Giuliana Napolitano
São Paulo – O Brasil continua sem vôo direto para o mundo árabe, mas agora há duas companhias aéreas interessadas em criar rotas entre o país e o Oriente Médio. Uma delas é a Middle East Airlines, do Líbano, que já havia levantado a possibilidade no início de 2003. Mais recentemente, a Emirates Airline, dos Emirados Árabes Unidos, também informou que poderá operar uma linha para o Brasil.
As negociações foram feitas durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à região, em dezembro, informou à ANBA o gerente do setor de turismo de negócios da Embratur, Lawrence Reinisch. Segundo ele, ainda não há conclusões definitivas sobre as rotas, mas há interesse das empresas. “A decisão não será imediata, mas tivemos reuniões com a presidência da Middle East e da Emirates e pudemos ver que o assunto vem sendo discutido”, contou.
Reinisch lembrou que já existe um acordo aéreo entre o Brasil e o Líbano. Ou seja, existe autorização oficial para que empresas dos dois países operem vôos bilaterais. Esse é o primeiro passo para a criação das rotas. Agora, está sendo costurado um acordo do mesmo tipo com os Emirados. Segundo ele, a conclusão deve ficar para os “próximos meses”.
Lucro baixo
Quanto ao início dos vôos propriamente, não há prazos definidos. “Depende do interesse das empresas, e é preciso levar em conta que a criação de uma nova rota nem sempre é lucrativa no começo”, ponderou o gerente da Embratur. Ele explicou que, para dar lucro, uma rota precisa fazer de quatro a cinco vôos semanais, mas no início consegue colocar em funcionamento no máximo três vôos por semana.
Por isso, nenhuma companhia brasileira se arrisca a entrar no negócio por enquanto. “As empresas nacionais têm outras prioridades bem mais urgentes agora”, afirma Reinisch.
A situação das empresas árabes, porém, é mais confortável. A Emirates Airline, por exemplo, que já é uma das maiores companhias aéreas do mundo, anunciou no final do ano passado que vai adquirir uma frota de oito Airbus A340-300s. Os aviões devem começar a operar em março. E mais: a empresa tem uma lista de outras 71 aeronaves a serem entregues até 2012 e pretende iniciar, ainda neste ano, vôos diretos para os Estados Unidos, a Escócia, a Europa central, a China e a África oriental.
Mas, além do começo difícil, ainda existe o risco de não haver demanda pelas novas rotas. Foi o que aconteceu nos anos 1990 com a Middle East Airlines. A empresa começou a operar um vôo direto entre São Paulo e Beirute, com escala na Costa do Marfim, em 1995. Mas encerrou a linha três anos depois, porque a procura não compensava os custos. Agora, a companhia estuda retomar essa mesma rota.
O fluxo de turistas brasileiros para o Oriente Médio é baixo: em 2002, segundo a Embratur, foi de menos de 8 mil pessoas. De lá para cá, o número é praticamente o mesmo: cerca de 7 mil visitantes, o que representa apenas 0,2% do total de estrangeiros que vieram ao país no ano. A meta do governo, porém, é aumentar esse total em pelo menos cinco vezes até 2007.
“Com certeza, a criação de vôos diretos vai facilitar a vinda de turistas árabes ao Brasil”, espera o gerente da Embratur. Hoje, para ir a algum país do Oriente Médio ou do Norte da África, é preciso fazer escala na Europa.
Semana do Brasil em Dubai
Os primeiros passos para o crescimento foram dados na Semana do Brasil em Dubai (Brazilian Week & Trade Exhibition), maior evento brasileiro de negócios já realizado num país árabe, que ocorreu de 7 a 9 de dezembro do ano passado nos Emirados.
O Ministério do Turismo e a Embratur tiveram estandes na feira e, além disso, a Embratur levou a Dubai cinco expositores do setor. Entre eles, estavam três operadoras de turismo, isto é, empresas que podem negociar com agências de viagens dos países árabes a venda de pacotes, passagens aéreas etc.: a Brasil Guide Turismo (BGT), a Incentive Travel e a São Paulo Saúde, especializada em turismo de saúde. “O objetivo é trazer pessoas que queiram fazer algum tipo de tratamento no Brasil. O país é reconhecido, por exemplo, pela cirurgia plástica, odontologia, cardiologia e outras especialidades”, explica Reinisch.
Os outros dois expositores foram Alcântara Machado, promotora de feiras, e a Agência de Desenvolvimento da Prefeitura de Guarulhos (SP), que busca investidores árabes para projetos turísticos na cidade.
Lawrence Reinisch admite que a participação brasileira foi pequena. “Esperávamos que cerca de 20 empresas se interessassem”. Mas justifica a baixa adesão ao desconhecimento do mercado. “O mercado árabe ainda é muito novo para os brasileiros, não há tradição. É difícil começar, principalmente porque não há linhas aéreas entre as duas regiões”, diz.
O gerente acredita, porém, que as ações da Embratur e do Ministério do Turismo podem dar resultado a longo prazo. “Na verdade, todos os projetos no setor turístico levam pelo menos dois anos para apresentar os primeiros resultados”, explica. “No caso do mercado árabe, precisa haver mais umas duas ou três feiras até que o destino se consolide”, completa.

