Alexandre Rocha
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São Paulo – O crescimento do ramo de construção do Brasil tem tido impacto direto na geração de empregos. Tradicionalmente um dos setores que mais empregam mão-de-obra, ele registrou um aumento de 19,3% no número de vagas entre janeiro e outubro deste ano somente na Região Metropolitana de São Paulo, segundo a Pesquisa Emprego e Desemprego (PED) da Fundação Seade e Dieese divulgada na semana passada.
"No período de janeiro a julho de 2007 a construção civil no Brasil gerou 116.467 novas vagas de trabalho formais", disse o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Simão. "Investir na construção civil é investir no desenvolvimento socioeconômico do país", acrescentou. Mas mais do que trabalhadores, as construtoras buscam profissionais cada vez mais qualificados.
Esta exigência tem se refletido na procura por cursos de capacitação, como os oferecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), que tem aumentado sensivelmente. "Estamos percebendo esta ampliação, especialmente por conta do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento do governo), com investimentos em infra-estrutura e em construção pesada", disse à ANBA o gerente-executivo de educação profissional do Senai, Alberto Borges Araújo.
De acordo com ele, até estados que tinham pouca demanda por este tipo de serviço agora apresentam uma procura grande. "É o caso de Rondônia, que hoje demanda cerca de 25 mil profissionais, por causa da construção da hidrelétrica do Rio Madeira e de outras grandes obras", afirmou Araújo.
Mas não são apenas as grandes obras públicas que precisam de operários. Empreendimentos privados têm demandado profissionais com uma visão mais ampla do seu trabalho, que tem provocado uma mudança no perfil do trabalhador. "E não são só novas qualificações, mas também novas competências até para ocupações tradicionais do segmento", ressaltou Araújo.
Ou seja, não basta o pedreiro erguer uma parede perfeita, ele tem que saber calcular exatamente o volume de material necessário para evitar desperdícios e, conseqüentemente, reduzir custos, o que exige uma elevação do nível de escolaridade do trabalhador. Neste sentido, de acordo com Araújo, o Senai tem feito convênios com o Serviço Social da Indústria (Sesi), que atua com educação básica, e com órgãos públicos para que as necessidades de escolarização sejam supridas paralelamente à capacitação profissional.
"O Senai e o Sesi dão muitos cursos em canteiros de obras, por exemplo, para a formação de mestre-de-obras", disse o gerente de certificação profissional do Senai, Paulo Rech. "Para o novo profissional não basta só ter a qualificação técnica, ele precisa ter noções de gestão, saber respeitar orçamentos e prazos", acrescentou.
Neste quadro se insere o programa Educação para a Nova Indústria, criado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), instituição a qual o Senai e o Sesi são ligados. Ele prevê investimentos de R$ 10,45 bilhões para garantir educação básica e profissional para 16,2 milhões de brasileiros até 2010, sendo 7,1 milhões no ensino básico e continuado e 9,1 milhões no ensino profissional.
O plano foi elaborado com base na demanda por um novo perfil profissional, o surgimento de novas regiões industriais, o aparecimento de novas tecnologias e a aceleração do crescimento da economia. Ele teve como base o Mapa Estratégico da Indústria, elaborado pela CNI, que elenca prioridades para o desenvolvimento do setor de 2007 a 2015.
Na cadeia de produção
O Senai oferece cursos diretamente e por meio de parcerias com órgãos públicos, organizações não-governamentais, entidades setoriais e empresas. Na área de construção civil, companhias que fabricam materiais têm também buscado acordos com a instituição. Paulo Rech deu o exemplo da Portobello, indústria de revestimentos cerâmicos, que fez um convênio com o Senai para formar instaladores de seus produtos. O mesmo fizeram a Amanco e a Tigre, fábricas de tubos e conexões, para capacitar encanadores.
Estas companhias, de acordo com Rech, investem na capacitação de operários para que eles saibam usar os produtos adequadamente e evitar que a culpa sobre uma instalação mal feita recaia sobre a mercadoria. "Muitas vezes quando alguma coisa sai errado o consumidor acaba culpando o produto", disse. "Às vezes, por não ter experiência, o instalador acaba colocando em jogo a eficácia do produto", acrescentou Araújo. A entidade mantém convênios com a maioria dos estados da federação.
No momento, o Senai desenvolve um estudo para saber com mais exatidão o perfil do profissional que o setor busca, de acordo com o gerente de informação tecnológica, Wellington da Silva. Desde já, ele adianta, este trabalhador tem que ter a capacidade de lidar com altas tecnologias. Dentro do mesmo trabalho, a entidade procura levantar as melhores práticas aplicadas nas indústrias ao redor do país para produzir um nivelamento nacional. Assim um operário capacitado poderá trabalhar em diferentes estados dentro dos mesmos parâmetros.