São Paulo – Uma técnica de costura para encadernação, originária de um povo que faz parte da história do Egito, será ensinada durante oficina na capital paulista no mês de março. O povo é o copta, uma comunidade antiga que já ocupava áreas do atual Cairo antes da fundação da cidade no século 10 d.C. Essa cultura se desdobra na língua copta e no maior grupo cristão no Egito. E em uma técnica de costura que, segundo a pesquisadora da arte e cultura de países africanos, Adriana Amaral, colaborou para disseminação de textos religiosos antigos.
“A origem dessa técnica tem relação forte com o período no qual o cristianismo estava sendo difundido. Quando a costura copta surgiu e começou a desenvolver a técnica de encadernação, os primeiros livros foram os bíblicos”, pontuou a artista professora de Artes Visuais na Escola Municipal de Iniciação Artística de São Paulo.
Após mais de seis anos de pesquisas, a artista prepara sua primeira oficina Encadernação Copta em madeira, que será oferecida no Sesc Campo Limpo. “Em 2012, comecei a me interessar por técnicas de encadernação. Dentre os cursos livres que fiz, eu descobri essa técnica copta e me interessei muito por ela. É egípcia e tem essa raiz forte no continente africano. Tenho pesquisado bastante a produção cultural dos países africanos”, contou a artista, que tem seu foco de trabalho em práticas manuais.
Costura egípcia
A ligação da origem da técnica copta com livros bíblicos trouxe a necessidade de materiais resistentes. “As obras vinham com ilustração, eram muito pesadas, precisavam durar muito tempo. A costura que juntava os cadernos era presa em capas de madeira. E a madeira, encapada com couro”, detalhou Amaral.
A artista explica as especificidades da costura copta. “Não acho ela complexa, é muito delicada, na verdade. Tem uma qualidade que me interessa muito. O tipo de costura que faz permite que o livro abra 360 graus. Isso dá uma flexibilidade para o objeto, e para como vai ser manuseado, se vai ser de papel mais fino, grosso, ou papelão mais rígido”, explicou Amaral sobre os livros onde a costura fica aparente, ao contrário das publicações com a chamada lombada coberta. “Culturalmente, além de artisticamente, essa técnica tem um apelo estético muito forte. A beleza, o detalhe, o manuseio são muito importantes”, acredita Adriana.
No Sesc, a artista vai apresentar a costura copta feita em madeira pura. A parte teórica da pesquisa da estudiosa veio do seu próprio interesse e ela conta que encontrou pouco material sobre o tema. “Como eu me interessei pela origem da costura, comecei a pesquisar particularmente, investigar mais conhecimento para compartilhar com as pessoas. Para mim, é muito importante que esse contexto também seja posto para o público. Falando de Egito, acho que é menos negligenciado porque foi uma das primeiras civilizações e tem referencial difundido. Mas sobre os povos africanos, é muito negligenciado. Para mim, é um princípio ético e pedagógico que exista aprofundamento. Eu, enquanto artista, decidi me apropriar dessa estética, preciso também contribuir com a cultura, dizer de onde vem e dar o mérito e autoria para origem. Isso tem uma história e é importante não apagá-la”, explicou.
Na oficina do Sesc, os participantes terão uma parte teórica e, em seguida, colocam a mão na massa criando cada um o seu próprio livro com costura copta. O evento é livre para jovens e adultos com interesse por processos manuais, com conhecimento técnico prévio de encadernação ou não.
Serviço
Encadernação Copta em madeira
17/03 (Domingo)
14h30 às 18h30
Sesc Campo Limpo – Rua Nossa Senhora do Bom Conselho, 120, Campo Limpo São Paulo
Informações: https://www.sescsp.org.br/unidades/681_CAMPO+LIMPO
Entrada gratuita