Alexandre Rocha, enviado especial
Cuiabá e Rondonópolis (MT) – O uso do potencial hidroviário do centro-oeste e do norte do Brasil pode facilitar e reduzir os custos do transporte da safra agrícola do Mato Grosso. Existem quatro canais que poderiam atender à demanda do estado, como alternativas às rodovias, muitas em estado precário, e à ferrovia, que hoje só chega até a região sudeste do Mato Grosso.
Tais canais são os rios Teles Pires e Tapajós, que ligam o norte do Mato Grosso a Santarém, no Pará; os rios Araguaia e Tocantins, que podem ser usados no transporte de carga entre o leste do estado e o Maranhão, facilitando o acesso ao porto de Itaqui (MA); a hidrovia Paraguai-Paraná, que liga a região de Cárceres no sudoeste do Mato-Grosso a Nova Palmira, no Uruguai; a hidrovia Madeira-Amazonas, entre Porto Velho, em Rondônia, e o porto de Itacoatiara no Amazonas, a leste de Manaus.
"Enquanto se gasta 1 dólar no transporte por hidrovia, gasta-se 3 dólares para a mesma distância em ferrovias e 9 dólares por rodovia", disse o secretário de Desenvolvimento Rural do Mato Grosso, Homero Alves Pereira, referindo-se à economia que o uso de hidrovias pode representar para os produtores.
Os corredores Teles Pires-Tapajós e Araguaia-Tocantins, porém, são apenas projetos que, antes de virarem realidade, ainda vão causar muita discussão, principalmente sobre o impacto ambiental das obras de implementação. Eles são considerados "não viáveis" no momento, na avaliação do secretário de Projetos Estratégicos do Mato Grosso, Cloves Vettorato.
Já as hidrovias Paraguai-Paraná e Madeira-Amazonas estão em funcionamento. A primeira, no entanto, responde hoje pelo transporte de um volume pequeno da produção do Mato Grosso, algo em torno de 200 mil a 300 mil toneladas por ano, contra uma produção total de 22 milhões de toneladas de grãos e fibras obtida na última safra (15 milhões de toneladas só de soja).
"Ainda é necessário adaptar as embarcações ao rio pois a maior parte do percurso tem pouca profundidade", disse Pereira. "Precisamos urgentemente de mais investimentos em logística porque não adianta aumentar muito a produção se não temos como transportar", acrescentou. O Mato Grosso tem planos de duplicar sua produção agrícola até 2012.
Opção pelo norte
Foi justamente com base na perspectiva de redução do custo do frete e para atender à produção das regiões oeste e noroeste do estado que o grupo André Maggi, que pertence ao atual governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, investiu na criação da hidrovia Madeira-Amazonas. É nesta região que se concentra boa parte da produção agrícola comercializada pela empresa.
Inaugurado em 1997, o corredor responde hoje pelo transporte de cerca de 2 milhões de toneladas anuais de grãos, ou quase 10% da safra de grãos e fibras do Mato Grosso.
Segundo o presidente do grupo, Pedro Jacyr Bongiolo, a hidrovia traz uma economia de US$ 25 por tonelada transportada, em relação ao transporte rodoviário. "Antes tudo o que se produzia na região oeste do estado era escoado pelo sul, para os portos de Santos e Paranaguá", disse.
Inicialmente foram investidos US$ 67,3 milhões, ou R$ 192,9 milhões em valores atuais, na compra de barcaças, melhoramentos no terminal de Porto Velho e na construção do Porto de Itacoatiara. Mas a empresa não arcou com tudo, o governo do Amazonas entrou com uma participação de 36,5%, a Petrobras com mais 5% e foram obtidos financiamentos junto à Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Hoje, no entanto, o empreendimento é controlado totalmente pelo grupo Maggi por meio de uma subsidiária, a Hermasa Navegação da Amazônia S.A.
O trajeto da carga começa em regiões produtoras como Sapezal, no oeste do estado, e segue de caminhão por quase mil quilômetros até Porto Velho. Lá, os produtos são embarcados em barcaças que navegam mais 1.150 quilômetros pelos rios Madeira e Amazonas até Itacoatiara. A Hermasa utiliza hoje comboios de 16 chatas que têm capacidade para transportar 32 mil toneladas de uma só vez. A frota da empresa é composta por 60 balsas e cinco empurradores.
O terminal de Porto Velho tem capacidade para embarcar 13 mil toneladas de produtos por dia e, em Itacoatiara, podem ser armazenadas até 300 mil toneladas. No porto do Amazonas, o grupo Maggi ainda construiu uma usina de esmagamento de soja que tem capacidade para processar 2 mil toneladas por dia. Lá os produtos são embarcados em navios que seguem um percurso de mais 1.100 quilômetros até a foz do Amazonas e o Atlântico, passando por Macapá, capital do Amapá.
"A hidrovia Madeira-Amazonas é um modal tranqüilo que navega dia e noite", afirmou o secretário Cloves Vettorato.
Na viagem de volta, as barcaças são abastecidas com fertilizantes importados que vão atender à demanda dos produtores mato-grossenses, principalmente o próprio grupo Maggi. Basta lembrar que o governador Blairo Maggi é o maior produtor individual de soja do mundo. O porto de Itacoatiara conta inclusive com um navio estacionário que serve como armazém para fertilizantes.
Impacto econômico
Até 2003, a hidrovia transportava apenas mercadorias produzidas ou comercializadas pelo grupo Maggi. Mas a partir deste ano, a empresa começou a prestar serviços para terceiros. Fechou, por exemplo, um contrato de 10 anos para transportar produtos da multinacional Bunge, cujo valor Bongiolo não revela.
Segundo o executivo, com as ampliações e benfeitorias realizadas desde 1997, o total de investimentos no projeto já chegou a R$ 281 milhões. Investimentos estes que causaram impacto econômico na região. De acordo com Bongiolo, a companhia gerou 672 empregos e já pagou R$ 29 milhões em salários no Amazonas. Em Rondônia, foram criados outros 102 postos de trabalhos e foram pagos R$ 6 milhões em salários.
"Além disso, a produção da região atendida pelo projeto triplicou, passou de um milhão de toneladas em 1996 para três milhões hoje em dia", concluiu Bongiolo. Leia no link abaixo um perfil do grupo Maggi.