Alexandre Rocha
São Paulo – Entre as cinco maiores empresas exportadoras do Brasil, a única que teve queda nas suas vendas externas em 2003 foi a Embraer. No ano passado, a receita de exportações da companhia ficou em US$ 2,007 bilhões. Com isso ela perdeu a segunda colocação no ranking para a Vale do Rio Doce e ficou em terceiro lugar.
No entanto, na avaliação de especialistas em comércio exterior, as vendas de aviões da empresa de São José dos Campos, no interior de São Paulo, vão voltar a crescer em 2004 e existem possibilidades de negócios nos países árabes.
“O Oriente Médio tem possibilidades muito boas para a Embraer”, disse Ozilio Silva, ex-diretor da empresa que hoje atua como consultor e trader no mercado de aviação. Em sua avaliação, as curtas distâncias entre os países da região são ideais para os jatos regionais produzidos pela companhia.
O próprio presidente da Embraer, Maurício Botelho, já confirmou que conversas têm sido mantidas com empresários da região, mais especificamente dos Emirados Árabes Unidos. No entanto, ainda não existem negócios fechados.
Queda nas vendas
A queda na receita de exportações da empresa foi causada pelo menor número de entregas ocorridas nos últimos quatro anos. No ano passado, a empresa entregou 101 aeronaves, contra 131 em 2002, 161 em 2001 e 160 em 2000.
“Infelizmente por causa de dois aviões nós caímos de 2º para 3º lugar no ranking das exportadoras. Mas nesse ano a gente vai recuperar a posição, podem ter certeza”, disse o vice-presidente executivo corporativo da Embraer, Antonio Luiz Pizarro Manso.
De acordo com Botelho, o mercado da aviação ainda não conseguiu sair da crise deflagrada pelos atentados de setembro de 2001 em Nova York e Washington e as grandes companhias aéreas continuam a amargar prejuízos.
Além disso, segundo relatório divulgado pela empresa na semana passada, contribuíram para a queda nas vendas a epidemia de pneumonia asiática (Sars) ocorrida no ano passado que, na avaliação do executivo, teve um forte impacto no transporte aéreo na Ásia e em suas conexões com o Ocidente, a guerra no Iraque e o crescimento “abaixo do esperado” da economia mundial.
A Embraer esperava entregar 148 aviões no ano passado, no entanto foi surpreendida pelo adiamento e a suspensão de pedidos por parte de duas companhias aéreas, a Express Jet (Continental Express) e a Swiss.
Além disso, ocorreu um atraso na certificação (habilitação para operação comercial) do Embraer 170, avião da nova família de jatos regionais da empresa, que estava prevista para ocorrer no segundo semestre de 2003, assim como as primeiras entregas. A certificação, pelas autoridades aeroviárias do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa, só ocorreu em fevereiro deste ano e as primeiras unidades foram entregues para a Lot Polish, a US Airways e a Alitalia no início de março.
Por causa da queda nas vendas, o faturamento da Embraer expresso em reais caiu 15,2% entre 2002 e 2003, passando de R$ 7,75 bilhões para R$ 6,57 bilhões. O lucro líquido, por sua vez, teve uma queda de mais de 50%, de R$ 1,18 bilhão para R$ 587,7 milhões.
Na outra ponta, a Embraer foi a segunda maior importadora do Brasil em 2003, atrás apenas da Petrobras. A empresa importou o equivalente a US$ 1,3 bilhão, 6,7% a mais do que em 2002.
Recuperação
Ozilio Silva acredita, no entanto, em uma recuperação do mercado em 2004, “mas não ainda um crescimento extraordinário”. A Embraer, no entanto, prevê a entrega de 160 aeronaves este ano e mais 170 em 2005. Botelho nutre certo otimismo com a possibilidade uma retomada de interesse do mercado financeiro internacional pelo setor, o que possibilitará mais financiamentos para as compras das linhas aéreas.
Por enquanto boa parte das exportações da empresa, mais de 50%, é financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O executivo acredita que o faturamento da empresa terá um crescimento “acentuado” em 2003, porque além do aumento no número de entregas vão fazer parte da pauta os modernos 170, aviões mais caros do que os jatos ERJ 145 que hoje representam o grosso das vendas da companhia.
Modelos
A Embraer fabrica hoje duas famílias de jatos comerciais para transporte de passageiros, a 145, cujos aviões têm capacidade para carregar entre 37 e 50 pessoas, e a 170/190, com aeronaves que têm entre 70 e 118 assentos.
Da família mais nova, a única aeronave que já está habilitada para operar comercialmente é o Embraer 170, que tem capacidade para carregar entre 70 e 78 passageiros. Ontem (23) mesmo a assessoria de imprensa da companhia anunciou que a americana Republic Airways Holdings firmou contrato para a compra de 13 unidades do 170, que serão entregues entre o terceiro trimestre deste ano e primeiro trimestre de 2005. O valor das encomendas é de US$ 325 milhões.
O segundo avião da família é o Embraer 175, que pode ser configurado para receber entre 78 e 86 assentos. A campanha de testes em vôo da aeronave foi iniciada em junho do ano passado e a empresa espera receber a certificação no último trimestre de 2004.
No início de fevereiro foi lançado o Embraer 190, maior avião já produzido até hoje pela companhia, com capacidade para carregar até 108 passageiros. Ele fez seu vôo inaugural na primeira quinzena de março. A certificação do modelo é esperada para o terceiro trimestre do próximo ano.
O último avião da família, o Embraer 195, ainda não foi lançado oficialmente. Ele poderá transportar até 118 pessoas. O vôo inaugural da aeronave está programado para ocorrer no terceiro trimestre deste ano e a certificação está prevista para o segundo trimestre de 2006.
Se as grandes linhas aéreas continuam a amargar prejuízos, como disse Botelho, a Embraer aposta todas a suas fichas no crescimento das empresas de aviação regional e das que praticam tarifas de baixo custo. A diretoria da Embraer acredita que o perfil dos serviços dessas companhias vai demandar aviões como os produzidos em São José dos Campos.
Além das aeronaves comerciais, a Embraer fabrica também os jatos executivos Legacy, que têm capacidade para carregar até 16 passageiros na versão Executive e 37 no modelo Shuttle. Estes aviões podem ser configurados de acordo com o gosto do freguês.
A empresa atua também na área de defesa. Em dezembro foi entregue a primeira unidade do ALX Super Tucano para a Força Aérea Brasileira (FAB). O avião é um turboélice desenvolvido para o treinamento de pilotos e ataque rápido.
Além disso, a companhia produz três modelos de aeronaves para vigilância marítima, do ar e do solo baseadas no ERJ 145.
Fábricas
No Brasil a Embraer tem três unidades industriais, a de São José dos Campos, uma outra em Botucatu e a mais nova em Gavião Peixoto, todas no interior de São Paulo. A empresa tem ainda uma fábrica na China, a Harbin Embraer, na verdade uma joint-venture com a China Aviation II que produz o ERJ 145 em solo chinês.
No exterior ela mantém ainda escritórios de vendas e serviços de pós-venda nos Estados Unidos, França, Austrália, China e Cingapura. Até o final de dezembro de 2003 a empresa empregava 12.941 funcionários.
Site da empresa
www.embraer.com.br