Sharm El Sheikh – O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva discursou na plenária da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, a COP27, na tarde desta quarta-feira (16), no Egito. Lula disse que em seu governo irá “reatar laços e ajudar no combate à fome no mundo”. Ele quer voltar a cooperar com os países mais pobres, sobretudo os da África, com investimentos e transferência de tecnologia, e com os países latino-americanos e caribenhos, além de “lutar por um comércio justo entre as nações, e pela paz entre os povos”. “Voltamos para ajudar a construir uma ordem mundial pacífica, assentada no diálogo, no multilateralismo e na multipolaridade”, disse.
Lula disse que o País está aberto à cooperação internacional para a preservação dos biomas, seja por investimentos ou pesquisa científica. “Mas sempre sob a liderança do Brasil, sem jamais renunciarmos à nossa soberania”, declarou. O combate à mudança climática terá prioridade na estrutura de seu governo, informou. “Vamos priorizar a luta contra o desmatamento em todos os nossos biomas”, disse.
Para o presidente eleito, conjugar desenvolvimento e meio ambiente também é investir nas oportunidades criadas pela transição energética, com investimentos em energia eólica, solar, hidrogênio verde e bicombustíveis. “São áreas nas quais o Brasil tem um potencial imenso, em particular no Nordeste brasileiro, que apenas começou a ser explorado”, disse.
Ele ainda propôs uma nova governança global. “É preciso incluir mais países no Conselho de Segurança da ONU e acabar com o privilégio do veto, hoje restrito a alguns poucos, para a efetiva promoção do equilíbrio e da paz”, declarou.
O presidente eleito propôs a realização da Cúpula dos Países Membros do Tratado de Cooperação Amazônica. “Para que Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela possam, pela primeira vez, discutir de forma soberana a promoção do desenvolvimento integrado da região, com inclusão social e responsabilidade climática”, disse.
Outra iniciativa proposta foi a de oferecer o Brasil para sediar a COP30, em 2025, como ele já havia declarado em evento pela manhã. “Seremos cada vez mais afirmativos diante do desafio de enfrentar a mudança do clima, alinhados com os compromissos acordados em Paris e orientados pela busca da descarbonização da economia global”.
Lula enfatizou que o Brasil vai presidir o G20 em 2024. Estejam certos de que a agenda climática será uma das nossas prioridades.
Ele lembrou que em 2009, os países presentes na COP15 em Copenhague se comprometeram a mobilizar US$ 100 bilhões por ano, a partir de 2020, para ajudar países menos desenvolvidos a enfrentarem a mudança climática. “Este compromisso não foi e não está sendo cumprido. Isso nos leva a reforçar, ainda mais, a necessidade de avançarmos em outro tema desta COP27: precisamos com urgência de mecanismos financeiros para remediar perdas e danos causados em função da mudança do clima”.
Este debate não pode mais ser adiado, disse Lula. “Precisamos lidar com a realidade de países que têm a própria integridade física de seus territórios ameaçada, e as condições de sobrevivência de seus habitantes seriamente comprometidas. É tempo de agir. Não temos tempo a perder. Não podemos mais conviver com essa corrida rumo ao abismo”, discursou.
“Estou hoje aqui para dizer que o Brasil está pronto para se juntar novamente aos esforços para a construção de um planeta mais saudável, de um mundo mais justo, capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes – e não apenas uma minoria privilegiada”, disse.
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Segurança climática
A luta contra o aquecimento global, segundo Lula, é indissociável da luta contra a pobreza e por um mundo menos desigual e mais justo, e não há segurança climática para o mundo sem uma Amazônia protegida. “Não mediremos esforços para zerar o desmatamento e a degradação de nossos biomas até 2030, da mesma forma que mais de 130 países se comprometeram ao assinar a Declaração de Líderes de Glasgow sobre Florestas”, disse.
Os crimes ambientais serão combatidos sem trégua, afirmou Lula, que disse que irá fortalecer os órgãos de fiscalização e os sistemas de monitoramento e punir “com todo o rigor os responsáveis por qualquer atividade ilegal, seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida. Esses crimes afetam sobretudo os povos indígenas”, disse, reiterando o plano de lançar o Ministério dos Povos Originários.
Agroflorestas
Lula afirmou que a produção agrícola sem equilíbrio ambiental deve ser considerada uma ação do passado. A meta que seu governo irá perseguir é a da produção com equilíbrio, com o sequestro de carbono, a proteção da biodiversidade, a busca pela regeneração do solo em todos os biomas brasileiros e o aumento de renda para os agricultores e pecuaristas.
“Estou certo de que o agronegócio brasileiro será um aliado estratégico do nosso governo na busca por uma agricultura regenerativa e sustentável, com investimento em ciência, tecnologia e educação no campo, valorizando os conhecimentos dos povos originários e comunidades locais. No Brasil há vários exemplos exitosos de agroflorestas”, disse.
Ele informou que há 30 milhões de hectares de terras degradadas no País, e que há conhecimento tecnológico suficiente para torná-las produtivas. Não precisamos desmatar sequer um metro de floresta para continuarmos a ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo”, disse.
Nesse sentido, Lula propôs uma Aliança Mundial pela Segurança Alimentar, pelo fim da fome e redução de desigualdades, com “total responsabilidade climática”.
Egito
Lula agradeceu o convite para participar da COP27, feito pelo presidente do Egito, Abdel Fattah Al Sisi, e disse que o país árabe é “o berço da civilização, que desempenhou um papel extraordinário na história da humanidade”.
“Este convite, feito a um presidente recém-eleito antes mesmo de sua posse, é o reconhecimento de que o mundo tem pressa de ver o Brasil participando novamente das discussões sobre o futuro do planeta e de todos os seres que nele habitam”, disse.
“Se pudermos resumir em uma única palavra a contribuição do Brasil neste momento, que essa palavra seja aquela que sustentou o povo brasileiro nos tempos mais difíceis: Esperança. A esperança combinada com uma ação imediata e decisiva, pelo futuro do planeta e da humanidade”, finalizou o presidente eleito.
Lula na COP27
A presença do presidente brasileiro eleito na COP27 lotou duas salas de conferência para acomodar todos que queriam assistir ao seu discurso, e ainda ficou muita gente de fora. Tanto a delegação brasileira, que é a segunda maior da COP27, como estrangeiros, pararam para ouvir o líder do Brasil na Conferência do Clima. Ele foi aplaudido na plenária em vários momentos.