Riad – “Eu estou apaixonado pela Arábia Saudita”, disse o presidente Jair Bolsonaro nesta quarta-feira (30) em seminário empresarial realizado no Conselho Saudita de Câmaras de Comércio e Indústria (foto acima), em Riad. O Fórum de Negócios Saudita-Brasileiro foi o último compromisso do presidente no país árabe, após mais de dois dias de visita. Ele leva na bagagem a promessa do fundo soberano local de investir US$ 10 bilhões no Brasil em diferentes áreas.
Ao final do evento, Bolsonaro disse a jornalistas que os resultados da viagem foram melhores do que os esperados. “Foi muito mais do que imaginávamos, foi excepcional a hospitalidade, o interesse e a confiança no novo Brasil por parte dos amigos da Arábia Saudita”, declarou. “Nada como fazer um contato pessoal”, acrescentou.
Em várias oportunidades, o presidente agradeceu ao príncipe-herdeiro saudita, Mohammed Bin Salman, e ressaltou o bom relacionamento – até de amizade – que desenvolveram.
Ele destacou que o Brasil precisa destes investimentos e que os sauditas necessitam de segurança alimentar. “E terá de nossa parte”, afirmou, referindo-se aos status de grande produtor e exportador de alimentos do País. A Arábia Saudita, por sua vez, tem recursos para investir, mas é deficitária na produção de alimentos, dependendo das importações.
Numa das várias vezes em que falou com os jornalistas ao longo do dia, Bolsonaro elogiou o plano plurianual da nação árabe Visão 2030, que tem por objetivos abrir e diversificar a economia. “Eles têm uma visão bastante de médio e longo prazos e nós devemos seguir a mesma estratégia deles”, declarou.
Pela manhã, na conferência Iniciativa de Investimentos do Futuro (IFF), também conhecida como “Davos no Deserto”, Bolsonaro falou de setores prioritários para receber recursos no Brasil, como infraestrutura, saneamento, petróleo e gás, inteligência artificial e defesa. “Precisamos de recursos para infraestrutura para escoar o que produzimos na região central do País”, observou.
Opep
Ainda na conferência, o presidente voltou a falar do leilão do pré-sal que vai ocorrer em 06 de novembro, como já havia feito nos outros dois países árabes que visitou esta semana: Emirados Árabes Unidos e Catar. “Gostaria que os senhores participassem. Afinal de contas, com a experiência que os senhores têm e a que nós temos com a Petrobras, podemos formar uma grande parceria nesta área, ajudando a estabilidade do preço do combustível fóssil no mundo”, afirmou à plateia.
Ele disse até que gostaria que o Brasil integrasse a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), ao responder uma pergunta da poderosa empresária saudita Lubna Olayan. Ela disse que o Brasil está entre os dez maiores produtores mundiais de petróleo e perguntou a Bolsonaro sobre as perspectivas para setor. O presidente declarou que em 10 a 15 anos o País poderá se tornar o quinto ou sexto maior produtor mundial. “Alguns até falam de o Brasil integrar a Opep”, afirmou. Ao que Olayan retrucou: “Nosso ministro do Petróleo gostaria disso”. O ministro da Energia da Arábia Saudita, Abdulaziz Bin Salman, havia participado de um painel pouco antes.
“Podemos conversar sobre isso”, declarou Bolsonaro. “Eu teria que ouvir meu ministro da Economia [Paulo Guedes] e meu ministro das Minas e Energia [Bento Albuquerque], mas particularmente eu gostaria que nós integrássemos a Opep sim. Temos potencial para isso. Temos reservas de óleo maiores do que alguns países que já integram a Opep”, destacou.
A Opep é formada por 14 países exportadores da commodity e tem forte influência na oferta e nos preços internacionais do petróleo.
Entre a conferência IFF e o seminário, Bolsonaro foi recebido pelo rei da Arábia Saudita, Salman Bin Abdulaziz, e outras autoridades. Foram assinados acordos para facilitar a emissão de vistos de visita e de cooperação em defesa; memorandos de entendimento sobre parceria nas aquisições, indústria, pesquisa, desenvolvimento e tecnologia em defesa, sobre cooperação cultural, de cooperação entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Fundo Saudita de Desenvolvimento, e foi criado um programa de cooperação entre a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e Autoridade Geral Saudita de Investimentos (Sagia) para “fortalecer as relações de investimentos bilaterais”.
Avaliação
O presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rubens Hannun, que participou da delegação empresarial que acompanhou Bolsonaro, destacou a importância de visitas como esta e dos encontros pessoais. “A Câmara Árabe sempre promoveu missões empresariais, e desde o começo esse tipo de iniciativa mostrou sua importância para a aproximação e a impulsão dos negócios”, disse. Em sua avaliação, o contato olho no olho permite resolver problemas rapidamente, assim como fechar parcerias.
Exemplo disso é a promessa de investimento no Brasil do fundo soberano, os acordos firmados e as negociações realizadas por empresários brasileiros e sauditas. “Houve bastante sucesso, acordos importantes foram assinados e o objetivo principal de atração de investimentos foi atingido, são resultados bastante efetivos”, comentou. E dos dois lados, pois a brasileira BRF anunciou investimento em uma fábrica de processamento de alimentos na Arábia Saudita.
Nesse sentido, Hannun ressaltou que as parcerias entre o Brasil e os países visitados se tornam estratégicas, não se resumindo somente a relações comerciais.