São Paulo – A exposição “Taswir, a fotografia árabe contemporânea” apresenta uma visão do conjunto e da pluralidade do mundo árabe, segundo participantes da cerimônia de inauguração da mostra, que ocorreu na noite desta quinta-feira (28) no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. O evento reúne trabalhos de 14 fotógrafos de 12 países e fica em cartaz até 28 de abril.
A exibição celebra o Dia da Comunidade Árabe no Brasil, o 25 de março, e os 74 anos da Liga dos Estados Árabes. “Temos muito a comemorar”, disse o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rubens Hannun. A Câmara Árabe promove a mostra em parceria com o Instituto do Mundo Árabe (IMA), de Paris. As imagens são do acervo do IMA.
“Somos cerca de 12 milhões [de árabes e descendentes] e vivemos em perfeita integração com a sociedade brasileira”, destacou Hannun. “Contribuímos para o desenvolvimento do Brasil em praticamente todos os setores”, acrescentou. Ele ressaltou que não há cidade no Brasil que não tenha gente que fale árabe “ou que não se encontre esfiha ou quibe em algum estabelecimento”.
No comércio, Hannun informou que os 22 países árabes somados representam o segundo maior mercado do agronegócio brasileiro. “Em retribuição, o Brasil recebe produtos vitais para o agronegócio”, afirmou, referindo-se aos fertilizantes, que estão entre os principais itens exportados por nações árabes ao Brasil.
O executivo declarou, porém, que as parcerias entre o Brasil e o mundo árabe precisam ser aprofundadas em áreas estruturais. “Como fizemos com o IMA na área cultural”, disse. A Câmara Árabe assinou um acordo de cooperação com a instituição francesa e a exposição de fotos é o primeiro fruto desta parceria. “Este é um caminho que muito contribui para o conhecimento mútuo e já estamos conversando com o Mario [Chouery] sobre outras exposições no Brasil e, por que não, exposições brasileiras no IMA”, afirmou. Chouery é responsável por levar exposições do IMA ao exterior e estava presente na abertura da mostra Taswir, que é a primeira do instituto na América Latina.
Para Hannun, a cooperação cultural é um dos pilares do trabalho da Câmara Árabe, “pois dá base para uma relação comercial permanente”. “A exposição Taswir mostra uma visão de conjunto do mundo árabe”, destacou. “Ajuda a compreender a realidade de uma sociedade”, concluiu.
O presidente do Instituto Tomie Ohtake, Ricardo Ohtake, ressaltou que esta é a primeira vez que a instituição recebe uma exposição de países árabes, mas lembrou que o intercâmbio cultural entre o Brasil e a região ocorre “há varias décadas”. Ele lembrou, por exemplo, dos projetos feitos pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer na Argélia e no Líbano.
“Este intercâmbio do Instituto Tomie Ohtake com a Câmara Árabe foi feito por meu irmão, que fez o projeto do escritório da Câmara na Avenida Paulista”, disse, referindo-se ao arquiteto Rui Ohtake, que projetou não só as instalações da entidade, mas o próprio prédio onde ela está localizada em São Paulo. “É um ótimo intercâmbio, e já me disseram que outras exposições árabes vão ocorrer aqui”, contou.
Fé, entusiasmo e paixão
O presidente do IMA, Jack Lang, ex-ministro da Cultura da França, gravou um vídeo especialmente para a ocasião, que foi exibido na inauguração (assista abaixo). “Nossa esperança é que este evento seja um grande sucesso e que os conduza a multiplicar as iniciativas entre o Brasil e o Instituto do Mundo Árabe”, declarou. Ele elogiou a Câmara Árabe e o Instituto Tomie Ohtake por trabalharem com “fé, entusiasmo e paixão”.
Já o cônsul-geral da França em São Paulo, Brieuc Pont, destacou a amplitude da mostra. “Esta é uma exposição magnífica e ambiciosa porque reúne artistas que representam a pluralidade do mundo árabe”, disse. “O que poderia ser mais simbólico para marcar o Dia da Comunidade Árabe?”, observou.
Um dos artistas, o francês de origem argelina Lazare Mohamed Djeddaoui, estava presente na cerimônia de abertura. Ele realizou uma série inspirada em contos da Síria e da região do Levante.
Para o secretário municipal de Relações Internacionais em exercício, Rodrigo Massi, a realização da mostra “ilustra de forma extraordinária a presença árabe na cidade de São Paulo”. “Que esta exposição possa ser a primeira de muitas, e a cidade seguirá apoiando inciativas dos países árabes”, afirmou.
O embaixador da Liga Árabe no Brasil, Qais Marouf Kheiro Shqair, ressaltou a importância do trabalho da Câmara Árabe para a realização do potencial de crescimento das relações do Brasil com as nações árabes. Ele lembrou que a Liga foi fundada em 22 de março de 1945, inicialmente com sete países. Hoje são 22. Hannun destacou que a entidade multilateral tem representação no Brasil desde 1954.
O decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil e embaixador da Palestina, Ibrahim Alzeben, lembrou que os árabes começaram a migrar para o Brasil há mais de 145 anos e elogiou a realização da mostra. “A Câmara Árabe trabalha com a criatividade que sempre marca sua iniciativa de busca incessante da defesa dos interesses árabes no Brasil”, destacou. Ele avalia que a mostra apresenta “a essência da civilização árabe”.
Amizade
O embaixador falou também das relações diplomáticas com o Brasil no momento atual. “Fizemos e faremos o possível para que o Brasil continue a ser um país amigo e que os países árabes continuem a ser amigos do Brasil”, ressaltou Alzeben. “A política pode mudar, mas os países continuam: 57 invasões passaram pela Palestina e a Palestina continua existindo”, declarou.
O embaixador acrescentou que Jerusalém Oriental é a capital da Palestina, mas sempre estará aberta para todos. “Não aceitamos violação de nossa soberania, seja de quem for e de onde for. Amigos não atacam a Palestina, os árabes e os muçulmanos”, concluiu.
Em seu discurso, Ricardo Ohtake disse que ficou “muito honrado” em conhecer o representante da Palestina. “Ele (Alzeben) me disse: ‘Vamos sobreviver’. E eu quero dizer que aqui, no Brasil, apesar da situação em que estamos, também vamos sobreviver”, afirmou.
Jack Lang fala sobre a exposição: