São Paulo – Após as exportações brasileiras serem enviadas aos países árabes, o fluxo inverso dos contêineres não tem sido bem aproveitado, apontou Jean Stoll (foto acima), diretor global de proteínas e laticínios da A.P. Moller-Maersk. O executivo participou do webinar ‘Logística e transporte entre Brasil e Países Árabes: Oportunidades, obstáculos e o papel da rota marítima do canal de Suez’, nesta terça-feira (06). O evento foi promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
Para Stoll, especialmente quando se fala dos contêineres refrigerados, os chamados reefers, a logística de volta o Brasil deixa espaço para importação com custos reduzidos. “O que carregamos para o Oriente Médio, somando Brasil e Argentina, são cerca de 1300 contêineres reefers de 40 pés por semana, levando [carne de] frango e carne bovina”, detalhou. Só no caso A.P. Moller-Maersk, o diretor afirma que os embarques são de 90 contêineres por semana, e deste total, apenas 7% retorna cheio. Entre os produtos que voltam, há sardinhas de Omã e Marrocos, por exemplo.
Para elevar o recebimento de produtos de fora, terminais nacionais são essenciais. “Nós funcionamos como autoridade portuária e todos os parceiros têm vários tipos de exportação. Somos porta de entrada para estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo”, pontuou Maartje Driessens, gerente Geral de Parcerias Estratégicas do Porto do Açu.
No fortalecimento dessa infraestrutura brasileira, que avança para receber mais produtos importados, há oportunidade para os próprios árabes. É o que vê Cornelis Hulst, vice-presidente de Operações do Porto do Pecém, que recebe investimento governamental e privado. “Obviamente o objetivo é atrair grandes industrias pra produzir conosco, mas isso nos exige serviços velozes, manutenção, tecnologia da informação e essas todas são oportunidades para países árabes que já têm experiência em investir em empresas que fazem isso. Não estamos falando apenas de comércio e bens, mas sim de comércio em expertise”, afirmou Hulst.
“Vejo total possibilidade de transformar esses dois portos como polos para produtos árabes e agregados”, apontou o secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansour, que mediou o tema da tecnologia.
Fabian Lavaselli, executivo de Supply Chain e diretor de vendas da Norsul Shipping Company, concorda com as boas oportunidades que o Brasil oferece. “Notamos que na região Norte houve desenvolvimento. Qualquer grão [que pensarmos], o Brasil está no top 5 [em produção] e temos condições de logística melhores agora, conectando as produções do Norte até a costa brasileira”, disse.
Ainda em relação aos desafios da logística, Medhat Elkady, presidente da Associação Internacional Egípcia de Agências de Carga (EIFFA), lembra que investimento tecnológico será essencial. “Temos como desafios algum atraso na digitalização de alguns parceiros e operadores”, ponderou ele.
Integração de cadeias de valor
Já na sessão do webinar sobre integração de cadeias de valor globais com os países árabes, um dos palestrantes foi Marcus Vinícius, gerente de Inteligência de Mercado da Câmara Árabe. Ele frisou que uma das principais questões logísticas é o tempo que os navios de transporte gastam entre Brasil e países árabes, que é, em geral, de 49 dias. “O transporte marítimo acaba sendo um problema para setores que tem produtos com menor tempo de validade, como as frutas”, ponderou ele.
Alguns conceitos levantados por Orlando Cattini Junior, coordenador do Centro de Excelência em Supply Chain e Logística da Fundação Getulio Vargas – SP (FGVcelog), ajudam a ultrapassar o alto custo de transporte. Um deles é o chamado ‘value chain’, a cadeia de valor. “Na cadeia de valor, as companhias perceberam que havia vantagens em desmembrar as operações, da matéria-prima até o consumo, em várias regiões ou países. Isso reduz custos e aproveita competências técnicas de várias partes”, explicou.
A meta de tornar mais eficiente a organização regional é fator determinante também para Sara Hassan Kamal Elgazzar, reitora da Faculdade de Transporte Internacional e Logística – Academia Árabe para Ciência, Tecnologia e Transporte Marítimo. Elgazzar observou que o comércio entre Brasil e árabes ainda não está em seu auge. “Existe potencial de crescimento, mas como acelerar isso? Melhorar integração entre as duas partes? A transferência de tecnologia podia ajudar nisso e construir maior confiança na relação”, afirmou ela, lembrando que as operações que aproveitam zonas francas como a Zona Econômica do Canal de Suez podem diminuir tempo e custos.
Moderando o debate, Qaisar Hijazin, secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Bélgica Luxemburgo, reforçou a importância do Canal. “É estratégico, já que 10% dos produtos que viajam o mundo por via marítima passam pelo Canal de Suez”, concluiu.
Participaram também do evento o vice-presidente da Autoridade de Desenvolvimento de Investimentos do Líbano (IDAL), Alaa Hamieh, o secretário-executivo adjunto do Ministério da Infraestrutura do Brasil, Felipe Fernandes Queiroz, e o conselheiro de Portos da Autoridade Geral para a Zona Econômica do Canal de Suez (SCZONE), Mohamed AbdelAziz.
A abertura do seminário foi feita pelo embaixador Osmar Chohfi, presidente da Câmara Árabe, Khaled Hanafy, secretário-geral da União das Câmaras Árabes (UAC), e Adel Abou Rejeili, presidente da Câmara de Comércio Líbano-Brasileira no Rio de Janeiro. O vice-presidente de Comércio Exterior da Câmara Árabe, Ruy Cury, fechou o evento.
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