São Paulo – O financiamento para ações sustentáveis será um dos temas centrais da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP27), informou o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Davi Bomtempo, que participará do evento no Egito. Redução de emissões, adaptação climática, regulamentação do mercado de carbono e transparência dos processos são as demais agendas que a delegação da CNI irá acompanhar na COP27, que ocorre de 06 a 18 de novembro em Sharm El Sheikh.
O financiamento é considerado um dos meios de implementação da agenda de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, e o Brasil tem grande potencial para atrair esses novos investimentos, segundo o executivo, por abrigar fontes de energia renováveis e uma vasta biodiversidade. A discussão a respeito de uma melhor redistribuição dos investimentos entre os países, em especial aos países em desenvolvimento, será central nessa pauta.
“A questão do financiamento sempre é tratada nas COPs, mas de certa forma com dificuldade de contemplar aquele financiamento previsto dos US$ 100 bilhões anuais com os quais os países desenvolvidos deveriam financiar essa transição aos países em desenvolvimento”, disse Bomtempo.
Segundo ele, muita coisa tem sido discutida sobre o tema, por ser uma agenda muito importante para que se possa incentivar economicamente a transição energética naqueles países que não têm condições. “Tem um fluxo de capital internacional de cerca de US$ 600 bilhões por ano, cerca de 4,5% vai para América Latina e Caribe, para o Brasil, menos ainda. Isso também vem norteando nosso trabalho: como proporcionar o acesso para essas empresas a esse tipo de recurso, como um empresário brasileiro pode acessar esses recursos? Então desenvolvemos um guia, passo a passo, com o que as empresas devem contemplar pra acessar esse recurso para financiar a sua transição”, contou Bomtempo, falando sobre os financiamentos coletivos e públicos.
Na COP27, a CNI também irá lançar um guia de financiamento de fundos privados para as empresas brasileiras, informando que critérios precisam cumprir para ter acesso. “Sabemos que cada fundo exige um tipo de informações, mas a ideia é mostrar que existe esse recurso para os empresários e proporcionar o passo a passo para que eles possam acessar esse recurso”, falou.
Mercado sustentável
“A CNI tem trabalhado para identificar possibilidades de cooperação e oportunidades para o setor industrial nas COPs”, disse Bomtempo. A CNI participou de todas as cúpulas. “Hoje o mercado tem novas regulamentações, leis e normas que as empresas têm que seguir tanto internamente como se quiser se internacionalizar”, disse o executivo, sobre sustentabilidade, em entrevista à ANBA.
“Outro ponto que eu chamaria atenção é o perfil do consumidor, que hoje quer saber o que está consumindo, seja produto ou serviço. Querem saber quanto gerou de emissão, se tem programa de eficiência energética e hídrica, se contempla a parte social, se dá destinação adequada aos resíduos, se emprega práticas de economia circular. Então tudo isso junto, seja a parte de reputação regulatória ou de atendimento ao consumidor, vem norteando o planejamento e atuação das iniciativas das empresas”, disse Bomtempo.
Brasil no mercado de carbono
O Brasil tem vantagens, disse Bomtempo, tanto em matriz energética quanto em matriz elétrica. “Somos muitos competitivos comparando com a média da OCDE, estamos em uma posição que muitos países vão levar muitos anos para conseguir, e sabemos que energia é insumo fundamental para a produção. Então teoricamente se você já tem a energia limpa, seu produto será mais limpo”, disse. A OCDE é a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, composta por mais de 30 países.
O gerente-executivo afirmou que o Brasil está na vanguarda inclusive em biocombustíveis, desde a década de 1970. “O Brasil é um dos únicos países em que você encontra etanol ou biodiesel em postos de combustíveis, e isso nos coloca em segunda posição de maior produtor de biocombustível, ficando apenas atrás dos Estados Unidos”, disse.
No que se refere à biodiversidade, o Brasil também se destaca. “Somos um país florestal com quase 60% de cobertura, e isso traz várias alternativas do uso desses recursos biológicos, fomentando as indústrias de cosméticos, fármacos, de alimentos a partir da biodiversidade e também abrindo uma contribuição do setor privado na luta contra o desmatamento ilegal. Essa parte de conservação florestal é muito importante”, declarou o entrevistado.
Sobre a questão da água, o Brasil tem grande reserva de água doce, e com isso, fica entre os grandes players quando se faz um comparativo internacional, contou Bomtempo.
Quatro pilares
A CNI tem como objetivo atingir a competitividade da indústria brasileira com sustentabilidade, e para que o Brasil avance na transição para uma economia de baixo carbono, a confederação definiu quatro pilares estratégicos, que são transição energética, mercado de carbono, economia circular e conservação florestal.
Segundo Bomtempo, eficiência energética significa empregar pouco recurso e ter grande economia de energia, e a CNI conta com parceiros públicos e privados nessa frente da transição energética. “Temos agenda forte de novas tecnologias dentro desse pilar, a energia eólica offshore está sendo regulamentada no Brasil, na costa do Nordeste, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Temos também vários empreendimentos com hidrogênio sustentável, e foco em hidrogênio verde como combustível, sempre de forma a tornar a produção industrial cada vez mais limpa” disse. O executivo afirmou que o mundo todo vem buscando energia alternativa que ajude a fazer essa transição para o baixo carbono, e o hidrogênio aparece como uma grande solução.
O mercado de carbono é outra agenda prioritária da CNI. “Estamos trabalhando um projeto de lei no Congresso (Nacional). A grande questão é implementar um sistema de mercado regulado de carbono que converse com outros mercados internacionais”, disse. Segundo Bomtempo, para haver a regulamentação, é preciso trazer elementos de governança e metodologia. “Não dá para vender o crédito de carbono se não tem um padrão de como medir”, disse.
A CNI vem fazendo um trabalho na agenda de economia circular não só em inovação e ecodesign, mas também em reciclagem, reuso e remanufatura, segundo Bomtempo. “E por último, em âmbito nacional, a conservação florestal e a bioeconomia postas como pilar central, trazendo oportunidades para fazermos frente ao desmatamento ilegal”, disse.
CNI na COP27
Os dias 15 e 16 serão os mais importantes para a CNI na COP27. No dia 16, haverá um evento grande no pavilhão do Brasil com um dia inteiro de programação voltado ao setor industrial, com painéis com as temáticas mencionadas acima, com transição energética e mercado de carbono, em que as empresas brasileiras irão compartilhar suas agendas.
No dia 15, o evento será com o setor produtivo e em parceria com a Câmara de Comércio Árabe Brasileira e outros parceiros. “São oportunidades em que vamos desenvolvendo aproximações e já com o olhar voltado para a próxima COP, que vai acontecer em Dubai”, disse o executivo.
Para saber mais sobre o trabalho da CNI em sustentabilidade, acesse o site Indústria Verde e o Portal da Indústria.