Giuliana Napolitano
São Paulo – O governo resolveu investir na indústria turística e, na primeira pesquisa feita com empresas do setor, a conclusão foi otimista. Em estudo inédito feito em parceria pela Embratur e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a maior parte dos cerca de 800 entrevistados disseram esperar aumento no faturamento para este ano.
O segmento que apresentou as perspectivas mais positivas foi o das empresas organizadoras de feiras e eventos: 100% afirmaram esperar expansão em 2004. Em segundo lugar vieram as operadoras de turismo internacional (99%) e as agências de viagem (90%). Mesmo o ramo hoteleiro, atingido por uma crise que já dura dois anos, prevê um ano melhor: 74% dos entrevistados responderam que devem aumentar as receitas até dezembro. Entre as operadoras de turismo doméstico, a taxa é menor, de 67%, e entre os restaurantes fica em 57%.
O diretor de estudos e pesquisas da Embratur, José Francisco de Salles Lopes, disse à ANBA que essas previsões coletadas pelo levantamento "não são adivinhações". "Elas se baseiam em dados concretos fornecidos pelas empresas". A pesquisa ouviu 799 companhias de seis segmentos ligados à indústria de turismo. Foi pesquisado o volume de negócios contabilizado no último trimestre de 2003, em comparação com os números dos três meses anteriores, e também foi coletada a previsão para o primeiro trimestre de 2004 e também para todo o ano.
Em entrevista coletiva, o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, afirmou que o setor "tem expectativas de melhoria em quase tudo". "Se a economia crescer 3,5% em 2004, teremos crescimento de 7% na indústria", declarou, de acordo com informações da Agência Brasil.
A estimativa do governo é de que o fluxo de turistas estrangeiros chegue a 4,9 milhões neste ano. Em 2003, a previsão é de que o número tenha aumentado cerca de 13%, para 4,3 milhões de visitantes – os dados consolidados da indústria só serão divulgados em abril. Para o turismo doméstico, a previsão também é de uma expansão de 15% entre 2002 e 2003, para 40 milhões de pessoas.
Hotéis: cautela
Os números ainda são baixos – o Brasil recebe, por exemplo, menos turistas estrangeiros do que os Emirados Árabes Unidos, país que tem 1% da área e 1,5% da população brasileira. Um dos setores mais atingidos pelo desempenho abaixo da média é o de hotéis. Por isso, apesar da perspectiva otimista, empresários da área ainda acreditam que 2004 será um ano de avaliação.
"Há uma expectativa de melhora, mas acho difícil ocorrerem novos investimentos, por exemplo. Ainda precisamos trabalhar para aumentar as taxas de ocupação, que estão muito baixas", disse à ANBA o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Luiz Carlos Nunes.
Segundo Nunes, as taxas médias de ocupação hoje no país estão entre 45% e 50% e, para ele, um número "bom" seria de pelo menos 60%. Na avaliação do executivo, a conseqüência dessa defasagem é que o preço das diárias nos últimos dois anos caiu cerca de 20%. "Em alguns locais, como São Paulo, em que a concorrência é muito grande, a queda foi ainda maior", explicou.
Carlos Nunes acredita que, para reativar o setor, é preciso estimular o turismo doméstico. Ele elogiou o programa do governo para o turismo estrangeiro – já no início do mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que a meta é chegar a 9 milhões de visitantes até 2007. Mas ressaltou que é preciso estimular também o fluxo interno. "Poderiam ser criadas linhas de crédito específicas para que os trabalhadores de classe média possam viajar", sugeriu.
Turismo de negócios
Lula colocou o setor de turismo como uma das prioridades do governo. Para incentivar o crescimento da indústria, foi criado um Ministério do Turismo – que se separou da área de esportes – e, dentro da Embratur, foi formada uma área para cuidar especificamente do turismo de negócios, que ainda é pouco explorado no país.
Essa pode ser uma das razões do otimismo das empresas promotoras de feiras consultadas na pesquisa da Embratur e da FGV. Segundo informou à ANBA no início de janeiro o gerente da área de turismo de negócios da Embratur, Lawrence Reinisch, "esse segmento era negligenciado no país até o final de 2002, mas agora estamos dispostos a investir".