Bagdá – O Iraque, um país cuja economia é altamente dependente do petróleo, foi alertado de que corre risco de precisar de “cuidados intensivos” caso não se diversifique, seguindo tendências mundiais para combater o impacto dos combustíveis fósseis no meio ambiente.
As vastas reservas de petróleo do país são suficientes para produzir nas taxas atuais por mais um século, porém, enquanto o mundo busca se livrar dos hidrocarbonetos, o governo de Bagdá tem demorado a se adaptar.
Há anos, o setor energético vem recebendo apelos para atingir a meta de limitar o aumento das temperaturas médias globais a 1,5º C acima dos níveis pré-industriais, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa.
Em abril, os países do G7 – Grã-Bretanha, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos – prometeram acelerar sua saída dos combustíveis fósseis, visando a neutralidade de carbono até 2050 no mais tardar.
Mas os rendimentos da commodity representam 90% da receita orçamentária do Iraque, que vem se recuperando de anos de conflitos e tensões políticas, deixando o país excessivamente dependente do setor.
“Atualmente, toda a economia depende do petróleo e do preço da commodity”, disse o cientista político Ammar al-Azzawi.
“Se a cotação cair, nossa economia precisaria de cuidados intensivos.”
A solução sugerida é desenvolver os setores da indústria, agrícola e turismo do Iraque antes que o mundo mude para fontes alternativas de energia.
Em março, a União Europeia disse que até 2035 deixaria de vender motores de combustão em carros novos, que não poderão mais emitir CO2.
Uma “transição energética global está ocorrendo, mas ainda não na velocidade e escala que os cientistas e especialistas dizem ser necessária para evitar os piores impactos da mudança climática”, disse Ali al-Saffar, diretor de clima da Fundação Rockefeller, de Nova York.
Aproveitar o momento
Sofrendo com secas prolongadas e marcadas por frequentes tempestades de areia, os 42 milhões de iraquianos já estão vivenciando essas consequências.
O país árido é considerado pelas Nações Unidas um dos cinco mais afetados no mundo por impactos das mudanças climáticas.
Em 2020, durante a pandemia de covid-19, o Iraque viu o lado negativo de sua dependência do petróleo quando a demanda global por hidrocarbonetos despencou.
“As receitas de exportação do Iraque caíram vertiginosamente e as taxas de pobreza dobraram no país quase da noite para o dia”, disse Saffar.
Prejudicado por décadas de conflito e problemas de infraestrutura, o Iraque precisa da receita do petróleo para financiar sua reconstrução.
Sessenta por cento do investimento público em 2021 foi no setor de petróleo, em comparação com menos de 17% em 2010, disse o Banco Mundial em um relatório de março.
No entanto, “a facilidade com que a receita do petróleo é gerada e pode ser redistribuída para manter as redes de poder (político) enfraquece” qualquer pressão por reformas, disse o credor global.
O Banco encorajou o Iraque a “aproveitar o momento atual de alta dos preços do petróleo” para iniciar sua transição econômica da dependência do petróleo ou correr o risco de enfrentar reformas mais caras e difíceis no futuro.
Bagdá “diversificará sua economia” nos próximos dez anos, disse Muzhar Saleh, assessor econômico do primeiro-ministro do Iraque.
O governo está focado na agricultura e em grandes projetos financiados por meio de parcerias público-privadas (PPP) e indústrias associadas, como a de fertilizantes, disse ele.
Com a introdução de tecnologias de irrigação, Saleh espera que o Iraque aumente seu uso de terras aráveis de menos de um milhão de hectares atualmente para 1,5 milhão.
“Em 50 anos, não seremos tão dependentes do petróleo como hoje”, disse ele.
Crescimento verde
Para iniciar as reformas necessárias para alcançar o “crescimento verde”, o Banco Mundial estima que o Iraque deve gastar US$ 233 bilhões até 2040.
O banco disse que esses investimentos incluem financiamento para aumentar o papel econômico do setor privado e a reforma do setor elétrico do país.
Existem também vários projetos em andamento para reduzir a queima de gás, uma prática poluente de extração de petróleo por onde o gás natural escapa.
O Iraque projeta que as energias renováveis atendam um terço de sua matriz até 2030 e assinou vários contratos para a instalação de usinas solares, inclusive com a TotalEnergies, da França.
Mas enquanto a União Europeia (UE) pretende instalar estações de carregamento de veículos elétricos nas principais rodovias até 2026 e estações de reabastecimento de hidrogênio até 2031, um vendedor de carros de Bagdá disse que o Iraque mal conhece a atual tecnologia de veículos híbridos que ele vende.
“O próximo passo são os carros elétricos… dentro de dois ou três anos”, disse Hassanein Makkie em sua concessionária.
Mas o setor elétrico do país precisa avançar para que isso aconteça.
“É preciso infraestrutura para produzir eletricidade em grandes quantidades. Não estamos prontos”, disse Makkie.
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Traduzido por Elúsio Brasileiro