Giuliana Napolitano
São Paulo – A indústria de transporte e o complexo soja, os dois setores que mais exportaram em 2003, continuarão garantindo os negócios externos do Brasil neste ano. A afirmação foi feita à ANBA pelo secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho. "Esperamos um crescimento considerável, entre 10% a 20%, nesses dois segmentos", disse.
No ano passado, o setor de transporte – que inclui aeronaves, veículos, autopeças e pneus, entre outros produtos – vendeu ao exterior US$ 10,6 bilhões, uma alta de quase 19% em relação ao volume de 2002. No complexo soja, a expansão chegou a 35%, para US$ 8,1 bilhões. Os dois segmentos contribuíram com mais de 25% do total de US$ 73,1 bilhões exportado no ano.
No caso da indústria automotiva, segundo Ivan Ramalho, o crescimento foi favorecido "pela retração do mercado interno, pela busca de novos mercados e também pela assinatura de acordos comerciais", como o fechado entre o Brasil e o México.
Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostram que as exportações de automóveis, caminhões e ônibus aumentaram 30% em 2003. "As indústrias estão com uma capacidade ociosa muito grande, porque o mercado interno está retraído, e ao mesmo tempo foram fechados contratos com diferentes países", declarou.
Para este ano, a estimativa é de que as vendas continuem em expansão. Mas a grande aposta de Ramalho está no segmento de aeronaves. "O mercado de aviação está em crescimento, especialmente as rotas aéreas regionais, que são operadas por aviões de pequeno e médio portes, como os produzidos pela Embraer", explicou o secretário. "Além disso, a empresa está investindo em outros modelos, o que deve ampliar os negócios".
Maior participação dos básicos
Em relação à soja – e às commodities de forma geral -, o crescimento veio em razão do aumento do volume exportado, mas também da recuperação dos preços internacionais desses produtos. "Foi uma retomada bastante contundente", disse Ramalho.
A combinação de maior volume e maior preço vem fazendo crescer a participação dos produtos básicos (agricultura, pecuária, extrativismo etc.) na pauta de exportações brasileiras, depois da tendência de queda verificada nos últimos 40 anos. Da década de 60 para cá, a fatia correspondente aos básicos diminuiu de cerca de 80% para pouco mais de 20%. Ao mesmo tempo, subiu a participação dos manufaturados, que foi de menos de 10% para 60% no período.
Desde 2000, porém, a parcela dos básicos voltou a crescer e chegou a quase 30% no ano passado, enquanto a fatia dos manufaturados caiu de 59% para 54%. O secretário lembrou, porém, que os preços internacionais das commodities são instáveis e reiterou que o desempenho dos produtos básicos nos últimos anos pode não se repetir. "Já no caso dos manufaturados, todo o aumento é baseado em volume", ressaltou.
Mudança regional
Os resultados dos setores de transportes e de soja também determinaram o perfil regional das exportações. No ano passado, os maiores crescimentos de vendas vieram das regiões Centro-Oeste e Nordeste, de 33% e 31%, respectivamente.
No Nordeste, a expansão foi puxada principalmente pelo setor automotivo: as vendas de veículos subiram 250% em relação a 2002. "Isso graças à Bahia, que agora tem uma fábrica da Ford", disse Ramalho. No Centro-Oeste, o impulso veio da soja – os embarques de óleo de soja, por exemplo, aumentaram mais de 70%.

