São Paulo – Um problema que antes só era tratado de fora para dentro, e podia despender bilhões de dólares para a indústria petrolífera, está a caminho de ser resolvido por dentro. O robô Annelida (foto acima) é capaz de se locomover pelos minúsculos espaços dos dutos do pré-sal. Ali, a missão do equipamento é limpar os resíduos que ficam presos nas paredes e entopem os dutos, impedindo que o petróleo circule.
Batizado pela semelhança com o filo dos anelídeos, animais de corpo segmentado que têm como representantes da espécies as minhocas, a tarefa do robô deverá poupar o dinheiro que petrolíferas como a estatal brasileira Petrobras utilizariam substituindo peças danificadas, além de reduzir o tempo em que os equipamentos ficarão inutilizados. A ideia partiu justamente da demanda da indústria. “A Petrobras sempre teve problemas com obstrução de linhas, tanto de produção quanto de distribuição de óleo. Eles já têm procedimento para evitar formação das obstruções e há bastante tempo vêm com essa questão de como recuperar linhas que foram obstruídas”, disse Anselmo Luís da Silva Junior, pesquisador do Instituto Senai de Inovação em Sistemas Embarcados, de Santa Catarina.
A limpeza feita pelo Annelida é focada nos hidratos e parafinas que aderem à parede dos dutos por causa da solidificação do óleo durante sua extração. O petróleo extraído do pré-sal sai do solo a uma temperatura de 60 a 70 graus C, mas vai se resfriando ao passar pelo oceano, num percurso de até 15 quilômetros, podendo chegar à temperatura de quatro graus, mudança que solidifica o insumo, podendo entupir os dutos.
Para chegar na solução, as equipes precisaram desenvolver 14 novas tecnologias. Entre elas estão sistemas de aquecimento, de alimentação, sensoriamento, controle e comunicação, transmissão de carga, vasos de pressão, até um processo específico de análise de risco. O resultado foi um robô que se movimenta e se parece com um grupo específico de animais: os anelídeos.
Inspirado na natureza
Embora o nome do robô tenha surgido só depois de pronto, as soluções para torna-lo viável têm muito em comum com o que já existia na natureza. “Na literatura o princípio de movimentação é chamado de peristáltico. Não deixa de ser [inspirado na natureza], afinal o princípio é mesmo visto nas cobras, por exemplo. Mas o nome em si não foi. Depois que já tínhamos um conceitual feito é que alguém notou a semelhança com os anelídeos”, explicou Junior.
Semiautônomo, o robô consegue se movimentar sozinho graças a esse sistema peristáltico. “Ele tem seu próprio sistema de locomoção e tração. O robô tem esse diferencial. Ele mesmo se prende nas paredes do duto e vai avançando e depois retornando. Isso faz com que consiga levar ferramentas para operações internas”, detalhou o pesquisador.
O robô também tem um formato bastante semelhante ao de anelídeos, com comprimento extenso em comparação ao seu pequeno diâmetro. No caso de Annelida, são 15 metros de comprimento para quatro polegadas de diâmetro. O corpo do robô também precisa ser flexível, como o dos animais, para circular livremente pelos dutos.
Equipes de diferentes instituições se uniram para o desenvolvimento do equipamento. Os Institutos Senai de Inovação em Sistemas Embarcados, de Florianópolis (SC), e de Polímeros, de São Leopoldo (RS), além da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade de São Paulo (USP) participaram.
O projeto foi dividido em duas fases. A primeira delas, com início em 2016 e término em janeiro deste ano, tratou desde o conceito de operação até a montagem do robô e de equipamento auxiliar para inseri-lo no campo. Aqui, os cientistas já realizaram testes em ambientes controlados. Já a segunda fase do projeto começou neste ano e deve se estender por mais 36 meses. Agora os pesquisadores vão desenvolver mais cinco unidades do robô para realização de testes em campo. Nesta última fase, as equipes das instituições já citadas também contam com o apoio do Instituto Senai de Inovação em Sistemas de Manufatura, além da startup UpSensor.
Além das funções autônomas, o robô tem algumas funções acionadas à distância pelos pesquisadores. Entre as fases finais estão a transferência dessas tecnologias para a indústria. Com as soluções já criadas, há possibilidade de que o Annelida possa ser utilizado, também, em indústrias que fazem outros tipos de extração do petróleo que não a por via marítima.