São Paulo – Como a Zona Econômica do Canal de Suez pode facilitar o comércio brasileiro? O conselheiro de Portos da Autoridade Geral para a Zona Econômica do Canal de Suez (SCZONE), Mohamed Abdelaziz (foto acima), falou sobre o tema em webinar promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira nesta terça-feira (06). Ele participou do painel sobre investimentos no setor de logística.
Segundo Abdelaziz, a zona oferece 0% de taxa alfandegária e residência de cinco anos para investidores estrangeiros no Egito, entre outros incentivos. Ele afirma que utilizando a zona econômica, as empresas brasileiras terão cadeias de fornecimento mais curtas e acesso preferencial a mais mercados, mais penetração nos mercados existentes e mais integração com o comércio global.
A Zona Econômica foi inaugurada em 2015 com o objetivo de adicionar valor agregado ao Canal de Suez, para que não fosse apenas uma passagem de navios, conta Abdelaziz. Segundo ele, 12% de todas as mercadorias do mundo que viajam pelo mar passam pelo canal. O complexo conta com quatro zonas industriais e seis portos, sendo três no Mediterrâneo e três no Mar Vermelho. A zona econômica é conectada tanto local como internacionalmente. “Temos uma infraestrutura de estradas desenvolvida nos últimos sete anos e agora elas acabam no leste do canal. A zona econômica tem conectividade rodoviária por toda a África e acho que esse é um tema que estamos falando hoje, tentar criar um hub para os produtos brasileiros com o resto da África”, disse Abdelaziz.
Como exemplo, o conselheiro falou sobre a zona integrada do Porto de Said, que compreende zona industrial e logística. Ela está sendo ampliada e tem capacidade energética para acomodar fábricas de diversos setores, como aço, fertilizantes, óleo, entre outros, e consegue acomodar qualquer navio, com calado de 18,5 metros de profundidade. “Nosso objetivo até 2025 é mirar nos setores que têm oportunidade doméstica de investimento, que podem ser pneus, animais, petroquímicos, processamento de alimentos, farmacêutico, entre outros”, disse.
“Um dos maiores desafios é o alto custo do transporte marítimo entre Brasil e países árabes”, disse o vice-presidente da Autoridade de Desenvolvimento de Investimentos do Líbano (IDAL), Alaa Hamieh. Ele frisou a importância de encontrar parceiros estratégicos para o aumento do comércio entre os países.
O secretário-geral da União das Câmaras Árabes (UAC), Khaled Hanafy, falou sobre a possibilidade de aumentar o comércio entre os países, fazendo do Egito um hub para os mercados africano e asiático e também falou sobre a industrialização e atividades que possam beneficiar as zonas econômicas do Egito e do Canal de Suez. “Precisamos de uma aliança estratégica para ajudar as indústrias nos setores de agricultura, alimentício, e também de tecnologia, ferroviária e outros tipos de negócios possíveis”, disse.
O secretário-executivo adjunto do Ministério da Infraestrutura do Brasil, Felipe Fernandes Queiroz, informou que 21% de toda carga de contêiner refrigerado que sai do Brasil passa pelo Canal de Suez. Ele destacou o terminal da Dubai Ports (DP World Santos) no Porto de Santos como um exemplo de investimento árabe no Brasil e apresentou um cronograma dos próximos leilões de modais brasileiros.
“A primeira desestatização de portos do Brasil será o porto do Espírito Santo”, contou Queiroz. Segundo o secretário, também serão privatizados os portos de Santos, Itajaí, a Companhia das Docas da Bahia e o Porto de São Sebastião, esses ainda sem data prevista.
O presidente da Câmara Árabe, Osmar Chohfi, abriu o evento virtual falando sobre a importância de Canal de Suez para o comércio global. O canal foi inaugurado em 1869 e se mantém como uma das principais rotas comerciais marítimas do mundo, devido a sua posição privilegiada entre África, Ásia e Europa e também por sua importância para o intercâmbio dos países das Américas com o resto do mundo. “A importância histórica e econômica do Canal de Suez é inegável”, disse Chohfi.
O embaixador afirma que para os brasileiros, a Zona Franca do Canal de Suez representa uma importante via de acesso a mercados e também uma oportunidade para que as empresas possam explorar, além do mercado árabe, também o mercado islâmico mundial.
“Sua localização geográfica estratégica aliada a políticas de atração de investimento estrangeiros e acordos comerciais firmados entre o Egito e outros países se apresentam como vantagens competitivas que podem beneficiar empresas brasileiras em processo de internacionalização”, disse Chohfi.
De acordo com dados de 2020, 95% das exportações totais do Brasil utilizam via marítima. Desse total, 56% percorre o Canal de Suez para chegar ao seu destino final. Essas operações correspondem a US$ 6 bilhões em exportações brasileiras para Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes, Iêmen, Iraque, Jordânia, Omã e Sudão. As informações são do Departamento de Inteligência de Mercado da Câmara Árabe.
Essas operações correspondem a US$ 6 bilhões em exportações brasileiras para Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes, Iêmen, Iraque, Jordânia, Omã e Sudão. Já as importações representam US$ 2,2 bilhões para os países árabes que abastecem o mercado brasileiro, e todas elas passaram pelo Canal de Suez.
O presidente da Câmara de Comércio Líbano-Brasileira no Rio de Janeiro, Adel Abou Rejeili, lembrou que daqui a menos de um mês, no dia 04 de agosto, fará um ano da tragédia no porto de Beirute, e expressou sua solidariedade aos milhões de mortos pela covid-19.
O vice-presidente da Câmara Árabe, Ruy Cury, finalizou o evento. Para ele, as informações técnicas passadas nos painéis certificam que o assunto não se encerra ali, mas que devem haver novos encontros com o objetivo de melhorar o fluxo comercial e reduzir as dificuldades encontradas nos portos brasileiros e árabes, como a redução de custos.
Leia mais sobre o webinar em breve.
Assista o seminário completo abaixo: