São Paulo – O fotógrafo francês de origem argelina Lazare Mohamed Djeddaoui vai onde a guerra está para desvendar, por meio das imagens que registra, a cultura escondida naquele cotidiano. Lazare estará no Brasil nos próximos dias porque seu trabalho fará parte da exposição “Taswir, a fotografia árabe contemporânea”, que começa nesta quinta-feira (28) e vai até o dia 28 de abril no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.
“Meu trabalho é todo sobre a cultura do mundo árabe e muçulmano. Eu trabalho em locais onde a imagem do país é vinculada à guerra e ao terrorismo e eu foco no que está oculto pelos acontecimentos, a cultura”, contou ele em entrevista por e-mail à ANBA. Lazare afirma que se inspira na cultura e história locais e tenta fazer uma representação contemporânea delas por meio da arte. Com esse objetivo ele esteve na Síria, Afeganistão, Mali e Rússia.
Na exposição do Instituto Tomie Ohtake, Lazare vai mostrar o trabalho “Contos da Síria”, fotografias que tirou em 2014 e 2015 em Alepo. As imagens foram feitas inspiradas em contos do país e de outros da região do Levante para compor uma representação diferente da Síria, tida na época apenas como um lugar de morte e guerra. “O trabalho do jornalista é mostrar o que está acontecendo, ele é uma testemunha da verdade. O meu trabalho como artista é tentar fazer as pessoas lembrarem do que é bom, sem esconder o mal”, disse ele.
A exposição é promovida pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira e o Instituto do Mundo Árabe (IMA). Além de comemorar o Dia Nacional da Comunidade Árabe, o 25 de março, a mostra celebra os 74 anos da Liga Árabe. É uma reedição de duas exposições realizadas pelo IMA, uma de jovens fotógrafos sobre a civilização árabe, de 2017, e outra sobre cristãos no Oriente. Lazare vai estar no Brasil para a abertura da mostra, que ocorre na quinta-feira às 19h30.
Será a primeira exposição de Lazare fora da França e também a primeira vez que ele estará no Brasil. “É algo que sempre quis fazer, mas eu imaginei que meu primeiro encontro com o continente americano seria nos Estados Unidos. Você nunca sabe o que vai acontecer e isso é uma coisa boa”, comemora o fotógrafo. O artista diz que sabe que o Brasil é um país cosmopolita com uma grande história e cultura. “Espero que as pessoas vejam esse trabalho como uma maneira de se conectarem com a cultura e a história do mundo árabe”, afirma.
Ele acha difícil dizer mais sobre o Brasil sem tê-lo visto ou vivido nele. “Claro que sei sobre o grande time de futebol, o famoso carnaval e as maravilhas da natureza, e espero ter a oportunidade de ver tudo o que esse país tem a oferecer”, disse. Ele não sabe, porém, se isso será possível nesta viagem, já que deve permanecer no Brasil apenas por uma semana. “Desejo voltar”, afirma.
Filho de argelinos, Lazare nasceu em Puteaux, na França. Ele estudou na Vila Arson de Nice, na Escola Superior de Arte e Design de Genebra e na Escola Nacional Superior de Artes de Paris-Cergy (Ensapc), esta última onde concluiu mestrado em Artes há cerca de quatro anos. Depois disso, passou a se dedicar integralmente à arte. No começo da carreira, o foco era instalação e performance. Mais tarde, Lazare migrou para a fotografia. “Eu percebi na fotografia um meio diferente para falar sobre os espaços e as pessoas”, disse ele.
Lazare conta que seu trabalho na Síria o ajudou a “sair do escuro” e a entender que a fotografia era o que havia de mais importante na sua carreira. Para o franco-argelino, o seu mais importante trabalho fotográfico é “A Filha do Ogro”, imagem na qual uma menina olha pássaros engaiolados na casa do tio. “Esta imagem se refere ao conto A Filha do Ogro. Eu vejo algo de poético nesta situação”, afirma ele. “A Filha do Ogro” é um conto libanês e a foto faz parte de “Contos da Síria”, trabalho de Lazare que estará na mostra em São Paulo.
Serviço
Exposição: “Taswir, a fotografia árabe contemporânea”
Abertura: 28 de março, às 19h30, para convidados
Até 28 de abril de 2019, de terça a domingo, das 11 às 20 horas
Entrada franca
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima, 201, Complexo Aché Cultural
Entrada pela Rua Coropés, 88, Pinheiros, São Paulo, SP
Metrô mais próximo: estação Faria Lima, Linha 4 – Amarela
Tel.: (11) 2245-1900
Site: www.institutotomieohtake.org.br