São Paulo – O custo para obtenção de crédito está sendo o principal desafio do agronegócio brasileiro neste ano. O tema foi o mais debatido nos painéis da manhã desta terça-feira (2) no 12º Congresso Brasileiro de Fertilizantes, realizado em São Paulo pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA).
No painel “Economia brasileira, o agronegócio e os fertilizantes”, o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, apresentou o cenário atual e perspectivas para a economia global e brasileira. Os Estados Unidos, avaliou, deverão enfrentar inflação elevada e retração da sua produção industrial nos próximos anos, o que poderá levar seu presidente, Donald Trump, a adotar novas medidas de aumento de tarifas, inclusive sobre o Brasil. Por aqui, juros altos e inadimplência alta pressionam os produtores.
O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Guilherme Campos Júnior, afirmou que uma grande quantidade de empresas em recuperação judicial no Centro-Oeste gerou impactos no agronegócio naquela região no ano passado e levou os bancos a serem mais criteriosos na concessão de crédito. Ele citou esforços do governo em apoiar o produtor, mas reconheceu: “O plano safra [de incentivo à concessão de crédito rural] foi o maior da história neste ano, mas com a Selic [taxa básica de juros] a 15%, os produtores estão muito zelosos em assumir financiamentos e focando mais no custeio”, disse.
Analista de Fertilizantes na Agrinvest Commodities, Jeferson Souza, pontuou dificuldades das lavouras de milho e soja, o que impacta diretamente na compra de fertilizantes, e disse que o estado do Rio Grande do Sul, que é grande produtor do agronegócio, passa por dificuldades na lavoura.
Agronegócio com foco na sustentabilidade
A sustentabilidade foi outro assunto de destaque do encontro. Presidente-executivo da rede Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), Franciscoo Matturro apresentou o sistema de regeneração de áreas degradadas que a instituição, uma parceria público-privada, promove. Num dos exemplos apresentados, uma fazenda em Goiás ampliou a produção de soja, milho e carne bovina, além da matéria orgânica disponível na propriedade.
Vice-presidente executiva comercial da Mosaic, empresa líder na produção de alguns tipos de fertilizantes, Jenny Wang afirmou que a empresa tem investido em novas tecnologias, como o biofertilizante, feito a partir de matéria orgânica e menos agressivo ao meio ambiente, e elogiou o Brasil na condução de políticas para o agronegócio. “O Brasil está dando um passo à frente na regulamentação do setor [de fertilizantes], e facilitando o registro de produtos que geram benefícios para a lavoura. E os produtores estão mais abertos”, disse, enfatizando, porém, que o País precisa ser mais rápido e claro em questões regulatórias.
Assessor do Mapa, José Carlos Polidoro mostrou a importância do programa Caminho Verde, de regeneração de áreas e pastagens degradas e sua conversão em terras produtivas. Há uma estimativa do Mapa de 80 milhões de hectares a serem recuperados. Algo que, se ocorrer dentro do período de nove anos previsto pelo programa Caminho Verde, poderá elevar as estimativas de consumo de fertilizantes dos atuais 62,7 milhões de toneladas em 2035 para 71,3 milhões de toneladas em 2035.
Ex-ministro da agricultura e conselheiro do Agronegócio para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), Roberto Rodrigues afirmou que levará à conferência, em novembro, em Belém, no Pará, um estudo sobre assuntos que precisam ser solucionados para promover a sustentabilidade. Entre eles, citou a recuperação de pastagens, a aplicação de leis ambientais e mostrar o Brasil como um garantidor da segurança alimentar global.
Vice-presidente do Brasil e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin enviou um vídeo para a abertura do evento. Na apresentação, Alckmin apresentou projetos que, quando concretizados, poderão produzir 15% dos fertilizantes fosfatados consumidos pelo Brasil e 20% dos nitrogenados e reduzir a dependência brasileira dos fertilizantes importados, que, segundo dados apresentados pelo governo, hoje correspondem a 85% do que o País consome para fertilizar a lavoura.


