São Paulo – A rota comercial marítima entre Brasil e países árabes do Golfo ainda não tem uma conexão direta, mas os grandes operadores logísticos que atuam no País encontraram alternativas para atender quem faz negócios com o mundo árabe. As dificuldades e soluções encontradas na logística com o Oriente Médio foram apresentadas nesta quinta-feira (11) em um café da manhã com associados organizado pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira e intitulado “Logística marítima Brasil-países árabes: desafios e oportunidades para exportadores”.
Em um painel mediado pela diretora da Câmara Árabe, Suzana Chohfi, o gerente sênior de Mercados da transportadora dinamarquesa Maersk, Rodrigo Pestana, afirmou que é difícil estabelecer uma rota direta porque o Brasil exporta majoritariamente carga em contêineres refrigerados aos países árabes do Golfo. De lá, importa petróleo e fertilizantes em navios petroleiros e graneleiros, que formam outra modalidade de embarcação. Ou seja, um mesmo navio não consegue levar e trazer mercadorias porque as embarcações necessárias para transportar os produtos são diferentes.

Pestana afirmou que de 2021 para 2024 o comércio entre Brasil e países do Golfo cresceu aproximadamente 20% dentro dos negócios da empresa, porém o tipo de carga transportada se manteve estável: cerca de 66% refrigerada e 33% seca. “Precisa ter diversificação. Em maio deste ano, houve um caso de gripe aviária que levou a uma queda nas exportações de frango [carga refrigerada], que não foi substituída. É preciso tentar equilibrar entre secas e refrigeradas”, disse.
A solução que as empresas encontram para fazer a rota comercial entre Brasil e países do Golfo é utilizar portos de transbordo. São polos que recebem a mercadoria, embarcam em outro navio e a enviam para o seu destino. A Maersk, por exemplo, embarca carga refrigerada brasileira em Paranaguá, no Paraná, ou Itapoá, em Santa Catarina, envia para Tânger, no Marrocos, onde essa carga é colocada em um navio que segue para seu destino no Golfo.
O tempo de trânsito médio atual do Brasil para o Golfo é de 35 dias, porém as instabilidades na região do Mar Vermelho levam as empresas a buscarem rotas mais longas, que podem aumentar o tempo de trânsito em até 28 dias.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) organizados pela Câmara Árabe, em 2024 o Brasil exportou US$ 23,6 bilhões aos 22 países árabes, principalmente em açúcares, carnes de aves, minério de ferro e milho e importou US$ 10,1 bilhões, majoritariamente em petróleo e derivados e fertilizantes. Para os países do Golfo, foram exportados US$ 11,1 bilhões, sobretudo em carnes de aves, açúcares, minério de ferro e carne bovina, e importados US$ 6,2 bilhões, especialmente em petróleo e derivados e fertilizantes.
De acordo com dados apresentados pelo gerente de Inteligência de Mercado da Câmara Árabe, Marcus Vinicius, 76% do que o Brasil exporta aos países árabes são produtos do agronegócio, enquanto 82% do que importa da região são petróleo e fertilizantes. A via marítima responde por 97% do total transportado e a via área, por 3%.
Diretora de Logística da DP World, integradora logística sediada em Dubai, Daniela Zicari Di Monte disse que a empresa tem investido em digitalização e buscado alternativas que tornem mais eficiente a movimentação de contêineres. Afirmou que o porto da Zona Franca de Jebel Ali é um hub estratégico para a empresa. “Vemos não tanto a simetria de navios, mas, sim, potencializar as trocas comerciais e os produtos”, disse.
O gerente de Logística da BRF, Higor Goller, disse que a empresa exporta 60 mil toneladas mensais de produtos halal, feitos de acordo com as regras do Islã, aos países árabes e que a logística é um desafio. “Nossas fábricas são feitas para escoar produtos, não para armazenar”, disse. Ele comentou que atualmente há uma grande concentração de contêineres nos pátios dos portos e que não há muito espaço disponível para ampliar esses pátios e o escoamento.
Todos os convidados do encontro afirmaram que a pontualidade das chegadas e partidas das embarcações é fundamental para exportar e importar e que em muitos casos as empresas optam por partir de um porto sem carregar completamente a embarcação para não sofrer com atrasos nas paradas subsequentes. O índice de pontualidade global, disse Daniela, é de 65%. No Brasil, está em 51%. Em sua rota entre Santos e Tânger, disse Pestana, a Maersk alcança 86%.
O gerente de Inteligência de Mercado da Câmara Árabe apresentou uma breve palestra e afirmou que volumes exportados, diversificação da pauta exportadora e custo de frete são hoje os principais desafios para se estabelecer uma rota marítima. “Quando forem superados, poderá existir uma rota direta”, afirmou.
Após o evento, Suzana Chohfi afirmou que o painel mostrou a importância em garantir que o produto chegue ao destinatário, mesmo em meio aos desafios. “Não é só vender, é conseguir entregar no tempo previsto”, disse.
Vice-presidente de Relações Internacionais e secretário-geral da Câmara Árabe, Mohamad Orra Mourad afirmou na abertura do encontro que portos e vias marítimas em países árabes, como o porto de Tânger e o canal de Suez, no Egito, oferecem a oportunidade de empresas alcançarem mais destinos para seus produtos além dos próprios países árabes. “Harmonizar o fluxo é essencial para equilibrar o comércio”, disse. Também estiveram presentes no encontro os diretores estatutários da Câmara Árabe William Atui, Sami Roumieh e Arthur Jafet.
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