São Paulo – O músico paulistano Adriano Grineberg é um dos expoentes do blues no Brasil e se prepara para lançar seu terceiro disco solo. O trabalho traz a influências musicais do Oriente e do sufismo, corrente do Islã, especialmente o praticado na África Ocidental, em países como a Mauritânia.
Com 20 anos de carreira, Grineberg, que já abriu shows de B.B. King em São Paulo, é um estudioso do blues. Segundo ele, a relevância sufista é central na história do estilo musical, sendo considerada a cultura de países como o Mali, Níger e Mauritânia, além da dos tuaregues (nômades do Deserto do Saara), como primórdios da forma rítmica, melódica e poética do blues.
“Eu sou um músico de blues e meu álbum anterior, Blues for Africa, traz a influência africana e das extensões em geral. A questão islâmica na África do Norte, e a sua música que foi para os Estados Unidos é a música dos sufis, influência islâmica. Na música do Oriente Médio, a questão do sufismo é muito forte. Não são aquelas notas temperadas que temos na música da Grécia, ou na clássica”, revelou Grineberg.
Uma das técnicas vocais que o músico utiliza no álbum para se aproximar dessa cultura musical é o chamado “slide” ou “portamento”. “A nota escorrega. A melodia fica passeando, não para em uma nota. É uma coisa muito forte do Oriente Médio, da música desses lugares, e isso foi para o Norte da África, mistura de vários povos e desse tipo de melodia na junção dos povos da África Subsaariana que se converteram ao islamismo”, detalhou.
O novo CD leva o nome “108” e segue uma linha de sincretismo de religiões e espiritualidade. As músicas são compostas em diversas línguas, incluindo o persa antigo, o qawlli, do Paquistão, o híndi, da Índia, e o iorubá, da África Subsaariana, na releitura de alguns pontos do candomblé. “Sou descendente de várias raças”, pontua o músico, que tem em sua família ascendência de localidades do próprio Oriente Médio. “Foi uma pesquisa musical, através do blues encontrei a influência do sufismo. É uma junção dos caminhos espirituais que tenho seguido. O sufismo é muito forte na Índia, por exemplo, e próximo do hinduísmo. O Paquistão é muito sufi também”, afirmou o músico, que já teve passagens pelos dois países que citou.
O compositor visitou, ainda, o Mali, uma das nações que mais o encantou. “É o país que mais recebe bem as pessoas e é um dos mais pobres no mundo. Vale citar esses povos, porque é ali, no Mali, Mauritânia, que nasce o blues, o DNA. E hoje, eles têm o chamado ‘desert blues’, que é de fato um estilo musical que traz de volta as origens para o deserto”, contou Grineberg que tem como próxima meta conhecer algum país árabe.
Embora não tenha composto em árabe ainda, ele explica esse é um desafio que quer enfrentar no próximo disco. “A faixa do álbum que mais se aproxima da língua árabe é ‘Alla Hoo’, uma poesia que conta sobre o profeta Maomé, é um texto do Alcorão”, explicou ele, que incluiu ainda estilos brasileiros na sua obra. “O Nordeste é permeado pela cultura moura. Quando você canta o baião, a música nordestina tem semelhança tão profunda com o blues africano. Está tudo interligado. E mostra o quanto a cultura árabe influencia hoje”.
Ouça, abaixo, a faixa inédita ‘Alla Hoo’:
Outra conexão entre as tradições árabes e o estilo musical é a oralidade. “Na África, a história é passada de maneira oral, como os ‘causos’ do interior do Nordeste, isso vem de lá. E o blues é uma música passada oralmente, contando histórias. Quando você está cantando blues você está contando história. Isso tem a ver com a expansão islâmica, que transformou toda África”, explicou.
O lançamento do disco “108” será no dia 27 de julho, no Sesc Belezinho. O show traz oito composições inéditas. Além do blues, o músico apresenta ritmos regionais do Maranhão, da Índia, Paquistão e Oriente Médio.
Serviço
Lançamento do disco ‘108’
Dia 27 de julho, às 21h
Sesc Belezinho – Rua Padre Adelino, 1.000, Belenzinho
Mais informações: https://www.sescsp.org.br/
Assista, abaixo, interpretação do artista de uma das faixas do CD ‘Blues for Africa’: