Giuliana Napolitano
São Paulo – A Companhia Árabe-Líbia de Investimentos Estrangeiros (Lafico, na sigla em inglês) quer colocar até US$ 450 milhões em projetos de irrigação no Brasil, mas não pretende investir sozinha. Nos cerca de dez dias em que ficaram no país, executivos da empresa estatal começaram a negociar parcerias com as empreiteiras brasileiras Andrade Gutierrez e Odebrecht para participar das obras, disse à ANBA o embaixador da Líbia no Brasil, Mohamed Saad Matri.
Segundo o diplomata, a intenção da Lafico é formar uma joint-venture com essas empresas e investir, por meio de Parcerias Público-Privadas (PPPs), em dois projetos de irrigação que vêm sendo tocados pelo Ministério da Integração Nacional na região do Vale do Rio São Francisco, na Bahia. "A idéia é estabelecer uma cooperação com essas companhias e dividir os custos", declarou, acrescentando que os US$ 450 milhões devem ser investidos em conjunto pelas empreiteiras e pela estatal líbia.
Na quarta-feira (25 de fevereiro), a assessoria de imprensa do Ministério disse que não há prazo definido para que os recursos cheguem ao Brasil, já que o projeto de lei que regulamenta as PPPs tramita no Congresso Nacional.
Matri explicou ainda que o primeiro contato entre os executivos da Lafico, da Andrade Gutierrez e da Odebrecht ocorreu durante a visita de representantes da estatal líbia ao Brasil. Eles chegaram ao Brasil no dia 10 de fevereiro e, na última sexta-feira (20), levaram ao ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, uma carta de intenções em que explicam o interesse em investir no país.
De acordo com o embaixador, as negociações entre a Lafico e as companhias brasileiras continuarão nas próximas semanas. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da Odebrecht. A empresa disse que foi feito um primeiro contato com a estatal líbia, mas que ainda não há nenhum acordo fechado. A Andrade Gutierrez não havia respondido até a publicação desta matéria.
Os projetos: vinho nordestino
As empreiteiras já participam dos dois projetos de irrigação em que a Lafico pretende investir. A Odebrecht faz parte das obras do projeto Salitre, que abrange uma área de pouco mais de 30 mil hectares na região do município de Juazeiro. A Gutierrez integra o Baixio de Irecê: obra de 60 mil hectares localizados entre as cidades de Xique-Xique e Itaguaçu da Bahia.
Os projetos estão sendo implementados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), órgão vinculado ao Ministério da Integração Nacional. Hoje, a empresa é responsável por cerca de 25 obras de irrigação no país.
A assessoria de imprensa da Codevasf explicou que a companhia implementa os programas de irrigação, depois abre licitação e transfere a operação para a iniciativa privada – e isso inclui desde grandes empresas até pequenos agricultores. As terras irrigadas são utilizadas para a produção agropecuária. Além disso, durante a fase de construção, empresas privadas também podem fornecer equipamentos para a instalação da infra-estrutura dos projetos.
A Codevasf destaca como um dos casos de sucesso das obras de irrigação a produção de vinho na região dos municípios de Petrolina e Juazeiro, na Bahia. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, a vinícola Miolo já produz vinhos com as uvas plantadas na Bahia.
Sauípe, Goiás e Mato Grosso
O embaixador da Líbia também informou que, durante a visita ao Brasil, os executivos da Lafico visitaram empreendimentos agropecuários em Mato Grosso e em Goiás e hotéis da Costa do Sauípe (BA). Ele ressaltou, porém, que a intenção dos líbios foi conhecer os projetos e que ainda não há negociações comerciais em endamento.
Em entrevista à ANBA assim que chegou ao Brasil, o presidente da Lafico, Khaled El-Zantuti afirmou que sua intenção era conhecer os setores brasileiros de turismo e agronegócio, para possivelmente trazer investimentos de empresas líbias ao país.
Na carta enviada a Ciro Gomes, o diretor-geral da Lafico, Hamed El-Houderi, afirmou que a companhia tem uma carteira de cerca de US$ 10 bilhões investidos em 22 países. A Lafico é um órgão do governo líbio que surgiu na década de 1970 e regula os investimentos internacionais do país.

