São Paulo – “Nós, mulheres de hoje, não deixamos de ser Candaces”, explicou Ana Cristina Neves, matriarca da família paulistana que criou a marca Candaces Moda Afro (foto acima). O nome veio de pesquisa que chegou ao reino matriarcal que governava uma região africana ao sul do Egito, que hoje faz parte do Sudão. “Fizemos um paralelo com nossa família e o trabalho. Somos as rainhas modernas”, contou Sandra das Neves Souza, filha de Ana Cristina e uma das mulheres que produz as peças.
A marca surgiu em 2013, e desde o início as peças foram feitas pelas irmãs Sandra, Samara e Daniela, e a mãe, Ana Cristina. “A moda vem muito da minha mãe. Ela vendia bolsas e eu resolvi ajudar, vendendo brincos. Mas, na feira em que expomos, as pessoas perguntavam mais das roupas que usávamos”, revelou Sandra.
Importando tecidos africanos, elas começaram com uma produção de apenas 20 peças por semana, mas hoje chegam a 70. “É uma forma de resistência mesmo. A gente tem uma história de vida um pouco mais dolorosa. Da dificuldade enquanto mulher preta, nordestina e semianalfabeta. Nunca fiz curso de design de moda e estou conseguindo viver com esse meu trabalho”, completou Ana Cristina.
Os tecidos coloridos e com estampas étnicas seguem chamando a atenção de clientes e produtores de eventos. Em São Paulo, elas já participaram da Feira Preta e da Mostra de Criadoras em Moda: Mulheres Afro-Latinas, que resultou em um desfile nas ruas próximas ao Sesc 24 de Maio, na região central da cidade. “Fizemos um trabalho coletivo, com mais quatro ateliês. O mais bacana é que foram mulheres de todos os estilos, negras, gordas, não necessariamente modelos, desfilando a céu aberto”, conta Sandra.
A confecção começou com a mão de obra da família e segue sendo feita em casa. Já os tecidos vêm de longe. São africanos e o fornecedor principal é de Angola, de onde vem em torno de 80 peças de tecido por mês. Hoje, elas contam com mais uma mulher que costura e torna possível a expansão do trabalho.
As empreendedoras ainda não têm loja física em São Paulo, e trabalham vendendo e divulgando as criações através das redes sociais. “Temos esse ideal, mas ainda não conseguimos o espaço pelo alto custo. O que já estamos levando é a marca para Salvador, na Bahia, em um espaço coletivo”, celebra Sandra, que se prepara para, em novembro e dezembro, realizar oficina no Sesc Santo André, na região metropolitana de São Paulo, e levar adiante a criação de roupas com a inspiração nas rainhas Candaces.
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