São Paulo – O ministro de estado dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos, Shakhboot bin Nahyan Al Nahyan (imagem acima), afirmou nesta quarta-feira (01), no Fórum Brasil África, promovido pelo Instituto Brasil África e realizado em um hotel em São Paulo, que seu país pode cooperar mais com Brasil e África em setores como agricultura e desenvolvimento sustentável. Os Emirados, disse Al Nahyan, já têm projetos no agronegócio em parceria com o Brasil e enxergam o País como um protagonista na transição para a energia limpa. O secretário de África e Oriente Médio do Ministério das Relações Exteriores, Carlos Sobral Duarte, afirmou que o Brasil alcançou um amplo desenvolvimento agrícola e pode ampliar suas parcerias com as nações africanas.
Em seu discurso no fórum, Al Nahyan afirmou que os Emirados Árabes têm o desafio de escassez de água e de terras para plantio, mas que desenvolve em parceria com o Brasil projetos capazes de auxiliar o país em busca da segurança alimentar. Disse que os Emirados têm US$ 70 bilhões investidos em energia renovável e enxerga para o futuro uma parceria ainda mais próxima com Brasil.
“Brasil e África devem se tornar fundamentais para a economia mundial em breve. Por exemplo, no continente africano vemos grande crescimento das economias, há muitos jovens, é a região com maior potencial para crescimento em tecnologia. Existe muito mais que Brasil e África podem oferecer à comunidade global e os Emirados Árabes Unidos estão em posição de fazer as parcerias entre Oriente e Ocidente”, disse.
Sobral observou que Brasil e África têm semelhanças em comum e, portanto, relações diplomáticas, comerciais e de cooperação já estabelecidas. No entanto, há a necessidade de se reaproximar dos países africanos e, para tal, afirmou, o Itamaraty e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm realizado movimentos que colocam o Brasil em contato com os países africanos. Com eles, disse Sobral, há diversos caminhos de desenvolvimento comum e há a perspectivas de realizar viagens presidenciais às nações africanas em 2024.
Sobral disse que a cooperação com a África pode ocorrer em “três dimensões”: “A primeira é a agricultura. Segurança alimentar é fundamental e o Brasil como grande produtor agrícola tem nessa dimensão um vínculo natural com África. Segundo, a saúde: o Brasil tem uma atuação forte na área de saúde e farmacêutica. E terceiro lugar, na transição energética. “O Brasil, assim com os africanos, está bem posicionado porque pode fazer transição energética mais suave. E países africanos também demonstram interesse no Brasil, no campo agrícola”, afirmou.
Sustentabilidade em foco
No painel “Transição energética no Brasil e na África: impacto no comércio e no desenvolvimento,” o debate em torno do desenvolvimento sustentável apresentou caminhos para enfrentar a questão climática ao mesmo tempo em que se promove o crescimento de um continente que precisa avançar para solucionar seus desafios.
“Se lá atrás tivéssemos lidado com a pobreza energética, o debate hoje não seria tão difícil. Hoje em dia, 90% da população depende de combustíveis fósseis e precisamos encontrar equilíbrio sobre como lidar com essas questões. Nosso alvo para zerar as emissões é para 2060. O que vamos fazer de 2023 até 2060? Se não encontrar o equilíbrio correto, você pode limitar o seu desenvolvimento”, disse o chefe negociador da Nigerian Office of Trade Negotiations, Yonov Fred Agah.
O diretor-geral de Itaipu Binacional, Enio Verri, apontou para as oportunidades que a transição energética apresenta, principalmente para países ricos em recursos naturais, como o Brasil e as nações africanas. “Brasil e África têm lítio (um metal utilizado para produção de baterias), mas Brasil e África não podem ser exportadores do lítio commodity. Vejo um potencial de parceria de construção de desenvolvimento a partir da inovação tecnológica e agregação de valor fantástico“, afirmou.
As fronteiras do turismo
No painel “O turismo como vetor de desenvolvimento e dinamização do comércio internacional”, o presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo, afirmou que o turismo é responsável por 8% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, enquanto o setor petrolífero, que consome uma quantidade maior de investimentos, responde por 12% do PIB. Para Freixo, existe potencial para se desenvolver o turismo no Brasil com um olhar que seja ético, com respeito ao ambiente, e estratégico, ao ser um gerador de empregos e de renda.
Diretora de Assuntos Corporativos, Regulatórios e Sustentabilidade da Latam Brasil, Maria Elisa Curcio observou que a empresa retomou o voo direto entre São Paulo e Joanesburgo, na África do Sul, o que permite à empresa se conectar com outros voos no continente. “Conseguimos conectar a partir da África do Sul, mas existe uma super oportunidade para levar brasileiros para a África e trazer nossos irmãs africanos para o Brasil”, disse, citando que não existem hoje voos diretos para a “África do Norte”.
Há voos diretos de passageiros atualmente entre o Brasil e Angola e Brasil e Etiópia, operados por empresas daqueles países. Curcio observou que as oportunidades nas conexões aéreas vão além da troca de passageiros, pois os aviões transportam cargas, que podem contribuir para o incremento da balança comercial. Ela adiantou que a empresa avalia abrir duas novas rotas para a África, sendo uma delas para Angola.