São Paulo – Filho de palestino, Maisur Musa (foto acima) ainda lembra do primeiro contato com o que viria a ser uma paixão. “Ganhei moedas da Palestina de 1924 do meu avô. Eu tinha cinco anos de idade e para mim aquilo era muito antigo!”, revelou o colecionador em entrevista por telefone à ANBA. Maisur é idealizador do Museu Itinerante Mistérios do Antigo Egito e Terra Santa, que roda o Brasil levando conhecimento e fascínio sobre os mundos antigos.
Desde a primeira moeda ele não se afastou mais de artefatos antigos. Aos cinco e 10 anos de idade, viajou à Palestina para a cidade natal do pai, Ramallah, para onde se mudou com a família, aos 13. E pouco tempo depois, esbarrou na arqueologia. “Brincando com amigos, nós achamos uma caverna. Na verdade, era uma galeria. Tive grande interesse! Me lembro perfeitamente desse dia, fico arrepiado. É algo muito emocionante porque foi estar ali na caverna onde habitaram pessoas milhares de anos atrás. Tiveram uma vida ali”, rememorou.
Depois deste dia, Maisur começou a buscar informações com seus professores e se envolveu no tema. “Descobri que a galeria já tinha sido encontrada anos antes e lá achamos vestígios de vasos. Comecei a conhecer arqueólogos, tenho grandes amigos até hoje”.
Um colecionador desde pequeno
A descoberta na galeria foi em 1985. E cedo ele se descobriu um colecionador. “Acho que foi quando percebi que parei de gastar meu dinheirinho com chocolate, com outras coisas, e comecei a comprar as peças”, contou ele que, com 10 anos já costumava ir a antiquários e ficava impressionado com as peças antigas e as arquiteturas.
Foi com sua primeira visita ao Egito, aos 17 anos, que o interesse de Maisur ficou ainda mais aguçado. Entre idas e vindas, no total foram 12 anos em que ele viveu na Palestina. E mesmo nos anos em que residiu em países da Europa nunca deixou de garimpar. “O governo palestino não permite a saída de qualquer peça original do país. Então, são de antiquários de Jerusalém, onde é controlado por Israel e é permitido que obras que não sejam de grande importância culturalmente saiam. Outras das nossas peças foram compradas em viagens a Londres, Paris e de Nova York também”.
Finalmente, em 1995, o colecionador recebeu o convite de uma produtora para participar de uma exposição no Brasil. “Foi muito interessante! Eu sempre tive essa coisa de frequentar museus desde pequeno. Pensava em algo assim. Depois, percebi que no Brasil inteiro existe a carência e necessidade de eventos como esse”. A partir da primeira exposição, em Florianópolis, capital de Santa Catarina, Maisur vive seu projeto de museu itinerante. “Recebi vários convites e comecei com peças do Antigo Egito. Depois, agreguei a Terra Santa, há 10 anos. E há pouco tempo, há cerca de dois anos, incluí a Pompeia”, afirmou.
Desde que passou a expor suas coleções, Musa seguiu somando. “Tenho todas as que comprei desde o início. Tirando as que foram roubadas. Infelizmente, tive o furto de um Osíris original. Mesmo com câmeras, aconteceu e não foram recuperadas”, explicou ele. As peças são protegidas por vidros e pelo menos um funcionário acompanha a exposição.
Das 160 peças originais do acervo do museu, 69 são do Antigo Egito e Terra Santa. Maisur destaca que a peça mais antiga chega a ter cinco mil anos. “É uma vênus, 60% dela é original e 40% é uma reconstituição”, afirmou. Agora, a mostra está sendo exposta em Maceió, estado de Alagoas. “Muitas vezes, prorrogamos o evento para atender pessoas da região, cidades vizinhas e distantes. Tem pessoas que visitam o museu e se descobrem. A Marcia Jamille é um exemplo, ela hoje é egiptóloga. É isso que incentiva a gente a continuar com esse projeto que é cansativo, envolve montagem, carregamento, cuidado especial”, revelou. Entre o transporte das peças, montagem e desmontagem do museu itinerante, o trabalho pode se desdobrar em até 40 dias, fora os dias em que a exposição ocorre.
Através dos artefatos, Musa conta mais sobre os detalhes que lhe fascinam. “Sempre que tenho a oportunidade, dou uma de arqueólogo nos antiquários e garimpo lá. Cada um tem um significado. Temos a estátua da Bastet que, por exemplo, é considerada a deusa da guerra. Ela tinha domínio da medicina, e também podia levar a morte para os inimigos através da medicina. Cada deus se destacava em algo e eles procuravam muito na natureza. Aprendiam muito com ela. A Bastet era representada como um gato, animal que foi trazido do exterior para exterminar serpentes, escorpiões. Já Anúbis, deus dos mortos, era representado pelo chacal, animal que tem costume de rondar as tumbas”, detalhou o idealizador do museu.
E entre tantos artefatos garimpados nestes 32 anos, ele teria uma peça preferida? Talvez a mais preciosa? “Para mim, sinceramente, são as pequenas pecinhas do cotidiano, porque, na verdade, a gente vai poder entender as pessoas com elas. As lamparinas, os anéis, eles contam as histórias do dia a dia. Entre as pecinhas de Pompeia estão anéis que seriam a chave da porta, por exemplo. O que eu mais acho interessante é as coisas que contam as histórias do dia a dia das pessoas comuns. Não falam de nobres, mas de como a população de fato vivia. Através das pequenas coisinhas do cotidiano que a gente vai sabendo a verdade”, confidenciou o colecionador.