Giuliana Napolitano
São Paulo – O Brasil e a Palestina mantêm relações diplomáticas há quase 30 anos, desde que a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) se estabeleceu no país. Hoje, o balanço desse relacionamento é "extremamente positivo", afirma o embaixador-chefe da Delegação Especial da Palestina no Brasil, Musa Odeh. "Somos tratados como amigos", declarou.
Segundo Odeh, o Brasil votou favoravelmente à Palestina em todas as resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU) que envolveram a questão do Oriente Médio, desde 1974. "Nunca esqueceremos esse apoio", disse à ANBA, durante visita à Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, na última sexta-feira (7).
O Brasil e a Palestina iniciaram um relacionamento formal em 1975, quando a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) foi reconhecida como representante legítima do povo palestino. Em 1993, foi instituída a Delegação Especial da Palestina no Brasil, que possui hoje status diplomático.
Para Musa Odeh, a posição brasileira em relação à Palestina é também reflexo da proximidade entre o Brasil e os países árabes. "Existem aqui mais de 10 milhões de brasileiros de origem árabe, e isso cria uma ponte entre o Brasil e a terra natal de seus ancestrais", lembra.
Daqui para frente, acredita o embaixador, "esses laços devem se fortalecer". A avaliação se deve não apenas à visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Oriente Médio e Norte da África, programada para dezembro, mas à intenção do governo brasileiro de organizar a primeira reunião de cúpula entre os chefes de estado de países árabes e sul-americanos, em 2004.
"São acontecimentos históricos", afirmou Odeh. "Lula será o primeiro presidente brasileiro a fazer uma visita oficial aos países árabes desde Dom Pedro II. E a iniciativa da reunião de cúpula também é inédita", disse o embaixador.
O embaixador elogiou também a intenção do governo Lula de pleitear uma vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU. "O Brasil trará mais equilíbrio ao Conselho", declarou. "É inadmissível que não haja no Conselho um representante da América Latina ou da África, por exemplo" acrescentou.
Economia destruída
No campo comercial, não existem números precisos sobre o intercâmbio entre os parceiros. Isso porque, afirmou Odeh, a Palestina "está ocupada por Israel, que controla suas fronteiras, portos e tráfego aéreo". "Mas é fácil perceber a presença de produtos brasileiros em mercados e feiras", ressaltou. Os principais, segundo ele, são café, açúcar, doces e mármore.
Musa Odeh afirmou ainda que, desde o início da Intifada, há três anos, "a economia da Palestina vem sendo destruída". "Essa destruição é o resultado do fechamento e do estado de sítio impostos pelas forças de ocupação de Israel nas cidades palestinas. A infra-estrutura em todo o território palestino ocupado também foi arruinada".
Está paralisado também um dos setores responsáveis por boa parte da dinâmica econômica da região: o turismo. A expectativa da Autoridade Palestina é reativar essa indústria com o fim dos conflitos e a "restauração da estabilidade", disse o diplomata. "Assim, a Palestina terá a possibilidade de desfrutar de seu grande potencial turístico, inclusive seus sítios históricos e religiosos", afirmou. "Queremos receber milhões de visitantes e turistas por ano".
Exportação de artesanato religioso
A crise no turismo prejudicou outro setor típico palestino: o de artesanato religioso. Nesse caso, porém, os palestinos encontraram uma saída: o mercado externo. As peças de motivos religiosos – principalmente cristãos, segundo o embaixador -, que antes da Intifada eram vendidas aos turistas, agora são exportadas.
Segundo Musa Odeh, os Estados Unidos e alguns países da Europa isentam esses produtos de tributos, como forma de contribuir para a economia da região. Ele informou que a Palestina pretende negociar um acordo do mesmo tipo com o Brasil. O objetivo é criar uma feira permanente de artesanato na cidade de Aparecida do Norte, tradicional pólo religioso que fica no interior de São Paulo.

