São Paulo – Em janeiro deste ano as exportações brasileiras de trigo e misturas com centeio para os países árabes somaram US$ 26,78 milhões, um recorde na série histórica desde 2017. O volume do mês foi de 124.715 toneladas e os principais compradores foram Arábia Saudita e Palestina. Os dados são da Inteligência de Mercado da Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
Segundo o analista de agronegócio da consultoria Tendências, Felipe Novaes, o recorde está inserido em um contexto mais amplo. Entre os fatores está a oferta brasileira, que está alta em decorrência período de colheita, além da valorização do dólar que torna mais competitivo o produto brasileiro. Há ainda a demanda da região do Norte da África e do Oriente Médio (MENA) e a menor oferta em importantes países produtores.
Sobre o consumo dos árabes, Novaes lembra que o crescimento já ocorre desde o último ano. “Entre 2020 e 2021, o USDA prevê aumento de consumo na ordem de 2,5% ao ano, em média, para o Norte da África e do Oriente Médio, onde se concentram os países árabes”, destacou ele em entrevista à ANBA sobre dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). A taxa está acima dos últimos cinco anos, quando o crescimento do consumo na região alcançou média de 1,1% ao ano.
Ainda segundo o USDA, para atender as necessidades de consumo as nações do MENA devem importar mais trigo. No biênio que inclui 2020 e 2021, o crescimento médio nas compras deve ser de 4,6% ao ano.
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Já na ponta produtora, o Brasil veio de uma queda na produção, frente a problemas climáticos, que prejudicaram a comercialização em 2020. Neste ano, a safra que começou a ser colhida recentemente vem recuperando o fôlego das exportações. “O desenvolvimento do trigo brasileiro na safra corrente foi menos prejudicado, de modo que os produtores estão possivelmente aproveitando a janela de oportunidade de exportação aberta pela taxa de câmbio em patamares bastante elevados (real historicamente desvalorizado ante o dólar), justamente na época do ano em que há mais trigo novo disponível no mercado”, disse ele, lembrando que a oferta interna deve crescer 24,9% segundo levantamento divulgado pela Conab neste mês.
A pandemia do coronavírus também afetou a comercialização do trigo no mundo. “Há sinais de implementação de barreiras tarifárias e não tarifárias de importantes países produtores de trigo, uma vez que o contexto de pandemia gerou aumento de preocupação com questões relacionadas à segurança alimentar no mundo”, explicou o analista citando como exemplos a Rússia, a Ucrânia e a Argentina. Para Novaes, há tendência que essas nações passem a priorizar a segurança alimentar doméstica, diminuindo suas exportações.
Mercado interno
No Brasil, dados coletados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia da Universidade de São Paulo (Cepea-Esalq/USP) mostram que o preço do trigo está em alta neste mês, sustentado pela baixa oferta. A explicação também está na demanda externa.
Embora estejam com alta disponibilidade de trigo, a atenção de quem vende têm se voltado ao mercado internacional. “Os produtores nacionais já anteciparam a comercialização de grande parte do volume produzido, fato que já vem sendo observado na forte alta das exportações em dezembro de 2020 e janeiro de 2021, cujos volumes totais foram mais de cinco e três vezes maiores na comparação com dezembro de 2019 e janeiro de 2021, respectivamente”, pontuou o analista da Tendências.