São Paulo – As ruas foram apontadas como o ambiente onde mulheres muçulmanas mais sofrem preconceito em seu dia a dia no Brasil. O dado foi levantado pelo 1º Relatório de Islamofobia no Brasil, apresentado dados nesta segunda-feira (21), no Seminário Internacional Sobre Islamofobia. Na foto acima, mulheres muçulmanas se reúnem durante o mês do Ramadã, no Rio de Janeiro.
Segundo a pesquisa, 72,9% das muçulmanas relataram que o espaço público é o maior lugar de incidência dessa violência. Na sequência, estão os locais de trabalho, escolas e universidade e o espaço doméstico. “A rua é o lugar mais perigoso para as mulheres”, pontuou a pesquisadora Francirosy Campos Barbosa, que coordenou um estudo.
O trabalho foi desenvolvido ao longo de um ano e resultou em um estudo com mais de 100 páginas. O relatório está disponível de forma gratuita no site da editora Ambigrama, neste link.
Além de Barbosa, também apresentaram os dados os pesquisadores Felipe Freitas de Souza, Isabella Macedo de Lucas, Igor Henrique Bonfim Carlos e Camila Motta Paiva. “Para mim, como muçulmana, era muito difícil [o processo da pesquisa] porque algumas coisas pareciam que eram ditas para mim. Então o trabalho desses pesquisadores me ajudou a não estar o tempo todo em contato com essa violência. Porque é disso que se trata a islamofobia, violência”, apontou Barbosa.
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O estudo ouviu pessoas nascidas no Islã e as revertidas, termo utilizado para aquelas pessoas que não nasceram em lares muçulmanos, mas se converteram à religião. O grupo dos revertidos enfrenta alguns desafios próprios, segundo o estudo. “Ocorre afastamento do ciclo de amizades e familiares das mulheres revertidas, devido principalmente à mudança alimentar e de vestimenta”, disse Paiva.
Já entre os homens revertidos, a islamofobia acontece principalmente em locais de trabalho. “Dos revertidos, 54% já sofreram constrangimento”, apontou Carlos.
Para além dos relatos sobre os espaços físicos, o pesquisador Felipe Freitas de Souza lembrou que mesmo a islamofobia online precisa ter seus efeitos estudados. “Nas redes sociais existe a questão dos agressores serem anônimos. Também há publicações que são reativas aos muçulmanos. Há respostas, mas também há agressões espontâneas que surgem, geralmente, daquilo que identificamos como efeito gatilho, um acontecimento a nível nacional ou internacional que desperta reações online. O caso do 11 de setembro é um deles”, disse Souza.
A coordenadora da pesquisa destaca a importância de descolonizar a visão da religião muçulmana. “O quanto aspectos islâmicos foram e são colonizados”, afirma. “Outro dado importante é a questão da mídia. Ela é apontada como aquela que pode e acaba gerando islamofobia, porque muitas vezes não fala com os próprios pesquisadores ou quem entende aquela realidade”, concluiu Barbosa.
A apresentação do 1º Relatório de Islamofobia no Brasil aconteceu de forma online e faz parte de programação proposta pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo e o Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes (Gracias). A apresentação está disponível neste link.