São Paulo – É extenso o repertório que poderia formar uma apresentação musical inteira dedicada à conexão entre árabes e brasileiros. Foi o que mostrou a historiadora e diretora cultural da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Silvia Antibas, em uma live nesta quinta-feira (26). Entre os elos estão instrumentos vindos de países árabes, ritmos trazidos por imigrantes da Península Ibérica ou muçulmanos escravizados e mesmo compositores e cantores de ascendência árabe.
O evento foi promovido pela Câmara Árabe em parceria com a embaixada do Brasil no Líbano, por meio do Centro Cultural Brasil-Líbano. Na apresentação, Antibas trouxe referências que datam da vinda dos portugueses ao Brasil. “Esses povos da Península Ibérica [Portugal e Espanha] já introduziram no Brasil as influências árabes. A música portuguesa como fado não pode ser estudada sem a influência do território Andaluz”, explica ela sobre a região que teve grande influência dos povos árabes.
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Também com outros povos, como africanos escravizados, muitos deles muçulmanos, vieram canções e orações em árabe. Para explicar a influência árabe no samba, Antibas resgatou a história dos malês, um grupo de pessoas que foi escravizada e trazida ao Brasil, de origem nagô e que eram praticantes da religião muçulmana e falantes da língua árabe. “Com a migração destes grupos da Bahia para o Rio de Janeiro, vieram junto influências como a batucada, que fez parte do que seria mais tarde o samba. O primeiro samba, chamado ‘Pelo Telefone’, data de 1917, feito por Ernesto do Santos”, explicou a pesquisadora.
Ainda no samba, um instrumento árabe semelhante ao pandeiro, o adufe, é parte da história de uma das escolas de samba mais conhecidas do Brasil, a Portela (foto no topo da matéria). Antibas lembrou que o adufe, sem platinelas, teria feito parte da composição e reuniões de veteranos e citado no livro “A Velha Guarda da Portela” (Manati, 2001) pelo cantor e compositor Paulinho da Viola. A obra foi escrita por João Baptista de Medeiros Vargens, professor de árabe do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Carlos Monte.
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Outro paralelo feito pela historiadora é entre o tradicional repente nordestino e um estilo árabe chamado jazal. Ambos são fundamentalmente músicas produzidas por compositores de forma improvisada. “Tanto os versos quanto os sons são improvisados no repente e no jazal árabe”, disse Antibas. Nas marchinhas de carnaval, a diretora da Câmara Árabe citou inspirações direta das histórias árabes como Aladim e Simbad e sátiras em clássicos como ‘Allah-la-ô’.
Já a lista de músicos com ascendência árabe traz nomes que atuam do rock à MPB. Entre eles, estão Frejat, André Abujamra, Fagner, Fauzi Beydoun, da banda Tribo de Jah, além de Dorival Caymmi, e Ricardo Feghali, do grupo Roupa Nova, que é sobrinho da cantora libanesa Sabah. A live contou com participação do músico brasileiro Valtinho Cayuella, que interpretou diversas canções brasileiras que têm um toque árabe em sua essência.
O vídeo foi salvo e está disponível na página da Câmara Árabe no Facebook.