São Paulo – A Argélia e o Marrocos têm grandes oportunidades para o setor de saúde brasileiro, principalmente para produtos médico-hospitalares. O webinar promovido em parceria entre a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), a Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (ABIMO) e a Câmara de Comércio Árabe Brasileira nesta quinta-feira (23) tratou do assunto.
Falaram no evento o coordenador de acesso a mercados da Abimo, Rafael Cavalcante, os analistas de Inteligência de Mercado da Apex-Brasil, Igor Gomes da Silva e Pedro Henrique de Souza Netto, e da Câmara Árabe, o economista sênior Sotirios Denis Ghinis e a consultora de Negócios Internacionais Karen Mizuta.
De acordo com Rafael Cavalcante, a Argélia é um mercado grande, com sistema público de saúde similar ao SUS do Brasil, e onde há pouca concorrência pela dificuldade de acesso e pela pequena produção doméstica. Alguns desafios são a dificuldade de acesso, a burocracia, os registros e a exigência de certificações internacionais. “Isso pode ser um dificultador para algumas empresas que não têm os produtos com essas certificações”, disse.
Por outro lado, é um mercado com pouca concorrência. “Uma vez que a empresa supera essas dificuldades, ela encontra um grande mercado e pouca concorrência. A questão de pagamentos também é um ponto de atenção, o CAD [Cash against documents] significa que o pagamento demora de 30 a 90 dias em geral para chegar em conta. O país enfrenta uma escassez de divisas tendo em vista a redução do preço do petróleo, e sua economia ainda é bem baseada em petróleo e gás. Mas isso deve ser encarado como oportunidade para as nossas empresas porque em função disso eles precisam diversificar a economia e precisam de outras fontes de renda de outras possibilidades comerciais, o que leva o mercado a tender para uma abertura crescente nos próximos anos”, disse.
Outro ponto favorável é a crescente participação da iniciativa privada no mercado da saúde na Argélia. “A inserção em um mercado como a Argélia exige planejamento e paciência, mas, quando realizada, tem potencial de gerar muitos frutos para a empresa exportadora”, disse Cavalcante.
Marrocos
Sobre o Marrocos, os estudos da Abimo e Apex-Brasil mostraram que é um mercado convidativo a negócios, com uma classe média crescente, baixa exigência de certificações internacionais e perfil negociador favorável a produtos brasileiros. Os desafios apresentados são a grande concorrência com importados e pontos de atenção com registro local. E diferentemente da Argélia, é um mercado bem mais aberto, e a produção doméstica para dispositivos de saúde é pequena.
“O que fica como desafio no Marrocos é a concorrência”, afirmou Cavalcante. Ele cita que o país árabe tem como referência os produtos europeus, o que pode ser uma vantagem para o produto brasileiro que tem valor mais baixo. Na foto acima, hospital do Marrocos.
Panorama
Sotirios Ghinis apresentou um panorama sobre o comércio exterior dos países árabes no setor de saúde. Os países árabes importaram no ano passado US$ 16 bilhões em equipamentos médico-hospitalares, uma queda de 2% em relação a 2018, tendo a China, os Estados Unidos e a Alemanha como principais fornecedores. O Brasil ocupou a 44ª posição no fornecimento desses equipamentos, e os principais produtos foram itens de plástico, aparelhos mecânicos, instrumentos cirúrgicos, reagentes para diagnóstico e agulhas e cateteres.
A exportação brasileira para os países árabes alcançou US$ 16 milhões em 2019, um crescimento de 21% em relação a 2018. Os países árabes foram o 14º destino das exportações desses materiais. “Se a gente considerar a população árabe, o interesse dos governos árabes no desenvolvimento e muitas vezes na universalização do acesso à saúde para a sua população, existe um grande mercado que pode ser explorado pelas empresas brasileiras”, disse Ghinis.
Os cinco países que mais importam produtos médico-hospitalares também foram os cinco países para onde o Brasil mais exportou, que são Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito, Marrocos e Argélia.
Karen Mizuta deu dicas de negociação com os árabes. “Aqueles que têm muito interesse em negociar e vender para os países árabes têm que estar atentos a questões culturais que possam interferir nas negociações”, disse.
Na Argélia e no Marrocos, se fala árabe e o segundo idioma oficial é o francês, diferente dos países do Golfo, por exemplo, que falam inglês. “É importante ter um canal de comunicação, até mesmo a utilização de intérpretes, para que não ocorra nenhum tipo de prejuízo na negociação”, afirmou. Ela também falou sobre o período do Ramadã e sobre o final de semana, que na maioria dos países árabes, é sexta-feira e sábado.
Apex-Brasil e a pandemia
Pedro Henrique de Souza Netto mostrou os painéis de inteligência de mercado da Apex-Brasil, que são novos produtos de inteligência disponíveis para o empresário brasileiro e têm acesso gratuito no site da agência. São estudos setoriais, de investimentos, de acesso a mercados, painéis de comércio, mapas de oportunidades, entre outros. Ele apresentou os painéis de comércio durante a covid-19.
“Em razão da covid-19, todos sabemos, o comércio global está sendo especialmente afetado. A Organização Mundial do Comércio (OMC), no relatório de junho, estima que o comércio global em geral vai cair em torno de 13% esse ano em relação ao ano passado”, disse Netto. Segundo ele, essa deve ser a queda mais acentuada desde a crise de 2008. Na América do Sul, o recuo previsto é ainda maior, entre 13% e 32%. Ele informou também que as exportações dos produtos médico-hospitalares brasileiros até junho caíram em relação ao primeiro semestre do ano passado, principalmente no período do segundo trimestre, quando a pandemia começou a se alastrar no Brasil. No entanto, para a Argélia e para o Marrocos, houve um leve crescimento.
Igor Gomes da Silva mostrou o mapa de oportunidades da Apex-Brasil, ferramenta também disponível no site da agência. “Esse mapa tem como objetivo apresentar insights de oportunidades para empresas brasileiras para diversos mercados e diversos produtos”, disse.