Giuliana Napolitano
São Paulo – A balança comercial fechou 2003 com marcas históricas: exportação recorde de US$ 73,1 bilhões e o maior superávit já registrado pelo país, de US$ 24,8 bilhões. As importações, porém, cresceram pouco mais de 2% e chegaram a apenas US$ 48,2 bilhões. Neste ano, no entanto, a situação pode se inverter, prevêem especialistas. Governo e analistas esperam que as compras externas subam até 20%, enquanto as exportações aumentariam pouco mais de 10%, nas projeções mais otimistas.
As principais razões para a mudança de cenário são a expectativa de crescimento econômico e a valorização do real. "Em 2003, tivemos apenas a queda do dólar, e esse fator, sozinho, não é capaz de puxar o crescimento das importações, como ficou claro", afirmou à ANBA o analista econômico Nelson Carneiro, da consultoria Global Invest, de Curitiba.
No ano passado, a taxa de câmbio teve uma valorização de 18% – o dólar encerrou o mês de dezembro valendo R$ 2,88, depois de iniciar janeiro cotado a R$ 3,52. Mas a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) não deve passar de 0,5%, segundo o próprio governo – o que fez com que as importações aumentassem pouco. Para 2004, a previsão média do governo e de analistas é de um crescimento de 4% da economia. O dólar deve ficar em torno de R$ 3,00.
O câmbio influi basicamente no preço dos produtos negociados no mercado externo; o desempenho da economia determina a demanda: crescimento significa maior mercado tanto para as mercadorias importadas, como para as exportadas. "Com o crescimento econômico esperado para este ano, as importações devem aumentar e, além disso, as empresas instaladas no país devem se voltar para atender o mercado interno", afirmou Carneiro. "Haverá demanda e é mais fácil vender para um consumidor já conhecido", acrescentou.
Segundo o analista, as estimativas dão margem para se esperar uma alta de 16% das importações. "Cálculos econômicos mostram que, geralmente, as compras externas aumentam quatro vezes mais do que o PIB", explicou.
O governo vai ainda mais longe. Na semana passada, o secretário de Comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, afirmou que as importações podem subir 20% neste ano, para cerca de US$ 58 bilhões. Se confirmado, o volume seria o maior desde 1997: no auge da valorização do real, o Brasil comprou do exterior US$ 59,7 bilhões. De lá para cá, os negócios caíram e chegaram ao menor nível em 2002, de US$ 47,2 bilhões.
Bens de capital e fertilizantes
Para Carneiro, os setores que mais deverão puxar as importações neste ano são os de bens de capital (máquinas e equipamentos), matérias-primas e combustíveis. "O aumento da atividade industrial vai ampliar a demanda por esses produtos", avalia o economista.
Em alguns segmentos, houve crescimento já em 2003. A expansão da agricultura, por exemplo, elevou a compra de fertilizantes e adubos. Além disso, para transportar a safra recorde (estimada em 122 milhões de toneladas de grãos), foi preciso elevar a importação de combustíveis. O analista da Global Invest lembrou que a maior parte do transporte de cargas no Brasil é feita via rodovias, "o que aumenta a necessidade de combustível".
Com isso, as importações totais subiram 15% entre setembro e dezembro, na comparação com o mesmo período do ano anterior. No entanto, como o crescimento industrial foi pequeno, a compra de bens de capital caiu: 10,7%. Também diminuíram os negócios relacionados a bens de consumo, em 6,2%. Este último ramo, aliás, deve continuar em pelo menos a metade deste ano, acredita Carneiro. "Isso porque a compra desses produtos depende da renda, que continua achatada e demora mais para se recuperar", declarou.
Exportações: divergências
Para as exportações, as expectativas são mais divergentes. O Ministério do Desenvolvimento espera que as vendas cresçam cerca de 10% e cheguem a US$ 80 bilhões neste ano. Bancos e consultorias consultados pelo Banco Central, porém, estimam um resultado mais modesto, de US$ 76 bilhões. E a Global Invest prevê queda de quase 3% no total exportado pelo Brasil, para US$ 71 bilhões.
Nelson Carneiro justifica a projeção lembrando do aumento da demanda interna, enquanto o governo aposta no vigor dos novos mercados que vêm sendo conquistados pelo país. As vendas para países que até há pouco tempo tinham pouca participação na pauta nacional de exportações têm surpreendido. Os embarques para a China, por exemplo, saltaram 80% no ano passado em relação a 2002 e chegaram a US$ 4,5 bilhões, o que colocou o país na terceira posição no ranking de maiores compradores de produtos brasileiros.
Da mesma forma, as exportações para o Oriente Médio e para a África subiram em torno de 20%, para US$ 2,8 bilhões e US$ 2,9 bilhões, respectivamente.
De acordo com a própria Global Invest, entre janeiro e outubro (últimos dados disponíveis), as vendas externas do país cresceram US$ 11 bilhões. Desse total, apenas US$ 800 milhões vieram dos 30 maiores países compradores de produtos brasileiros. "O restante veio de novos mercados", ressaltou Carneiro.
Entre esses mercados alternativos, o economista citou os países árabes. "É uma região com um grande potencial, porque importa bens de consumo de praticamente todos os tipos. Além disso, têm as receitas do petróleo para financiar as compras externas", concluiu.

