São Paulo – A líbia Hala Bugaighis está há seis anos trabalhando pela inclusão econômica das mulheres. Enquanto isso, em outro país árabe, a Palestina, Maysoun Odeh Gangat dirige há mais de uma década a primeira rádio feminina da região, fundada por ela, a Nisaa FM. Apesar de viverem em nações distintas, as duas identificaram muitas similaridades em suas trajetórias quando falaram no webinar “Mulheres Árabes que Inspiram”, promovido pelo comitê feminino da Câmara de Comércio Árabe Brasileira neste Dia Internacional da Mulher, 08 de março. Na foto acima, Bugaighis e Gangat, respectivamente.
Na data, a historiadora Silvia Antibas, diretora cultural da Câmara Árabe, lembra a importância de ver as árabes como plurais. “Costumo falar que não existe uma mulher árabe, existem várias mulheres árabes, cada uma com influência da sua região, cada uma com a sua experiência”, destacou Antibas.
Da Líbia, a incubadora
É essa pluralidade que Hala Bugaighis busca apoiar com seu trabalho. No Líbia, onde 90% dos recursos vêm do petróleo, ela percebeu o papel protagonista das mulheres para movimentar os ganhos das famílias. “Nos anos 90, começamos a ver mulheres de negócios. Professoras, doutoras, engenheiras, médicas. As mulheres começaram a ser donas de empreendimentos. Isso veio, muitas vezes, da necessidade. As mulheres precisavam dar suporte econômico às suas famílias”, contou Bugaighis, que é formada em Direito Comercial e tem ela própria uma veia empreendedora que a fez fundar duas marcas com objetivo social.
A líbia é feminista e criou o Jusoor Center for Studies and Development, um laboratório que trabalha com desenvolvimento econômico e em prol da inclusão econômica das mulheres. Entre as ações desenvolvidas por ela, está uma feira de empregos. “Foi um grande sucesso, conseguimos encontrar oportunidades de emprego para quase três mil mulheres”, contou.
Em 2018, Bugaighis fundou, também, a Leap, a primeira incubadora de mulheres de negócios em Trípoli, capital da Líbia. Com a incubadora, a feminista conseguiu dar suporte a mais de 850 mulheres, incubando 130 startups diferentes. “Na Leap, prestamos apoio a mulheres durante um período muito difícil que é abrir um empreendimento. Damos segurança para essas mulheres que muitas vezes estão em situação vulnerável”, explicou a líbia, lembrando que o trabalho vem crescendo em empreendimentos virtuais, como e-commerces.
Da Palestina, a rádio
A independência financeira de mulheres também é um dos pilares do trabalho desenvolvido pela palestina Maysoun Odeh Gangat. “Eu sempre acredito que se a mulher tem empoderamento econômico, ela pode ser empoderada em tudo. Trabalhamos muito nesse conceito. Ao longo de quadro ou cinco projetos, trabalhamos com empreendedoras da Palestina e tínhamos campanhas online e pela rádio para os produtos dessas mulheres. Além disso, treinamos elas para se pronunciarem. E vimos um aumento de venda desses produtos específicos por causa dos depoimentos das mulheres”, destacou.
Outro trabalho da rádio joga luz sobre o problema da violência de gênero. “Estamos trabalhando muito com ONGs de mulheres para diferentes campanhas justamente para falar disso. Também estamos pressionando bastante o governo pela aprovação da lei de proteção da família, que ainda não foi aprovada”, explicou a empreendedora. A lei dará respaldo a mulheres e mesmo crianças que sofreram violência doméstica no país.
A palestina lembra que, em 2009, quando a rádio foi fundada, foi preciso de tempo e dedicação para explicar que o trabalho era voltado para equidade. “Foi um conceito que incomodou algumas pessoas daqui. Eles achavam que estávamos construindo uma revolta contra os homens, mas conforme o tempo foi passando, eles viram que essa rádio é incrível e estava trabalhando com igualdade social e justiça”, explicou.
A Nisaa FM foi criada com o apoio da a Womanity Foundation. Além da programação para o rádio, a marca também produz conteúdo multimídia em seu site. A rádio já ganhou prêmios e bolsas como Ashoka Fellowship, Synergos Fellowship e o Clinton Global Initiative Fellowship. A própria Gangat foi a primeira palestina a receber o Schwab Fellowship, além do Prêmio Presidente Mahmoud Abbas.
O evento virtual também contou com as integrantes do WAHI Alessandra Frisso, que é presidente do comitê, e a Claudia Yazigi Haddad, uma das diretoras do gruo, além de diretora da Câmara Árabe. A moderação do painel foi feita pela gerente de Relações Institucionais da entidade, Fernanda Baltazar, que também faz parte do WAHI.
Leia outra reportagem sobre o webinar:
No Brasil e mundo árabe, pandemia afetou vida das mulheres
Assista ao evento completo: