, e o Arcipreste Yeznig Guzelian, também da igreja armênia, fizeram uma benção. Rizkallah Jorge era descendente de armênios.
“Esta história da empresa e da família é muito significativa, não só para os membros da família, mas para a cidade de São Paulo”, afirmou Dom Matthias, que citou também um trecho do Evangelho de São Marcos.
“[A Casa da Boia] é um marco do comércio, da região e da cidade de São Paulo nestes 120 anos de existência”, acrescentou o bispo Berberian, que comandou uma oração. Ele destacou ainda que Rizkallah Jorge foi responsável pela construção da Catedral Armênia São Jorge, em São Paulo, que fará no dia 24 um evento para celebrar seus 70 anos, com concerto musical e exposição sobre a história do templo.
A festa da Casa da Boia teve presença maciça de representantes da comunidade de origem árabe de São Paulo, entre eles diversos diretores da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, como o próprio Mário, o presidente Rubens Hannun, o diretor-geral Michel Alaby, os vice-presidentes Osmar Chohfi e Rui Curi, a diretora Cultural Sílvia Antibas, o tesoureiro Nahid Chicani, o diretor Sami Roumieh, e os ex-presidentes Antonio Sarkis Junior, Salim Schahin e Marcelo Sallum. O Cônsul da Síria em São Paulo, Sami Salameh, também esteve por lá.
A noite continuou com música ao vivo, pelo menos três atrações musicais. Mário é grande fã de jazz e ele mesmo toca em uma banda.
Leia reportagem completa sobre a Casa da Boia feita pela jornalista Bruna Garcia.