São Paulo – O produto sai do Brasil, chega no Egito para ser processado e é exportado para outros mercados internacionais, para onde vai com tarifa zero ou reduzida. O convite para que empresários brasileiros se beneficiem desse modelo de produção e comércio foi apresentado nesta quinta-feira (16) no seminário “Acordo Mercosul-Egito: panorama de mercado após dois anos de sua entrada em vigor”, na Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na capital paulista.
O tratado de livre comércio entre o Egito e o Mercosul entrou em vigor em setembro de 2017 e os egípcios pretendem que os países do bloco se beneficiem também de seus acordos com outras partes do mundo e ajudem a encorpar a produção do país árabe. O cônsul Mohamed Elkhatib (foto acima), chefe do escritório comercial do Egito em São Paulo, afirmou que tanto os países do Mercosul podem fazer exportações diretas ao Egito, se beneficiando da isenção ou queda de tarifas do acordo, como podem fazer a exportação indireta a outros mercados, via Egito.
“Se o produto é de origem egípcia entra em 77 países sem taxa”, falou o cônsul aos presentes. Para que o produto seja considerado egípcio e com isso possa usufruir dos benefícios dos acordos do Egito com outras regiões do mundo, precisa ter um percentual de nacionalização, ou seja, boa parte dele precisa ter sido produzida no Egito. Por isso, a ideia é que o Brasil exporte o insumo ou os produtos inacabados para que sejam finalizados no país árabe.
O percentual de origem exigido para que um produto tenha benefício tarifário varia em cada acordo. O Egito tem tratado com várias regiões do mundo, desde a União Europeia, até a Turquia, os demais países árabes e africanos. Um dos acordos é a Greater Arab Free Trade Area (Gafta), que engloba 18 países árabes. Para que um produto egípcio tenha benefício tarifário ele precisa de 40% de nacionalização.
O Egito é parte também do Mercado Comum da África Oriental e Austral (Comesa), que inclui 15 países africanos, entre eles Burundi, Quênia, Malawi, Ruanda, Madagascar, Uganda, Seychelles, Zâmbia e Zimbábue. Neste caso, para ser beneficiada pelo acordo, a mercadoria precisa ter 35% de origem egípcia. O Egito é o único pais árabe que tem tratado de livre comércio em vigor com o Mercosul.
Os dados sobre os acordos que o Egito tem com o mundo foram apresentados pelo diretor geral de Acordos de Comércio Bilaterais do Ministério do Comércio e Indústria do Egito, Michael Gamal Kaddes. Ele mostrou como o comércio do Egito com os países com os quais tem tratados evoluiu. Com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), que inclui Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, o comércio saiu de US$ 241 milhões em 2005 para US$ 1,2 bilhão em 2017, segundo números mostrados por Gamal.
Gamal e Elkhatib expuseram alguns dados mostrando o crescimento e tamanho da economia egípcia. O país árabe executa o plano Visão 2030, que pretende colocar o Egito entre as maiores economias em desenvolvimento do mundo, segundo o cônsul. O Egito tem 36 mil estabelecimentos industriais, principalmente dos setores têxtil e de vestuário, alimentação, engenharia e eletrônica, indústria química, papel e madeira. Segundo Elkhatib, o país tem custos menores de mão de obra e de eletricidade do que o Brasil.
O Egito tem grandes projetos de infraestrutura, entre eles a construção de uma nova capital, com investimentos de US$ 45 bilhões, a criação de três novas plantas de produção de energia no valor de 8 bilhões de euros, a construção de 4.800 quilômetros de rodovias, entre outros. O país vem fazendo progressos na economia, apoiado por um programa amplo de reformas.
Gamal e Elkhatib falaram ainda sobre outros temas no seminário, que teve palestras do presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, e da gerente de relações institucionais da entidade, Fernanda Baltazar. Em espaço para conversa com o público falaram também o secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansour, e a diretora do Departamento de Américas e Europa do Setor de Acordos de Comércio do Ministério do Comércio e Indústria do Egito, Rania Hagrass. Participaram outros membros da diretoria da Câmara Árabe, como o vice-presidente de Comércio Exterior, Ruy Cury, o diretor William Atui e a diretora cultural, Silvia Antibas.
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