São Paulo – O Líbano está começando a viver uma nova leva de emigração, de acordo com o pesquisador e escritor brasileiro Roberto Khatlab, que é diretor do Centro de Estudos e Culturas da América Latina (Cecal) da Universidade Saint Esprit de Kaslik (Usek), do Líbano. Khatlab falou sobre o assunto em webinar promovido pela Casa Árabe, da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, nesta segunda-feira (30).
No evento virtual, estudiosos da imigração fizeram uma análise de pesquisa realizada pelo Ibope Inteligência e o instituto H2R Pesquisas Avançadas, que apontou que existem no Brasil cerca de 12 milhões de árabes e descendentes, que significam 6% da população do país. Khatlab falou sobre os motivos da imigração e o momento atual.
“Hoje no Líbano nós estamos novamente iniciando uma grande vaga de emigração”, disse Khatlab. O Líbano vive um longo período de instabilidade econômica e política. “Já desde 2018 a situação não estava bem, em 2019 piorou e agora com a pandemia estamos numa hemorragia de emigrantes”, afirmou. Khatlab percebe uma fuga de cérebros, jovens e profissionais que poderiam contribuir com a renovação do país.
A análise de Khatlab apontou que conflitos e guerras, além de acordos facilitadores entre os governos e epidemias, impulsionaram a imigração árabe no Brasil ao longo da história. Mas ele acredita que neste momento os imigrantes já estabelecidos em outros países deveriam ajudar o seu país de origem, o Líbano, na permanência das novas gerações.
Khatlab fez um percorrido na história e lembrou de Dom Pedro II, que com suas viagens e acordo do Império do Brasil com o Império Otomano, fomentou a imigração de árabes no território brasileiro. O acordo facilitava a entrada dos imigrantes no Brasil. O pesquisador citou outros tratados entre governos, como com o mandato francês no Líbano e Síria e na época da República no Brasil, que incentivaram o ingresso.
Casa Árabe e imigração
O evento virtual sobre imigração foi o primeiro organizado pela Casa Árabe, que começou o seu funcionamento com atividades online. Khatlab disse que acredita que a Casa Árabe será um espaço para receber ideias sobre as estatísticas levantadas na pesquisa. O presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, abriu o evento apresentando a Casa Árabe e contou da diversidade de material que ela deve congregar, de museus, bibliotecas, filmes, webinars, além de promover atividades de formação, entre outros.
O objetivo é que a Casa Árabe seja também um espaço para o debate e a reflexão sobre a imigração árabe no Brasil. A pesquisa sobre o tema apontou uma série de dados, que foram relembrados pela diretora da H2R Pesquisas Avançadas, Alessandra Frisso, no evento desta segunda-feira.
Acompanhe reportagens anteriores com dados da pesquisa:
- Comunidade árabe é 6% da população brasileira, diz pesquisa
- Entre descendentes de árabes, netos são 41%
- Lideranças empresariais: 10% são árabes e descendentes
O levantamento trouxe dados sobre as gerações de árabes presentes no Brasil, as ligações com o idioma árabe, a continuidade dos costumes, o perfil de liderança dos árabes e descendentes, a ligação deles com o mundo árabe, a escolaridade, a renda, entre outras informações. “Quanto nós ganhamos e quanto eles ganharam!”, disse Alessandra ao final da apresentação, diante de todos os dados apontados.
Mansour, do Egito
O secretário-geral da Câmara Árabe, o egípcio Tamer Mansour deu seu depoimento no evento e disse que se viu representado na pesquisa. Mansour vive no Brasil há 18 anos. “”É [assim que] é nossa vida nos países árabes”, disse, sobre informações levantadas, como o domínio de outros idiomas pelos árabes e a dedicação ao trabalho. “Essa é a nossa vida, providenciar excelente educação para os filhos é regra sagrada”, disse.
Segundo o secretário-geral, a Câmara Árabe viu a necessidade de recuperar a imagem dos árabes no Brasil, o que começou a ser feito por meio da realização da pesquisa. “Os árabes ensinaram ao Brasil o que é comércio, ensinaram ao Brasil como negociar”, disse, lembrando, no entanto, a diversidade de fatores que os representam, como o pioneirismo, e não apenas uma ou outra característica.
Leia em breve na ANBA outra reportagem sobre o webinar da imigração.