São Paulo – Há três anos e meio, dois portugueses começavam a desenvolver o projeto de uma nova criptomoeda. A iniciativa resultou na BestKoin, empresa sediada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Mas se os fundadores são portugueses, por que a escolha do país árabe? “São vários fatores que nos levaram a escolher Dubai para ser sede. Entre eles, posso destacar os pontos principais: o emirado está muito avançado na regulamentação do setor de criptomoedas; Dubai também é destino turístico por natureza e isso se enquadra no [nosso] objetivo principal. Dubai é extremamente bem estruturado, objetivo, e não se pode falhar com nada, o que nos agrada em relação à regulamentação e assertividade econômica e financeira”, disse à ANBA Pedro Ribeiro, cofundador da BestKoin.
O emirado é considerado criptofriendly pelo empresário porque, segundo ele, já está bastante avançado no trabalho com moedas virtuais e na regulamentação delas. A BestKoin foi lançada em outubro de 2018. “Iniciamos o pré-ICO e temos até o final de abril para completar essa fase”, explica o fundador sobre o termo que vem da sigla para “Initial Coin Offering”, oferta antecipada dos ativos a um preço melhor para atrair investidores.
A empresa, agora, se prepara para oferecer de forma inédita a criptomoeda como opção oficial de pagamento em camarote de uma das maiores festas populares do mundo: o carnaval brasileiro. Mais especificamente no camarote Incentivo Brasil, no desfile das escolas de samba no Rio de Janeiro. Na ocasião, a BestKoin vai colocar em prática sua principal ambição de ser uma moeda para pagamentos e não apenas especulação. “Outras criptomoedas têm 80% de especulação e 20% de efetividade, e queremos o oposto. Nosso grande foco passa pela utilização como meio de pagamento real e efetivo”, ponderou o empresário.
Segundo a empresa, a parceria com o camarote na Sapucaí vale pelos próximos dois anos, pelo menos, e entre os presentes deve haver clientes da Europa, Japão e Dubai. Como uma das vantagens de se utilizar a criptomoeda como pagamento, o fundador destaca que elas dispensam o pagamento de taxas com as cobradas para converter diferentes moedas em casas de câmbio. Os empresários escolheram a empreitada no Brasil por causa da referência do País como destino de turistas da Europa. “E, principalmente, porque [o nicho de turismo no Brasil] não está sendo explorado da forma que deveria estar e com os parceiros corretos”, acredita Ribeiro.
Para o uso da criptomoeda existem duas formas. Uma delas é a transferência de valores de uma carteira para outra. Por exemplo, se o cliente comprar um pacote de viagem, basta pagar de forma on-line com seus Bestkoins para as empresas parceiras da moeda. Outra opção é o pagamento através de cartões que também são parceiros da BestKoin. No Brasil, a empresa firmou acordo com a fintech brasileira Uzzo – empresa ligada à Mastercard, que permitirá a conversão de Bestkoins em moedas ‘reais’ e, assim, permitir o pagamento de compras e serviços por meio de um cartão pré-pago da bandeira. Segundo Ribeiro, a previsão é que seja possível fazer a compra de coisas cotidianas a partir de 1º de maio. “Nós temos um foco. Mas se você tem real e quer comprar uma bolsa em dólar, se a entidade aceitar a compra em Bestkoins, tudo bem. Ainda que o nosso foco seja o turismo”, afirmou.
Outra estreia confirmada pelo fundador é com a NetPDV, empresa brasileira que atua em festivais em torno do mundo. “É a maior entidade de cashless (meios pré-pagos) da América Latina e Europa. E a BestKoin foi a única criptmoeda convidada para ser meio de pagamento”, revelou. O próximo grande evento onde a moeda vai ser opção de pagamento é o The BPM Festival, de música eletrônica, onde o contrato com a BestKoin também foi firmado para os próximos dois anos. A próxima edição do festival deve ocorrer durante o verão de Portugal.
O mercado das criptomoedas
“Nós não criamos nenhuma moeda. É uma moeda encriptada, é um código. Não temos direito de emitir moedas. Nem é um termo jurídico porque não existe regulamentação. A criptomoeda é ativo. Não se pode falar mais do que isso, porque não tem o que dizer até haver regulamentação das entidades que conhecemos”, explicou o fundador da BestKoin, que hoje acumula 400 milhões de tokens – um tipo de ativo digital, em geral criados numa camada superior de uma criptomoeda e que facilitam as transações entre os usuários.
E como, então, a empresa definiu o montante que detém? “Buscamos onde existia um problema com maior potencial e chegamos ao mercado de turismo, que tinha parceiros e clientes com solicitações [por criptomoedas]. Fizemos o estudo de mercado e econômico sobre esse nicho e chegamos ao nosso ‘white paper’, que é como se fosse a cédula de nascimento. Ele explica a razão pela qual nós devíamos ter “X” quantidade de tokens. Feito o estudo de mercado e econômico, nós vimos o problema na parte do turismo online que seria [uma demanda de] US$ 1,5 bilhão. Identificamos o tamanho do problema, e aí definimos a quantidade de token e a que preço ele seria cotado para que nós possamos ajudar a resolver o problema”, detalhou.
E sobre o lastro, dúvida constante de quem vê o mercado de fora, Ribeiro explica que sim, existe. Mas provavelmente não é o que você espera. “Nosso lastro é credibilidade. E o que faz nós termos essa credibilidade? Eu sou especialista em termos de marketing e comunicação. O outro fundador é do mercado financeiro, e uma pessoa bastante renomada, assim como o pessoal da equipe. Passamos também a ter um conselho consultivo. Para bancos isso é obrigatório, já nesse ramo não é, mas apresentamos por questão de seriedade e credibilidade”, pontuou Ribeiro.
Ele explica que a BestKoin quer trazer inovação. “Nosso paradigma é diferente. É a utilização da moeda. As outras são de especulação e é isso que leva as pessoas a dizer que é uma bolha, vai arrebentar. Queremos que haja valorização do nosso ativo e que que isso seja através da sua utilização real para pagamentos, por exemplo”, concluiu Pedro Ribeiro.