São Paulo – Neta de libaneses, Maristela Montesanti Calil Atallah, de 63 anos, comanda uma das livrarias de livros usados mais antigas de São Paulo. Ao lado do filho Murilo Montesanti, a bibliotecária comercializa obras da literatura brasileira para outros países, entre eles os árabes.
Criada em 1945, a Livraria Calil Antiquária atende quem passa pessoalmente pelo comércio, localizado no Centro de São Paulo, e também vende para outras nações através do site da empresa desde 1997. Depois de comprados, os livros chegam a dezenas de nações por remessas postais.
“Vendemos para pessoas de todo mundo, da Europa, Ásia e África. Nem sei dizer quantos países já vendi ou vendo atualmente, mas já atendi Líbano, Marrocos, Estados Unidos, Itália, França, Alemanha, Espanha e Suíça. Além da venda on-line, também recebemos na livraria compradores de outros países, que estão de viagem ao Brasil. Já atendi muitos africanos, libaneses e dubaienses”, conta a proprietária.
De acordo com Maristela, quando se trata de negociações com árabes há sempre um pedido de desconto. “Diferentemente dos meus outros clientes, os árabes que vêm até aqui sempre pedem um abatimento no valor do produto. E eles também vêm focados no que querem comprar e levam depois de conversarem. Eu procuro manter o preço marcado, porém se puder dar um desconto, dou”, relembra.
Com um acervo físico de mais de 300 mil exemplares e 60 mil obras disponíveis para venda on-line, entre os livros comprados, os de língua portuguesa, inglesa e francesa estão entre os mais populares. “Mas também já vendi livros em árabe para compradores de fora. Com certeza essa língua é a minoria das obras”, diz Maristela.
A livraria de livros usados antigos tem foco em obras brasileiras de literatura da Semana de 1922 (arte moderna) e entre os seus produtos mais antigos estão gravuras do Brasil colonial. Além da comercialização, o estabelecimento oferece outros tipos de serviços, a encadernação e restauração de livros antigos.
De família árabe, os costumes de comercialização e a linguagem das pessoas da região já são comuns na rotina de Maristela. “Quando eu era criança costumava ouvir meus avôs paternos falando em árabe. Nunca consegui aprender. Apesar disso, aprendi outras coisas da cultura árabe, como a culinária.” Apaixonada pela comida da avó, Maristela coloca em prática receitas aprendidas com a matriarca da família Calil.
Negócio passado de geração para geração
Formada em Biblioteconomia, Maristela começou a trabalhar na livraria em 1983 e acabou herdando o negócio após o falecimento do pai. “Libano Calil era professor na época em que decidiu criar uma livraria no Centro. A ideia surgiu porque ele é um grande leitor. Não foi fácil tomar conta do negócio depois que ele morreu, em 1993. Apesar disso, nunca passamos por nenhuma dificuldade financeira, o negócio prosperou”, relembra a brasileira.
Localizado em uma região repleta de outros sebos, isto é, livrarias que vendem livros usados, o empreendimento se destaca, segundo Maristela, por causa do grande acervo físico e digital atual.
“Acho que a gente se destaca também porque fazemos um atendimento pessoal, estamos aqui de segunda a sexta cara a cara com os compradores. Sempre foi assim. Até mesmo na pandemia, eu e meu filho estivemos aqui.”
Uma das formas para atender bem esses públicos diversos, de acordo com a bibliotecária, é ficar de olho nas oportunidades de mercado. “As compras de livros usados acontecem conforme aparecem novas oportunidades, não fico muito preocupada em qual língua os livros vêm, mas com a qualidade deles.”
Assim como seu pai fez há muitos anos, hoje Maristela ensina o negócio para a próxima geração. Mesmo com estilos de trabalho diferentes, mãe e filho trabalham lado a lado para atender leitores do Brasil e de diferentes países.
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*Reportagem de Rebecca Vettore, em colaboração com a ANBA