São Paulo – Neste sábado (26), o Museu da Imigração, na capital paulista, foi local para descendentes de árabes relembrarem as histórias dos seus antepassados. O museu promoveu, em parceria com a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, a comemoração do Dia Nacional da Comunidade Árabe, cuja data oficial é 25 de março. Na foto acima, cena de filme exibido no evento.
Na programação estiveram o lançamento de um link de acesso a registros da história da imigração árabe, a apresentação de dados de uma pesquisa sobre a presença árabe no Brasil e a exibição de curtas-metragens. O grande tom do evento foi a rememoração de histórias de pais e avós. Elas estiveram presentes tanto nos documentários quanto nas palestras das lideranças e dos envolvidos com os projetos apresentados.
Diferentes de europeus, que vieram ao Brasil com subsídios dos governos para trabalhar nas lavouras, os árabes se mudaram espontaneamente, especialmente em busca de oportunidades. A maioria trabalhou com o comércio. A data do Dia Nacional da Comunidade Árabe foi escolhida em função do nome da rua 25 de Março, na capital paulista, onde eles estabeleceram as primeiras lojas.
No evento no museu, o presidente da Câmara Árabe, Osmar Chohfi, contou brevemente a história dos seus dois avôs que chegaram ao Brasil vindos da Síria, onde eram comerciantes. Um deles abriu uma loja e o outro mascateou inicialmente. “Todos nós que somos descendentes de sírios, libaneses ou palestinos temos histórias parecidas a essa das minhas duas famílias”, disse.
A diretora cultural da Câmara Árabe, Silvia Antibas, também lembrou fatos da sua família. O pai de Antibas tem sua mala de mascate no Museu da Imigração, para o qual foi doada. Ela relatou que na chegada de um imigrante, ele recebia instruções sobre a moeda local e mercadorias para comercializar. “Meu pai fez isso com sete anos de idade. Explicaram a moeda e meu pai foi vender balão. Ele desceu em Niterói”, disse.
A coordenadora do Projeto de Digitalização da Memória da Imigração Árabe no Brasil, Heloisa Dib, convocou os presentes a ajudarem a manter as histórias da imigração vivas por meio da preservação das fotos, documentos e publicações. Os materiais contêm informações sobre a viagem dos imigrantes, como eles viviam no país de origem, o que produziam por lá. “Nós aqui só sabemos o que eles contavam, e era pouco”, afirma.
Os presentes puderam conhecer também o tamanho da comunidade árabe no Brasil. A diretora da Câmara Árabe e da H2R Pesquisas Avançadas, Alessandra Frisso, disse que eles representam 6% da população brasileira e somam 12 milhões de pessoas. O dado é de pesquisa feita pela H2R e o antigo Ibope Inteligência a pedido da Câmara Árabe. Os árabes e descendentes exercem papel de protagonismo na sociedade brasileira, segundo a pesquisa. Entre líderes de associações no Brasil, os árabes são 26%.
Lançamento do Projeto
No evento foi aberto oficialmente o acesso a 100 mil peças digitalizadas pelo Projeto de Digitalização da Memória da Imigração Árabe no Brasil. São fotos e páginas de publicações elaboradas pelos primeiros imigrantes árabes no Brasil que foram digitalizados pelo projeto. Pesquisadores e interessados no tema podem acessar o catálogo da coleção neste link e solicitar os materiais por meio do e-mail reference@usek.edu.lb.
Saiba mais sobre o projeto: Conheça as memórias da imigração árabe
A iniciativa integra proposta da Universidade Saint-Esprit de Kaslik (Usek), do Líbano, de preservação da memória da imigração árabe na América Latina, por meio do Centro de Estudos e Culturas da América Latina (Cecal), dirigido pelo historiador Roberto Khatlab. No Brasil, a Usek tem a parceria da Câmara Árabe para levar o projeto adiante. O acesso ao acervo com materiais de outros países da América Latina também já está aberto.
Filmes
Na exibição de curtas-metragens também foi possível conhecer mais da história da imigração árabe no Brasil. As histórias mostradas trouxeram relatos de pessoas contando sobre seus antepassados e a história da imigração. Os filmes foram selecionados em concurso promovido pela Câmara Árabe. Neste domingo, como parte da comemoração, a peça teatral “Cartas Libanesas” poderá ser vista no YouTube do Museu da Imigração.
Museu da Imigração
A diretora-executiva do Museu da Imigração, Alessandra Almeida, disse esperar que a parceria com a Câmara Árabe nas celebrações do Dia Nacional da Comunidade Árabe siga. “Espero que nos próximos anos continuemos a ser sede desta data, dada a contribuição que os árabes deram para o desenvolvimento do Brasil”, disse ela.
O gestor do Centro de Preservação, Pesquisa e Referência do Museu da Imigração, Henrique Trindade Abreu, disse que não era tão comum a presença dos árabes na Hospedaria dos Imigrantes – lugar que recebia imigrantes em São Paulo e que deu lugar ao museu – mas que algumas centenas deles passaram pela hospedaria.