São Paulo – Elis Julião cresceu descalça, subindo em árvores e macerando folhinhas para fazer “remedinhos”, na fazenda onde viveu até seus dez anos, em Porto Seguro, no sul da Bahia. Como os pais não tinham com quem deixá-la, ora seguia o pai, agricultor, pela plantação de pinha, ora colava na mãe, que ficava no escritório, responsável pela contabilidade.
“Ela me colocava para participar do dia a dia, eu contava moedinha, separava notas fiscais, e tinha até meu cofrinho, que volta e meia era esvaziado para pagar alguma coisa”, recorda Elis, aos 31 anos. Tudo virava uma grande farra e, depois, com os primos, ela brincava de empresária e botava todo mundo para trabalhar. “Eu chamava de Indústrias Elisão”, conta, rindo.
Elis cresceu e se mudou para a capital capixaba, Vitória, onde estudou Farmácia na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e vive até hoje. Depois de trabalhar em farmácias, incluindo de manipulação, ela decidiu que queria ter a própria empresa. No meio da pandemia, foi passar uma temporada com o pai na roça, que, a essa altura, tinha trocado a pinha por graviola.
“O objetivo era ajudá-lo a repensar o plantio da fruta enquanto planejava a minha transição de carreira”, diz. Um dia, recebeu do namorado um artigo sobre o uso da graviola em produtos naturais. Gostou do que leu e mergulhou a fundo no assunto. Pouco tempo depois, em 2021, nascia seu primeiro produto, uma espuma facial feita do extrato da polpa da fruta. E, com ele, sua empresa, a Co.re.
Como um negócio nascido na pandemia e feito de uma pessoa só, ele foi estruturado no e-commerce. Hoje, conta com mais um produto, o óleo feito da semente da graviola, que será a base para os seus futuros lançamentos: argila facial e shampoo e condicionador sólidos (em barra). No site da Co.re há ainda acessórios como escova de dente de madeira e rolinho de massagem facial.
O conceito da empresa criada por Elis é “farm to face”, ou seja, da fazenda para o rosto com o mínimo de impacto ambiental e processamentos. Seus fornecedores – do produtor do extrato de óleo ao que faz a confecção de suas embalagens – são escolhidos com o mesmo olhar. “Hoje eu terceirizo a produção com uma fábrica local porque a maior parte das vendas é feita aqui, mas se amanhã eu vender mais para São Paulo, busco uma fábrica lá para reduzir os custos de logística e a pegada ecológica”, explica.
Outra preocupação da empresária é que seus produtos sejam multifuncionais. Ou seja, a espuma de rosto serve para o corpo todo. O óleo de graviola pode ser usado no cabelo, mas também na pele para evitar ressecamento. O óleo, mais leve e cheio de ômegas (3, 6 e 9), é mais fácil de hidratar que o de coco, por exemplo.
Da Bahia para Dubai
À frente de todos os setores da empresa – da criação dos produtos ao marketing (Elis faz até lives no Instagram para promover a marca), a empresária sabia, desde o início, duas coisas: que queria fazer um produto tipo exportação e que seu melhor marketing seria o velho e bom boca a boca. Pensada para ser um produto “para presentear”, a espuma facial começou a ser comprada pelos amigos, parentes e conhecidos que a davam de presente para outros amigos, parentes e conhecidos.
“Essa era a ideia: que uma pessoa impactada pelo produto o apresentasse para outra pessoa, e assim fosse indo até criar um público fiel da marca”. Deu tão certo que em apenas dois anos as vendas superaram sua expectativa inicial.
Assim, por causa do que ela brinca ser “o primo do primo do primo”, suas duas primeiras criações foram parar nos Estados Unidos, Canadá e nos Emirados Árabes Unidos. Uma brasileira que mora em Dubai levou de presente a primeira vez e os presenteados, agora, sempre encomendam quando alguém vem ao Brasil. Essa mesma “embaixadora” da marca pediu que ela fizesse um material em inglês porque os fãs da Co.re já não são apenas da comunidade brasileira de Dubai.
Curiosamente, ela já tinha um folder em inglês porque a mãe de um amigo que tem pousada em Cumuruxatiba, na Bahia, colocou os produtos da Co.re à venda e não estava conseguindo explicar aos seus hóspedes gringos as maravilhas da espuma facial criada por ela.
Hoje, a empresária trabalha na tradução de todo o seu material, a começar pelo site, para facilitar a exportação. Também estuda os trâmites burocráticos e as exigências feitas por cada país para produtos de skincare. Fãs fora do Brasil ela já tem. Agora, é começar a exportar para valer e levar a graviola da roça de sua infância pés descalços para o mundo todo.
Contato:
Co.re
Site: https://www.corenatural.com.br/
E-mail: sac@corenatural.com.br
Whatsapp: +55 (27) 99267 8090
Reportagem de Débora Rubin, especial para a ANBA