Giuliana Napolitano
São Paulo – A diversificação da pauta de exportações do Brasil para os países árabes já aparece no balanço parcial do comércio externo brasileiro. Os embarques de veículos e óleo de soja, por exemplo, cresceram mais 400% neste ano, de acordo com números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O relatório mostra ainda que os produtos que mais aumentaram sua participação no mercado árabe foram os manufaturados.
As vendas de automóveis de passageiros, por exemplo, cresceram 675% de janeiro a outubro, em relação ao mesmo período de 2002. No caso dos ônibus, a alta foi ainda maior: de 739%. E os negócios com veículos de carga subiram 477%. Em igual intervalo, as vendas de óleo de soja refinado aumentaram 539%.
"Esses dados são um indício de que a pauta está se diversificando", afirmou à ANBA o secretário-adjunto da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério, Ivan Ramalho. "O crescimento em percentuais tão altos mostra que está havendo prospecção e abertura de mercado pelos empresários brasileiro".
O volume financeiro gerado por esses novos produtos, no entanto, ainda é baixo. Os embarques de automóveis aos países árabes, por exemplo, somaram US$ 27,8 milhões neste ano, pouco mais de 1% do total vendido pelo Brasil à região no período (US$ 2,2 bilhões). As exportações de óleo de soja renderam receita ainda menor, de US$ 12,1 milhões.
Básicos influenciam mais
Por isso, apesar do crescimento estrondoso das vendas de alguns itens, as exportações totais do Brasil para o Oriente Médio e Norte da África subiram apenas 2,8% de janeiro a outubro deste ano, frente ao mesmo período de 2002. "Isso aconteceu em razão do desempenho de alguns produtos que têm grande participação na pauta", explicou Ivan Ramalho. Entre eles, destacam-se as quedas de 36,4% nos embarques de açúcar e de 48,5% nas vendas brasileiras de petróleo em bruto para o mercado árabe.
Por enquanto, os campeões de vendas continuam sendo os produtos básicos. O primeiro do ranking é a carne de frango, que gerou US$ 397,6 milhões em exportações de janeiro a outubro deste ano. Foi o maior volume embarcado pelo Brasil ao mercado árabe e correspondeu a 18% da pauta.
O segundo lugar fica com o açúcar refinado, um produto industrializado que neste ano teve uma participação de 14,3% no total exportado pelo Brasil. Na seqüência, porém, as principais posições são todas ocupadas por básicos ou semimanufaturados, como minério de ferro, açúcar de cana bruto, carne bovina e petróleo.
No acumulado de 2003 até outubro, os bens básicos responderam por 49,7% das vendas do Brasil para os países árabes. Os manufaturados ficaram com 38,1% e os semimanufaturados, com 12,2%.
Arábia Saudita virou maior comprador
Entre os países que mais compram do Brasil, também houve mudanças neste ano, na comparação com 2002. Os negócios com a Arábia Saudita aumentaram 10% até outubro, para US$ 521 milhões, e com isso o país retomou o lugar de maior mercado para produtos brasileiros entre os 22 países árabes.
No ano passado, o maior comprador havia sido os Emirados Árabes Unidos. O país desbancou a Arábia Saudita, que liderava o comércio com o Brasil desde o início da década de 90, logo após a Guerra do Golfo. Isso porque o conflito afetou as trocas internacionais do Iraque, um dos maiores parceiros brasileiros até então.
A troca de posições ocorreu porque as exportações do Brasil para os Emirados diminuíram cerca de 13% no intervalo. De acordo com Ivan Ramalho, a queda se deve a "fatos isolados, a alguns produtos que deixaram de ser vendidos por alguma razão, mas podem voltar a ser comercializados". Houve redução de quase 50% nas exportações de petróleo e de açúcar bruto para o país. Em compensação, aumentaram os embarques de soja refinada (alta de 650%)e de carne de frango (53%).
A terceira posição continuou com o Egito, que aumentou as trocas com o Brasil. De janeiro a outubro, o país importou US$ 389 milhões, mais do que o volume registrado durante todo o ano passado (US$ 386 milhões). Em seguida, vieram as vendas para Marrocos, Argélia, Iêmen, Bahrein, Kuwait, Líbia e Líbano.
Importações
As importações brasileiras dos países árabes aumentaram 36% no acumulado deste ano até outubro, para US$ 2,3 bilhões – revertendo o superávit comercial histórico de cerca de US$ 300 milhões registrado em 2002.
Apesar do crescimento, a pauta continua baseada principalmente em petróleo e derivados. As exceções foram as compras de pilhas, baterias, sucos e extratos vegetais, que começaram a ser feitas pelo Brasil na região neste ano.

