São Paulo – Após viver por 30 anos como apátrida, Maha Mamo (foto acima) conquistou, em 2018, o direito a uma nacionalidade, a brasileira. Nascida em Beirute, no Líbano, a jovem não pôde obter nacionalidade libanesa, já que seus pais eram da Síria. Também na nação de origem da família, Mamo e seus irmãos não puderam ser registrados já que são fruto de um casamento inter-religioso, o que na Síria é um impeditivo para o registro.
A apatridia é um problema que atinge pessoas em todo mundo que, por diferentes razões, não conseguem ter registro de nacionalidade. A barreira só se amplifica já que sem isso os apátridas não conseguem ter acesso a documentos e, por consequência, a direitos básicos.
No caso de Mamo e sua irmã, as duas foram as primeiras apátridas a receberem a nacionalidade no Brasil. Só aí, ela conseguiu acesso a diversos direitos básicos, como viajar livremente. “Muita coisa mudou depois disso. Ganhei, basicamente, o direito de ir e vir. Tirei meu passaporte e viajei a muitos países. Em muitos deles, eu vi a lei sobre apatridia mudar”, revelou ela, que hoje é palestrante.
Nesse tempo, Mamo escreveu um livro para amplificar a discussão e o conhecimento sobre a luta de pessoas apátridas. A obra ‘Maha Mamo – A luta de uma apátrida pelo direito de existir’ foi feita em parceria com o jornalista brasileiro Darcio Oliveira. “Meu propósito hoje é dar voz para minorias que se sentem excluídas”, afirmou ela em entrevista à ANBA.
Também é ao lado do jornalista que Mamo criou o texto que fará parte de uma exposição no Museu da Imigração, com abertura nesta quarta-feira (15). A produção especial de cunho poético faz parte do Projeto Raiz. A iniciativa foi inaugurada em maio e já teve materiais do historiador e escritor, Leandro Karnal, e do cantor e compositor Emicida.
Campanha
Depois de ganhar nacionalidade brasileira, Mamo conta que pôde, inclusive, rever seu pai e demais familiares. “Eu consegui ir ao Líbano. É uma coisa que eu não poderia fazer antes [quando era apátrida], não podia sair porque não tinha documentos e passaporte”, revelou ela.
Agora, a brasileira quer tornar esses direitos acessíveis a outras pessoas. E, no momento, especialmente para Rayan, um menino de 13 anos que nasceu no Líbano e vive como apátrida. O menino é filho de uma mãe solo, que faleceu quando ele tinha apenas seis meses. Segundo Mamo, as mulheres libanesas não podem passar sua nacionalidade aos filhos, por isso, sem o registro do pai, Rayan se tornou apátrida e atualmente mora com suas duas tias.
Uma campanha online lançada nesta terça-feira (14) visa arrecadar doações para arcar com a obtenção dos documentos que comprovem a identidade do Rayan. “Se eu puder ajudar a outras crianças a não precisarem passar por tudo isso [que eu passei], eu farei isso”, concluiu.
Para a ativista, o fato de o Brasil ter colocado em prática o registro de pessoas apátridas é um exemplo a ser seguido. “Minha meta, hoje, é ir na fonte do problema para ajudar a resolver. O Brasil virou exemplo porque conseguiu não só escrever leis, mas implementá-la”, disse Mamo.
Serviço
Projeto RAIZ | Lançamento produção Maha Mamo
Data: 15 de setembro
Horário: terça a sábado, das 9h às 18h, e domingo, das 10h às 18h
Local: Jardim – Museu da Imigração
Campanha
Eu Existo! Eu sou Rayan!
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