Giuliana Napolitano
São Paulo – Uma empresa de Bahrein, com sede fiscal na Inglaterra, vai investir US$ 2,5 bilhões numa refinaria no Espírito Santo. O projeto foi confirmado à ANBA nesta quarta-feira (24) pelo secretário de Desenvolvimento do estado, Julio Bueno. "Essa companhia assinou hoje (ontem) uma carta de intenções com o governo para construir a refinaria", declarou o secretário, que afirmou não poder citar o nome da empresa.
Bueno disse apenas que a firma árabe deve constituir uma empresa no Brasil para o projeto. Segundo ele, a construção está prevista para começar em três meses e a produção, em até dois anos. A previsão é de que a refinaria tenha capacidade para processar 200 mil barris de petróleo por dia.
O secretário reforçou que os investimentos serão "totalmente privados" e virão de Bahrein. "É dinheiro árabe", disse. A Petrobras não terá nenhuma participação no projeto.
Hoje (25), dois representantes da companhia árabe terão reunião em Brasília na Agência Nacional do Petróleo (ANP), para discutir a concessão para a construção da refinaria, de acordo com nota divulgada na noite de ontem pelo governo do Espírito Santo.
Incentivos fiscais
Bueno informou que a negociação com os empresários de Bahrein começou há cerca de um ano. Para ele, a escolha do Espírito Santo é "natural". "Temos petróleo, temos logística e estabilidade institucional para os investimentos", ressaltou. Mas o governo capixaba estuda ainda dar um incentivo extra aos árabes: redução tributária. "Isso está em discussão", explicou Bueno.
O projeto da refinaria foi apresentado também ao secretário especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jacques Wagner, disse Bueno. A área da construção ainda não está definida: avalia-se a possibilidade de a unidade ser erguida na região do Porto de Ubu ou na Barra do Riacho.
Expertise em refino
Sempre de acordo com o secretário, a refinaria processará o petróleo do tipo pesado, o que pode contribuir para solucionar um dos maiores gargalos da indústria petrolífera nacional.
O Brasil hoje está entre os dez países do mundo com as maiores reservas de petróleo, de cerca de 10 bilhões de barris. A maior parte desse óleo, porém, é do tipo pesado. Ao contrário daquele que sai das reservas do Oriente Médio, que é do tipo leve e empregado na produção de combustíveis, o petróleo brasileiro é usado, principalmente, na fabricação de plásticos.
A maioria das 12 refinarias brasileiras, porém, é adaptada para processar o petróleo leve. Isso porque essas unidades foram construídas nas décadas de 1960 e 1970, quando o país importava boa parte do petróleo que consumia. Hoje, porém, o Brasil, que produz cerca de 1,5 milhão de barris por dia, caminha para a auto-suficiência.
De toda forma, a falta de refinarias faz com que o país exporte boa parte do petróleo bruto, que tem preço mais reduzido no mercado internacional. O Bahrein, ao contrário, é expert em refino. Suas reservas são bem menores do que as brasileiras (estão em cerca de 62 milhões de barris) e a produção também (de pouco mais de 40 mil barris por dia), mas todo o óleo exportado é refinado.
Alto PIB per capita
Com uma população de menos de 700 mil habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) de apenas US$ 10 bilhões, o Bahrein tem uma das maiores rendas per capita do mundo, de US$ 16 mil, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), pelo critério de paridade de poder de compra, usado para comparações internacionais. A do Brasil, para se ter uma idéia, está em cerca de US$ 7 mil.
O país está localizado no Golfo Arábico, que concentra as maiores reservas de petróleo da região, mas sua produção é bem inferior à dos países vizinhos. Ainda assim, a economia é baseada na commodity, que representa 60% das exportações e 30% do PIB.
Num esforço para tentar diversificar a economia, o governo tem investido no desenvolvimento de indústrias de alumínio e petroquímica. Além disso, Bahrein também já se firmou como principal centro financeiro do Golfo.
O relacionamento comercial com o Brasil é pequeno. No ano passado, o Bahrein importou US$ 70,8 milhões em produtos brasileiros e não exportou quase nada, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento. Em 2002, o país comprou do Brasil US$ 68,2 milhões e vendeu US$ 31,3 milhões.