Giuliana Napolitano
São Paulo – No início de dezembro, o hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, apresentou à imprensa, a empresários e ao governo paulista o resultado de um investimento de cerca de US$ 20 milhões, feito nos últimos cinco anos: o Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP).
O objetivo do instituto é ser um centro de pesquisas, treinamento e formação de profissionais. A inauguração do IEP contou com a participação do governador Geraldo Alckmin a marcou os 82 anos de presença do hospital na cidade de São Paulo.
A história do Sírio-Libanês começou em 1921, quando foi criada a Sociedade Beneficente de Senhoras (SBS). A intenção era montar o primeiro hospital da comunidade árabe que vivia em São Paulo, conta dona Violeta Jafet, filha de uma das fundadoras e primeira presidente da Sociedade, dona Adma Jafet. "Outras coletividades estrangeiras já tinham hospitais no Brasil, mas a comunidade árabe, não", afirmou.
Dona Violeta é o retrato da história do hospital. Com 93 anos, ela é a presidente da SBS desde que sua mãe morreu, em 1956, comparece ao Sírio-Libanês todos os dias e tem registrado, em dezenas de arquivos impressos, mas principalmente na memória, os principais momentos da instituição.
Ditadura Vargas
A construção do Sírio-Libanês foi iniciada em 1931, com recursos doados pela comunidade árabe no Brasil, e concluída dez anos depois, mas o prédio nunca chegou a ser usado como hospital: em plena ditadura de Getúlio Vargas, o local foi desapropriado pelo governo estadual -comandando pelo interventor Adhemar de Barros – para ser usado como uma escola de cadetes. "Foi uma injustiça", diz dona Violeta.
A partir daí, começou a briga da SBS para reaver o hospital. Até que, em 1943, Rosinha de Mendonça Lima, esposa de João de Mendonça Lima, ministro de Transportes de Vargas, veio a São Paulo e se encontrou com Adma e Violeta. "Contamos toda a história e ela ficou indignada", lembra Violeta. "Ela pediu um relatório por escrito e decidiu trabalhar pelo hospital".
Quatro meses depois, Rosinha apareceu com o decreto de devolução do hospital à Sociedade Beneficente de Senhoras. Mas havia uma condição: era preciso esperar que o governo terminasse a construção de uma escola de cadetes em Campinas, interior do estado. O que levou 16 anos. "O hospital só foi devolvido em 1959", conta Violeta. "Minha mãe não conseguiu ver isso", diz, lembrando que Adma morreu em 1956.
Ambulatório infantil
Com o prédio novamente sob controle, Violeta começou a remontar a SBS, porque "muitas senhoras haviam se dispersado", e também a reformar o prédio, para que ele pudesse abrigar um hospital. As obras duraram quase três anos e, em 1962, o Sírio-Libanês foi reinaugurado. Na época, funcionava havia apenas como um pronto-socorro infantil e tinha 35 leitos.
Poucos anos depois, foram iniciadas obras de expansão até que, em 1971, a SBS inaugurou o novo prédio do Sírio-Libanês, que tinha 100 apartamentos e abrigou a primeira Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Brasil, com dez leitos. Em 1980, começou a ser planejada a construção de um novo hospital, que passou a funcionar em 1992: o local tinha 20 andares, 40 mil metros quadrados e 320 leitos.
Nos anos seguintes, o hospital ampliou a UTI, criou um centro de transplantes e montou uma das unidades de oncologia mais modernas do país, que desenvolveu a primeira vacina contra o câncer do país. Hoje, o complexo do Sírio-Libanês, que funciona no mesmo endereço desde sua fundação, no bairro da Bela Vista, possui médicos em 60 especialidades, 300 leitos, dois centros cirúrgicos, duas UTIs e 2,3 mil funcionários.
A instituição ainda é administrada pela Sociedade Beneficente de Senhoras: 61 senhoras fazem parte do conselho do hospital e 20, da diretoria-executiva, além de dona Violeta. A SBS também comanda um grupo de 250 voluntárias que trabalham no Sírio-Libanês.
A parte médica é coordenada por Raul Cutait, diretor do Centro de Oncologia do Sírio-Libanês e filho de Daher Cutait, que participou da fundação do hospital, na década de 60. Existem ainda uma diretoria administrativa, que fica a cargo de Edison Tayar.
Filantropia
Desde o ano passado, o Sírio-Libanês está na Justiça contra o governo. Isso porque o hospital era considerado uma entidade filantrópica, mas em 2002 foram mudados os termos da lei de filantropia e várias instituições tiveram a classificação suspensa.
A lei antiga determinava que, para ser considerado uma entidade filantrópica, o hospital precisaria destinar 20% para atendimentos gratuitos. A nova lei exige que 60% dos atendimentos sejam feitos pelo SUS.
Contato
Hospital Sírio-Libanês
R. Dona Adma Jafet, 91 – Bela Vista – São Paulo (SP)
Tel: (+5511) 3155-0200
www.hospitalsiriolibanes.com.br

