Giuliana Napolitano
São Paulo – Se o desempenho do Brasil no setor de turismo está bem abaixo do que governo e empresários desejam, os resultados em relação aos países árabes são ainda mais preocupantes. Nos dois casos, porém, a previsão é de crescimento para os próximos anos.
Em 2002, o Brasil recebeu 3,8 milhões de turistas. Desse total, apenas 7,1 mil, ou 0,2%, vieram do Oriente Médio (excluindo Israel). A expectativa do governo é chegar a um fluxo de 9 milhões de visitantes estrangeiros em 2007 e de aumentar as visitas de turistas árabes ao país em, pelo menos, cinco vezes.
"Queremos colocar um aumento de 125% em todos os destinos. Mas, no caso do Oriente Médio, como os números são muito baixos e o mercado tem um grande potencial, esperamos um fluxo de cinco a seis vezes maior", afirmou o presidente da Embratur, Eduardo Sanovicz, em entrevista à ANBA.
O primeiro passo para pôr o projeto em prática será a participação da Embratur e do Ministério do Turismo na Semana do Brasil (Brazilian Week & Trade Exhibition), programada para 7 a 9 de dezembro em Dubai, que fica nos Emirados Árabes Unidos e é o principal pólo comercial e turístico do Golfo Arábico.
Segundo Sanovicz, oito empresas brasileiras do setor turístico participarão da feira, entre elas, a Varig Travel, a Brasil Guide Turismo. O objetivo, informou, é "aumentar o volume de turistas ao Brasil, diversificar as razões que podem fazer esses visitantes virem ao país e também captar investimentos de empresários árabes para a parte de infra-estrutura turísticas (hotéis, eventos etc.)".
Para atrair os recursos árabes, o Ministério do Turismo irá apresentar em Dubai uma série de projetos nacionais do setor. Um deles será o Projeto Turístico do Cabo Branco, complexo hoteleiro que será construído em João Pessoa, na Paraíba. A intenção do governo estadual com o projeto, que ocupará uma área de mais de 100 hectares, cercados por 517 hectares de Mata Atlântica e falésias, é concorrer com a Costa do Sauípe, na Bahia, e com Porto de Galinhas, em Pernambuco.
Vôos diretos
Durante a viagem aos países árabes, Sanovicz disse que também irá a Beirute, no Líbano, para se reunir com o presidente da Middle East Airlines (MEA). Recentemente, a empresa aérea anunciou a possibilidade de criar um vôo entre São Paulo e Beirute, com escala na Costa do Marfim.
O novo serviço é visto como mais um fator que pode estimular ao turismo entre os parceiros. Isso porque não existem rotas diretas entre o Brasil e o Oriente Médio – para viajar a região é preciso fazer conexão em algum aeroporto europeu.
O serviço será único. Hoje não existem rotas diretas entre o Brasil e o Oriente Médio, e isso é apontado como uma das causas do baixo fluxo de turistas entre os parceiros.
Desconhecimento
Mas um dos principais motivos do baixo intercâmbio turístico entre o Brasil e os países árabes é o desconhecimento – assim como acontece em vários setores da economia. O próprio Sanovicz, que atua na indústria turística há cerca de 16 anos e hoje comanda o órgão responsável pela promoção turística do Brasil no exterior, disse não conhecer o mercado árabe.
"Nunca estive no Oriente Médio para fazer negócios", declarou. "Mas nossa intenção é voltar dessa viagem aos países árabes com informações para direcionar nossa estratégia para a região", ponderou.
Sem marketing
De maneira geral, o Brasil recebe poucos turistas estrangeiros. Em 2002, o fluxo foi de apenas 3,8 milhões de visitantes, de acordo com o relatório da Organização Mundial do Turismo (OMT). Para se ter uma idéia, o México recebeu quase 20 milhões de turistas no mesmo período.
No ranking internacional, o Brasil ainda fica atrás da Tunísia, que recebeu 5 milhões de turistas no ano passado, da África do Sul (6,6 milhões) e até dos Emirados Árabes (5,4 milhões).
Nos primeiros anos do Plano Real, com o aumento das viagens de brasileiros para o exterior, motivados pelo câmbio valorizado, a conta turismo do país (que computa as receitas e despesas externas do setor) chegou a ser negativa em quase US$ 3 bilhões. No ano passado, o saldo foi positivo em US$ 740 mil, mas o governo acredita que pode subir a cifra e fazer essa indústria contribuir para o ajuste externo perseguido pelo Planalto.
Para isso, uma das primeiras medidas de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente foi a criação do Ministério do Turismo – antes, uma só pasta cuidava das áreas de turismo e de esportes. "Foi uma iniciativa inédita", disse Sanovicz. Ao mesmo tempo, acrescentou, "o governo decidiu profissionalizar a Embratur".
"Hoje, a Embratur cuida exclusivamente da promoção do Brasil como destino turístico no exterior. Por isso, acreditamos que vamos crescer", afirmou Sanovicz. "O turismo precisa ser visto como qualquer outra atividade econômica, que precisa de marketing, de promoção. Antes, essa indústria não era explorada corretamente, mas agora será", garantiu.
No ano passado, a maior parte dos turistas estrangeiros que desembarcaram no Brasil veio de países da América do Sul: 1,5 milhão. Em segundo lugar, está a Europa, de onde saíram 1,4 milhão de visitantes para o país em 2002. Em seguida, aparecem América do Norte (753 mil), Ásia (81 mil), África (31 mil), Oriente Médio, inclusive Israel (28 mil), Oceania (26 mil) e América Central (21 mil).

