Giuliana Napolitano
São Paulo – A Cúpula Árabe, evento que reunirá representantes dos 22 governos do Oriente Médio e Norte da África neste mês, em Túnis, capital da Tunísia, poderá falar do Brasil. Durante os encontros preparatórios que ocorreram na semana passada no Cairo (Egito), foi levantada a possibilidade de ser discutida na reunião a primeira cúpula entre chefes de governo árabes e sul-americanos, proposta pelo Brasil e programada para ocorrer no final deste ano no país.
O tema foi apresentado pelo ministro de Relações Exteriores do Líbano, Jean Obeid, informou à ANBA, por e-mail, Sayed Torbey, chefe-adjunto da missão permanente da Liga dos Estados Árabes, principal organismo de representação árabe que organiza o encontro na Tunísia. "Jean Obeid propôs a inclusão da cúpula árabe-latina na agenda", disse.
O pedido do ministro é resultado de um compromisso assumido pelo presidente libanês, Émile Lahoud, durante visita oficial ao Brasil, em fevereiro. Assim que voltou a Beirute, Lahoud declarou, em entrevista à imprensa local, que falaria sobre a reunião árabe-sul-americana durante a cúpula de Túnis.
O chefe-adjunto da Liga lembrou, porém, que ainda não estão fechados os temas a serem discutidos na cúpula, que acontece nos dias 29 e 30 de março. "A agenda final será definida em Tunis, pouco antes do encontro", explicou. Ele acrescentou que a tendência é "ter uma agenda enxuta, para podermos focar as discussões em assuntos realmente importantes".
Reformulação da Liga
Entre esses assuntos, disse Torbey, deverão figurar os sempre presentes debates sobre a situação no Iraque, os conflitos entre israelenses e palestinos e, agora, também a necessidade de reformas na Liga Árabe. O organismo vem sendo criticado por ter pouca influência na questão palestina e por não ter conseguido evitar a guerra no Iraque, membro-fundador. Alguns países chegaram a manifestar a intenção de deixar a Liga e analistas, principalmente árabes, pedem mudanças nas formas de atuação do organismo.
Na última semana, o primeiro-ministro do Egito, Ahmad Maher, informou que os países árabes já tinham uma proposta de reformulação da Liga, que a transformaria num organismo com maior influência internacional, de acordo com informações divulgadas pela rede de notícias Al-Jazira. Os detalhes, porém, só serão anunciados durante a cúpula de Túnis, acrescentou Maher.
A Liga Árabe foi fundada em 1945 por sete países: Arábia Saudita, Egito, Iêmen, Iraque, Jordânia, Líbano e Síria. Hoje, engloba os 22 governos árabes: além desses sete, Argélia, Bahrein, Catar, Djibuti, Emirados Árabes Unidos, Ilhas Comores, Kuwait, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, Somália, Sudão e Tunísia. O organismo surgiu logo após o fim da Segunda Guerra Mundial para criar um fórum permanente de cooperação econômica, cultural, política e social entre os países árabes.
América do Sul
A reunião entre os chefes de governo árabes e sul-americanos está prevista para acontecer em dezembro, no Brasil. O anúncio foi feito pelo presidente Luiz Inácio Lula a Silva, em discurso durante a visita de Lahoud ao país. Foi a primeira vez que Lula fixou uma data para o evento – até então, o Itamaraty havia informado apenas que a reunião havia sido adiada do primeiro para o segundo semestre deste ano.
O encontro foi proposto pelo próprio Lula. No ano passado, o governo brasileiro enviou cartas-convite a todos os chefes de governo dos 22 países árabes e, durante sua viagem ao Oriente Médio e Norte da África, em dezembro de 2003, o presidente conversou pessoalmente sobre o assunto com os líderes de países com quem se encontrou.
Em janeiro deste ano, ocorreu em Genebra, na Suíça, a primeira reunião preparatória para o encontro, que contou com a participação de 18 dos 22 países árabes.