São Paulo – A Festa do Sacrifício (Eid Al-Adha) este ano acontece no dia 20 de julho de acordo com o calendário islâmico, ainda com limitações para prevenir o contágio do coronavírus. Uma das duas maiores celebrações dos muçulmanos junto com o Eid Al-Fitr, quando se encerra o jejum do Ramadã, a grande festa marca o fim da peregrinação a Meca e geralmente é motivo de comemorações com amigos e familiares, além das rezas nas mesquitas. Cerca de um quarto da população mundial celebra as festividades islâmicas.
Alguns países, principalmente no Golfo, declararam feriado nacional de 19 a 22 de julho. A peregrinação a Meca (Hajj) está limitada a 60 mil pessoas, e apenas sauditas e residentes podem participar. As mesquitas estão abrindo, mas com capacidade reduzida em cerca de 50% e distanciamento social, dependendo do país e suas regras.
A festividade sempre cai no décimo dia de Dhu al-Hijjah, o décimo segundo mês do calendário islâmico, que começa com o aparecimento confirmado de uma lua crescente. A maioria dos países segue a data oficial divulgada pela Arábia Saudita.
Tradicionalmente, a Festa do Sacrifício remonta a tradição islâmica do profeta Ibrahim (ou Abraão), que quando orientado por Deus a sacrificar seu próprio filho Ismael, ele e o filho se resignam e obedecem às orientações divinas, e quando Ibrahim levanta sua espada, o Arcanjo Gabriel aparece para eles enviado por Deus com um carneiro para ser sacrificado no lugar de Ismael, e sua fé é recompensada.
Daí surgiu a tradição do abate de um cordeiro, tradicionalmente, mas também boi, camelo ou cabra para marcar a data. Antes da pandemia, Meca recebia quase três milhões de peregrinos anualmente, então os muçulmanos em muitos casos pagam para empresas para que o abate halal (de acordo com as regras islâmicas) seja feito no mundo todo, para que doações cheguem em países da África, da Ásia e até mesmo no Brasil.
Na data, a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras) faz doações entre brasileiros com orçamento próprio e de diversos países islâmicos. “Já pedimos para fazer o abate e a distribuição é feita para a população menos favorecida, de muçulmanos e não muçulmanos, e eles recebem a carne halal já fracionada, bovina ou de cordeiro”, disse Ali Zoghbi, vice-presidente da entidade. De acordo com ele, a distribuição deve ser feita entre 20 e 22 de julho em cerca de dez estados do Brasil, com concentração maior em São Paulo e nos estados onde há matadouros, principalmente no Sul e Centro-Oeste.
Além das doações para comunidades carentes, a carne também é compartilhada entre amigos e familiares, tradicionalmente. “É uma carne abençoada que simboliza o sacrifício de Ibrahim tendo a convicção de sacrificar seu filho, a confiança de que Deus só faz o melhor para o ser humano. É essa paciência que nós estamos precisando, com a pandemia, talvez o Eid Al-Adha seja um dos momentos mais importantes porque depois de tudo que está acontecendo vem a esperança e esse momento nos servirá de aprendizado, na construção de uma vida mais digna e melhor, com mais resiliência”, disse Zoghbi.
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Nas mesquitas, Zoghbi conta que há uma oração especial feita na data pela autoridade religiosa, e após as orações coletivas, geralmente se serve um grande café da manhã, mas que este ano, por causa da pandemia, não será servido.
A Festa do Sacrifício é, segundo Zoghbi, um feriado similar ao Natal para os muçulmanos, e limita inclusive boa parte das rotinas comerciais dos países de maioria islâmica alguns dias antes e alguns dias após a festa.
Além das orações na mesquita e do abate do cordeiro, a festa do sacrifício também é um momento de reflexão para os muçulmanos. “É um momento de alegria, de pensar na ideia de que Deus teve misericórdia, da importância de termos um entendimento para que isso seja um modelo de conduta para as situações da nossa vida. Em casa, ficamos refletindo e dialogando sobre isso em família e recebemos muitas ligações de amigos e familiares cumprimentando, e dizemos em árabe algo que em português seria ‘que todos os anos você esteja em paz’, ou ‘que você continue feliz como essa data estabelece para nós todos os anos’”, concluiu Zoghbi.
Países
Os Emirados Árabes Unidos anunciaram feriado de 19 a 22 de julho para os setores público e privado durante o Eid Al-Adha. No Egito, o setor público terá feriado de 19 a 24 de julho, e o setor privado, de 19 a 22 de julho.
Em Omã, haverá bloqueio total de 20 a 22 de julho, todas as atividades comerciais serão fechadas e fica proibido o movimento de pessoas e veículos, como medida de precaução.