São Paulo – A história da Kinebot começa bem antes da abertura do CNPJ. Começa quando Cauê Marinho, de 32 anos, nascido na cidade paulista de Campinas e atualmente radicado em Curitiba, ainda era estudante do ensino médio técnico em administração.
“Sempre quis empreender desde cedo”, contou Cauê. Aos 14 anos, ele já buscava caminhos para criar um negócio que pudesse escalar internacionalmente — e, de preferência, vender para fora do Brasil.
E foi essa ambição que o levou a cursar administração, depois a engenharia civil e, por fim, entrar no universo da tecnologia, com a criação, em 2021, da startup. O produto final — um software que utiliza Inteligência Artificial para extrair 30 ângulos por segundo por membro do corpo do trabalhador e, assim, melhorar a saúde dessas pessoas a partir de análises ergonômicas — já chegou a mais de 30 países, entre eles Arábia Saudita, Egito e Marrocos.
“Nos mercados árabes, a porta de entrada foi corporativa. Hoje, a Kinebot é o único fornecedor homologado globalmente pela Procter & Gamble (P&G) para análises ergonômicas nesses países. Por isso, conforme as unidades internacionais da multinacional passam a utilizar a tecnologia, a startup acompanha essa expansão”, explica o paulista.
A Arábia Saudita foi o primeiro destino árabe da empresa, em 2023. No ano seguinte, foi a vez do Egito e do Marrocos. A atuação se dá de forma remota e contínua, com reuniões mensais em inglês para alinhamento com as equipes locais.
“Um dos principais contrastes entre Brasil e países árabes está no nível de regulação. Enquanto a brasileira é considerada mais rigorosa, por lá as exigências são mais simples” explica Cauê.
“Nesses mercados, a plataforma é utilizada principalmente para reduzir riscos, afastamentos e dores osteomusculares em atividades industriais, e não tanto para atender a uma legislação específica. Mas o foco é o mesmo daqui: queremos realmente melhorar a saúde do trabalhador.”
Nas três nações árabes onde a startup já atua, o software está presente em diversas áreas industriais, seguindo o perfil global da empresa: frigoríficos, logística, química, têxtil, bens de consumo, eletrodomésticos, mineradoras, madeireiras, hospitais e até seguradoras.
Ergonomia e presença internacional
Embora o termo ergonomia remeta, para muitos, ao ambiente de escritório, a startup atua principalmente em indústrias com atividades repetitivas, como frigoríficos e fábricas de manufatura.
Mudança e tecnologia são palavras de ordem para a empresa brasileira. Com o software da Kinebot, o processo de análise do trabalhador — que antes demorava até 30 horas para ser feito — agora é realizado em 20 minutos.
A plataforma utiliza visão computacional — um braço da inteligência artificial — para identificar ângulos, movimentações e cargas físicas, com precisão validada por equipamentos laboratoriais. O cliente grava o vídeo, envia ao sistema e recebe automaticamente a análise de risco, indicadores, planos de ação e relatórios alinhados à legislação.
Hoje, o software opera em seis idiomas: português, inglês, espanhol, francês, alemão e mandarim. A empresa também mantém capacitações em três línguas para acompanhar clientes.
A expansão para fora do Brasil começou cedo. Em 2021, no mesmo ano de inauguração da empresa, Cauê foi à Colômbia a convite de uma seguradora, que mais tarde se tornou cliente. Em 2022, o sócio da empresa apresentou a solução no Chile; em 2023, a startup integrou o programa de internacionalização do Sebrae em Nova Iorque, Estados Unidos, onde mantém um escritório e um profissional dedicado ao atendimento em inglês.
Atualmente, mais de 100 empresas utilizam a solução da empresa brasileira, somando 500 unidades e mais de 400 mil trabalhadores avaliados no mundo.
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*Reportagem de Rebecca Vettore, em colaboração com a ANBA


