Giuliana Napolitano
São Paulo – O Brasil recebe poucos investimentos de países árabes, mas o volume pode crescer "se for feito um trabalho de atração desses recursos". A avaliação foi feita por Fernando Ribeiro, economista-chefe da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).
Os últimos dados do Banco Central mostram que, em 2000, havia pouco mais de US$ 13 milhões de investimentos árabes no Brasil. Isso representava 0,01% do total de recursos estrangeiros em estoque no país no período (de cerca de US$ 103 bilhões).
Segundo o relatório do BC, esse capital veio de apenas três países do Oriente Médio: Catar, Jordânia e Líbano. Só o Líbano respondia por 76% do total, com quase US$ 10 milhões investidos no país. O Catar tinha US$ 1,7 milhão e a Jordânia, US$ 1,4 milhão.
Para Ribeiro, a razão de o Líbano ser o maior investidor brasileiro é a imigração. Os libaneses – ao lado dos sírios – foram os primeiros imigrantes árabes a chegar ao país por volta de 1880. Hoje, o Brasil tem a maior colônia libanesa do mundo, de 6 milhões de pessoas. O contingente é, inclusive, maior do que a própria população do Líbano, de 3,6 milhões de habitantes.
Produtores de petróleo
"O volume de investimentos é bem baixo, mas há oportunidades de crescimento", afirma Fernando Ribeiro. Ele nota, por exemplo, que os grandes produtores de petróleo – localizados, principalmente, na região do Golfo Arábico – não constam da lista de investidores.
Entre esses países estão a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, por exemplo. Além de terem duas das maiores reservas de petróleo do mundo – a Arábia Saudita lidera o ranking, com 261 bilhões de barris, e os Emirados vêm em terceiro, com 98 bilhões de barris e, por isso, sucessivos superávits comerciais -, os dois países vêm passando por processos de abertura econômica.
Além disso, desde os atentados terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos, estima-se que entre US$ 300 e US$ 400 bilhões de capital árabe tenha sido drenado do mercado norte-americano. E os investidores buscam novos destinos para esses recursos.
"Poderia ser feito um trabalho para atrair esses recursos", diz o economista da Sobeet. Para ele, a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à região, programada para dezembro, "deve ajudar".
A Arábia Saudita chegou a manter investimentos no país. Em 1995, de acordo com o Banco Central, o estoque de recursos sauditas era de US$ 873 mil. Nesse ano, aliás, o volume acumulado de capital árabe no Brasil era maior: de US$ 28,5 milhões. O Líbano continuava em primeiro lugar no ranking da região, com US$ 27,6 milhões, seguido pelo Catar, com US$ 1 milhão, e pela Arábia Saudita.
Comércio é ponto de partida
Outro "caminho" apontado por Ribeiro para ampliar os investimentos árabes é o das parcerias comerciais. "Esse é o primeiro passo para as parcerias também na área de investimentos", afirma. "E o comércio do Brasil com os países árabes vem crescendo", lembra.
No ano passado, o país vendeu ao Oriente Médio e ao Norte da África o equivalente a US$ 2,6 bilhões e comprou US$ 2,3 bilhões, volume que correspondeu a menos de 5% de tudo o que o Brasil transacionou no exterior.
Do lado das exportações, porém, houve uma expansão de 73% frente ao resultado de 2000. Tanto é que o Brasil registrou no ano passado um dos primeiros superávits comerciais com os países árabes, de US$ 300 milhões.
As perspectivas também são positivas. Estudo feito pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB) indica que as vendas brasileiras para a região podem subir 170% e chegar a US$ 7 bilhões até 2006.

