Giuliana Napolitano
São Paulo – A indústria petroquímica brasileira pode se aproveitar da intenção dos países do Golfo de atrair investimentos estrangeiros para o setor. Mas, primeiro, é preciso arrumar a casa, ou seja, terminar o processo de reestruturação das empresas nacionais, para torná-las competitivas no mercado externo.
A avaliação foi feita por Fabiana Fantoni, analista especializada em petroquímica da Tendências Consultoria Integrada. "As companhias brasileiras podem investir no Golfo, no longo prazo", declarou.
Fabiana lembrou que o Brasil tem gigantes do setor, como a Braskem, grupo formado por participações de empresas como a Odebrecht e a Petrobras. É o maior conglomerado petroquímico da América Latina, com 13 fábricas localizadas em Alagoas, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul e receita anual de cerca de US$ 3 bilhões.
"A Braskem poderia, por exemplo, fazer parceria com algum grupo internacional e investir no Oriente Médio", acredita Fabiana.
Estudo do BNDES
O governo também parece apostar na expansão do setor. Neste ano, o Ministério de Minas e Energia encomendou ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um estudo sobre a indústria petroquímica brasileira.
Os detalhes do estudo não foram revelados, mas a intenção declarada do governo é tornar o segmento mais competitivo, especialmente depois do processo de fusões e aquisições mundiais que deu origem à gigantes petroquímicas. Exemplo disso foi a união entre a Exxon e a Mobil – hoje, a nova empresa tem faturamento de mais de US$ 200 bilhões por ano e fábricas em 24 países.
A avaliação do BNDES é a de que a indústria petroquímica brasileira precisa ganhar escala para poder atuar no exterior. Segundo Fabiana, o banco deve liberar crédito para mais investimentos no setor.
Antes disso, porém, o governo pretende interferir no processo de reestruturação das companhias petroquímicas. Primeiro, para desfazer o nó societário que vem, na avaliação de Fabiana, emperrando o desenvolvimento do setor.
O ponto polêmico é o desejo da Petrobras de voltar a aumentar sua presença no setor. "A empresa quer voltar ao modelo antigo, anterior às privatizações, em que influía na decisão das petroquímicas", diz Fabiana.
Hoje, a estatal tem participações minoritárias nos três pólos petroquímicos do país – Braskem, Copesul e Rio Polímeros. Mas não tem poder de decisão, ou seja, não influi na gestão dessas empresas.
Para Fabiana, a Petrobras deve participar do setor – "afinal, é a empresa que fornece o nafta, a matéria-prima da indústria". "Mas deve ser uma participação minoritária", defende.
"Isso porque, no passado, a atuação da Petrobras gerou conflitos de interesse com as empresas de capital privado, o que atravancou o desenvolvimento do setor", afirma.
A Petrobras discorda. Para o presidente da companhia, José Eduardo Dutra, o afastamento da estatal do segmento petroquímico teve motivações políticas e deve ser repensado.
Matéria-prima de qualidade
O que está em jogo é, no mínimo, a chance de operar onde estão concentradas os maiores estoques de petróleo e gás do mundo, o Golfo Arábico. A região tem quase a metade das reservas de petróleo do mundo e pelo menos 15% das reservas de gás. Mas, apesar da matéria-prima de qualidade, o bloco responde por apenas 5% da capacidade de produção petroquímica global.
Na semana passada, executivos de duas grandes companhias estatais da Arábia Saudita – a Saudi Arabian Basic Industries Corporation (Sabic) e a Saudi International Petrochemical – disseram à imprensa árabe que os países do Golfo precisam de investimentos estrangeiros para expandir a indústria petroquímica local.
Fazem parte do Golfo Arábico Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Kuwait e Omã. Juntas, as reservas de petróleo desses países somam cerca de 470 bilhões de barris, pouco mais de 45% do total mundial.
No setor de gás, o Catar tem a segunda maior reserva do mundo, de 25 trilhões de metros cúbicos, o que representa 15% do estoque global. E investimentos previstos de US$ 25 bilhões – do governo e da iniciativa privada – devem aumentar a produção do país em 50% até 2010.

