São Paulo – A Market Securities, uma corretora global com matriz em Londres, na Inglaterra, e braço em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, tem planos ambiciosos para o investimento entre o Brasil e os Emirados. Com o executivo brasileiro Celso Filho na chefia da área de Projetos Especiais, a corretora planeja estruturar um fundo para que emiradenses invistam no agronegócio do Brasil e outro para que brasileiros invistam no setor imobiliário dos Emirados.
Apesar da contratação não ter sido motivada pela nacionalidade, a chegada de Celso na corretora foi o pontapé que faltava para a Market Securities se alçar em direção do Brasil, onde já estão bem presentes os seus principais concorrentes. De acordo com Celso, antes da sua entrada, que ocorreu há seis meses, não havia ações voltadas ao Brasil na corretora, mas havia o entendimento da importância do País.
“Sempre houve um interesse no País, não tem como ignorar o Brasil, a economia do Brasil é quase do tamanho da economia do Golfo inteiro”, afirma o executivo. “Agora vamos começar a colocar um pezinho no Brasil”, diz Celso, deixando claro que não se trata de abrir uma base, mas desenvolver produtos financeiros.
Com esse intuito, a empresa se associou à Câmara de Comércio Árabe Brasileira recentemente e começou a criar uma estratégia voltada ao mercado brasileiro. A Market Securities é uma corretora de atacado, ou seja, ela não atua diretamente no varejo financeiro, com pessoas físicas, mas atende clientes institucionais, tais como corretoras de valores e bancos. Nesse universo, a empresa está desenhando fundos para a conexão entre Emirados e Brasil que serão oferecidos por outras instituições financeiras ao mercado.
O produto cujo desenvolvimento está mais avançado é um fundo para que investidores árabes apliquem no agronegócio brasileiro. O fundo, estruturado pela Market Securities, será custodiado nos Emirados, com os seus ativos alocados no Brasil, em projetos agrícolas exportadores para o país árabe. A corretora atuará com parceiros, no Brasil, com consultores ou empresas especialistas no agronegócio que vão ajudar a montar o leque de ativos e, nos Emirados Árabes Unidos, com um distribuidor financeiro para o fundo.
Celso relata que as conversas com os possíveis parceiros para esse fundo já estão bastante adiantadas. Apesar de tudo caminhar para que ele seja constituído nos Emirados, o executivo não descarta que isso ocorra em outro país do Golfo e prevê que o produto financeiro também atraia investidores da região. “Praticamente todos os bancos e family offices dos outros países do Golfo estão presentes em Dubai”, afirma. Family offices são escritórios que gerem grandes patrimônios familiares.
Sobre a escolha de projetos do agronegócio para constituir um fundo voltado aos investidores árabes, Celso diz: “Onde a gente vê mais oportunidade é no setor agro por questões geoclimáticas e geopolíticas.” Ele lembra que Brasil é uma potência no agronegócio e que, por condições naturais climáticas, a produção de commodities não tem condições de ocorrer no Golfo. Ao mesmo tempo, a região tem boas relações com o Brasil. Celso vê que os investidores dos Emirados têm menos interesse em investir no Brasil como uma “tese financeira” e mais como uma “tese comercial”, de acesso preferencial aos seus produtos.
Fundo para investir em imóveis
Na outra mão, a Market Securities pretende estruturar um fundo para que brasileiros invistam no setor imobiliário dos Emirados Árabes Unidos. “Quando você olha aqui os setores que mais recebem investimentos estrangeiros, o imobiliário é o principal. Por isso, o vejo como um bom nicho para mostrar aos brasileiros”, afirma Celso, falando de Dubai.
Nesse caso, o fundo também será estruturado pela Market Securities, mas terá seus ativos nos Emirados e será custodiado no Brasil para ser oferecido aos brasileiros. Também aí a corretora vai trabalhar com parceiros, no Brasil com banco ou gestora financeira, e, nos Emirados Árabes Unidos, com alguma das principais empresas locais especializadas em real estate, que também vai gerir os ativos.
Os imóveis devem ser residenciais e de logística. “Já estudo bastante esse mercado, o setor residencial é o carro-chefe”, diz Celso. Segundo ele, muito turístico, os Emirados têm muitas second homes, as segundas casas de estrangeiros que nem sempre moram no país. “É um setor bom, super-resistente, muito bom para produzir renda”, afirma. O logístico deve ter ativos como galpões, centros de distribuição, infraestrutura portuária. Celso vê como investidores clientes do private banking e family offices do Brasil.
Market Secutiries
A Market Securities existe há 16 anos. Apesar de ter começado as atividades em Londres, a instituição financeira está em Dubai com sua filial há 10 anos, no Dubai International Financial Centre (DIFC), regulada pela Dubai Financial Services Authority (DFSA). A empresa tem 300 colaboradores distribuídos por Nova Iorque, Londres, Genebra, Paris, Hong Kong e Dubai e participação de capital árabe.
A instituição financeira liquida anualmente US$ 1,1 trilhão e entre seus clientes estão os maiores bancos europeus e americanos, os maiores e mais sofisticados fundos de hedge, grandes proprietários de ativos na Europa e no Oriente Médio. Como corretora de atacado, entre as suas principais operações estão a execução de grandes ordens no mercado de ações.
A área de Projetos Especiais, que Celso Filho lidera, no entanto, tem como missão desenvolver outras oportunidades para a corretora no mercado financeiro. Mineiro, Celso se mudou para os Emirados Árabes no final do ano passado e, já no país árabe, foi chamado para trabalhar na Market Securities. Na sua alçada estão, por exemplo, a abertura de novos escritórios da corretora na região do Golfo.
Celso Filho
Formado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), com mestrado também na área e em Finanças no Instituto Europeu de Administração de Empresas (Insead), Celso trabalhou em instituições financeiras no Brasil como Itaú BBA, B3 (bolsa de valores), Citigroup, Credit Suisse, antes de se mudar para os Emirados.
O desafio ao qual o país árabe se propõe, que é reinventar sua economia diante da nova realidade do setor de petróleo, é instigante para o executivo. “Daqui 20 anos vai ser completamente diferente a economia e eles sabem disso, então, eles têm uma pressão pelo crescimento que é muito única”, afirma.
A segurança existente nos Emirados também pesou na escolha de Celso pelo país como moradia, além das oportunidades que existem para estrangeiros e a ausência de impostos para pessoas físicas. Ele vê que essa grande presença estrangeira – 88% da população não é nativa – produz muita tolerância no país.
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