Giuliana Napolitano
São Paulo – Sem meio-termo. Essa foi o comportamento das relações comerciais do Brasil com o mercado árabe em 2003. Houve aumentos de mais de 75% no volume de negócios com alguns países – caso da Líbia e da Argélia – e os negócios com a Arábia Saudita e o Egito cresceram 20%, mas também foram registradas quedas nas vendas para outros mercados, como o dos Emirados Árabes, Síria e Iraque.
Na média, as exportações brasileiras para a região cresceram 6% frente a 2002 e atingiram US$ 2,76 bilhões, de acordo com dados preliminares da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento. As importações cresceram mais: 14,6%. Ainda assim, o Brasil conseguiu sustentar um superávit de US$ 55 milhões nas trocas bilaterais, já que as compras externas ficaram em US$ 2,704 bilhões.
O total de exportações ficou um pouco abaixo da expectativa da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), que era de uma alta de 10% nas vendas. Apesar disso, foi considerado positivo pelo presidente da entidade, Paulo Atallah. Isso porque, argumentou ele, o desempenho só não foi melhor em razão da queda nas vendas de petróleo do Brasil para os Emirados Árabes Unidos.
O petróleo é o principal produto da pauta brasileira de exportações a esse país árabe: em 2002, os negócios chegaram a cerca de US$ 300 milhões e responderam por metade do total vendido pelo Brasil aos Emirados. No ano passado, porém, o volume estava em apenas US$ 135 milhões até novembro (último mês detalhado pela Secex). "Mas, se somarmos esses outros US$ 150 milhões que deixamos de vender, chegamos a um número próximo a US$ 3 bilhões, que era a nossa estimativa", explicou.
Novo ranking
Boa parte da contribuição para o aumento das exportações veio da Arábia Saudita e do Egito – as vendas para esses países cresceram, respectivamente, 20,5% para US$ 672,7 milhões, e 19,7% para US$ 462,0 milhões. Embora não tenham sido as altas mais expressivas, os resultados se destacam pelo volume: os países estão entre os maiores compradores de produtos brasileiros no Oriente Médio e Norte da África.
A Arábia Saudita, por exemplo, recuperou o posto de maior importador do Brasil na região, depois de perder o lugar para os Emirados Árabes 2002. O Egito manteve a terceira posição e os Emirados caíram para a segunda, em razão de uma queda de 15,5% nas compras feitas do Brasil.
Em termos percentuais, os mercados que ampliaram de forma mais significativa as importações de mercadorias brasileiras foram a Argélia e a Líbia. A Argélia comprou o equivalente a US$ 153,7 milhões do Brasil no ano passado, 77% a mais do que o volume registrado em 2002. E as exportações para a Líbia subiram também 77%, para US$ 52,6 milhões, no período.
Para Paulo Atallah, os dois casos mostram que "promoção comercial dá resultado" e que "há potencial" para vender ao mercado árabe. "Faltava aproximação com esses países e isso começou a ser feito", afirmou, lembrando, por exemplo, da missão liderada pela ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef, que esteve na Argélia em setembro. Durante essa visita, a Petrobras e a estatal argelina de petróleo, a Sonatrach, assinaram um memorando de intenções para a companhia brasileira participar da exploração de petróleo no país árabe.
Falta de continuidade
Houve, porém, países árabes que diminuíram os negócios com o Brasil em 2003. Os principais foram a Síria, que reduziu as compras de produtos nacionais em 24% frente ao ano anterior, o Iraque (queda de 40%) e a Tunísia (baixa de 15,5%), além dos Emirados.
O secretário geral da CCAB, Michel Alaby, chama a atenção para os percentuais, tanto dos aumentos, quanto das quedas de negócios: boa parte, superior a 20%. Para ele, essas grandes oscilações confirmam uma característica antiga do comércio com os países árabes: a falta de continuidade. "Muitas vendas ocorrem apenas uma única vez. Ou seja, o empresário vende e não renova o contato. É um negócio que não dura", afirmou.
Exemplo disso é o comportamento dos negócios com a Líbia: as exportações para lá cresceram 5% em 1998, caíram cerca de 20% nos anos seguintes e, agora, voltaram a crescer. Os Emirados também ilustram o vaivém dos negócios: as exportações do Brasil para lá, que haviam crescido quase 50% entre 2001 e 2002, caíram 15,5% no ano passado. "As empresas precisar sair das vendas isoladas, porque a idéia de maturação do mercado pressupõe a continuidade dos negócios", salientou Alaby.
Perspectiva para 2004
Ações do governo e da Câmara, no entanto, podem tornar o comércio com a região mais estável. São esperados para este ano, por exemplo, os primeiros resultados concretos da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos países árabes no ano passado e da Semana do Brasil em Dubai, organizada pela CCAB e pela Agência de Promoção de Exportações (Apex) entre 7 e 9 de dezembro nos Emirados Árabes.
Além disso, a Câmara já programou a realização de pelo menos dez visitas a países árabes em 2004. O calendário ainda não está fechado, mas, segundo Atallah, serão visitados Arábia Saudita, Argélia, Egito, Emirados Árabes, Iêmen, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos e Síria. Em alguns países, haverá feiras de negócios, em outros, missões comerciais e outros receberão comitivas de empresários, explicou.
Com isso, a expectativa da CCAB é de que as exportações para o Oriente Médio e o Norte da África aumentem, "no mínimo", 10% em 2004. "Mas temos condições de vender mais do que isso", ressaltou Atallah.
Michel Alaby acrescentou que "agora é o momento de os empresários consolidarem mercado". "É preciso aproveitar o caminho aberto pela viagem do presidente Lula e também pelas feiras e missões que vêm ocorrendo nos países árabes", destacou.

