Giuliana Napolitano
São Paulo – Apesar de as reuniões preparatórias para a Cúpula Árabe terem sido polêmicas e de o encontro ter sido cancelado apenas dois dias antes do início, que estava programado para a última segunda-feira (29), a maioria dos países árabes é favorável à realização do evento em nova data, o mais breve possível. É o que mostram reportagens publicadas na imprensa árabe e foi o que informou à ANBA Sayed Torbey, chefe-adjunto da missão permanente da Liga dos Estados Árabes, responsável pela organização da cúpula.
"Há uma reação em quase todos os países árabes de manter a cúpula", declarou Torbey, por e-mail, do Cairo, Egito. Ele informou ainda que o secretário-geral da Liga, Amr Mussa, fará "em breve" uma viagem de uma semana pelo Oriente Médio e Norte da África para "discutir a questão".
Torbey acrescentou, porém, que "as negociações continuam nebulosas". Para ele, a própria proposta de Mussa, feita ontem (29), de remarcar a reunião para daqui a três ou sete semanas mostra como o processo continua indefinido. Também não se sabe onde a cúpula será realizada: na Tunísia, que sediaria a 16ª reunião, ou no Egito, que abriga a sede da Liga.
"Diferenças de visão"
A cúpula foi cancelada unilateralmente pela Tunísia no sábado e pegou de surpresa os principais dirigentes árabes, que estavam reunidos para decidir os temas que seriam discutidos do encontro. A justificativa do Ministério de Relações Exteriores da Tunísia foi a de que havia muitas "diferenças de visão" entre os países.
Realmente, na semana passada, havia pouco consenso entre os temas que seriam discutidos na cúpula. O Egito havia preparado um documento propondo que a reunião discutisse projetos de reformas para os países árabes, entre elas, a modernização econômica, a democratização política, a concessão de mais direitos às mulheres e mudanças no sistema legal.
Outros países como Síria e Líbano, porém, acreditavam que a discussão do conflito israelense-palestino seria mais urgente, principalmente após a morte do líder espiritual Ahmed Yassin. Em meio aos debates, os reis Fahd bin Abdel-Aziz Al-Saud, da Arábia Saudita, e Hamad bin Isa Al Khalifa, do Bahrein, anunciaram que não participariam do encontro e delegaram representantes. Em vez dos dois governantes, iriam ao encontro o primeiro-ministro do Bahrein, xeque Khalifa bin Salman al-Khalifa, e o ministro do Exterior saudita, Saud Al-Faisal.
Ainda assim, após o cancelamento, a maioria dos países árabes declarou que essas diferenças poderiam ser resolvidas e que a cúpula deveria acontecer. Em comunicado, o presidente do Egito, Hosni Mubarak, disse ter ficado "surpreso e desapontado" com a decisão da Tunísia, informou o jornal árabe Khaleej Times. No domingo (28), ele propôs que seu país fosse sede da cúpula e sugeriu que a reunião fosse realizada em "duas ou três semanas", de acordo com o diário.
Países como o Iêmen, a Jordânia e os Emirados Árabes Unidos apoiaram a proposta de Mubarak. Foi a primeira vez em que uma cúpula árabe foi cancelada desde 1983.
América do Sul
Estava prevista para ser discutida na cúpula da Tunísia a realização da primeira reunião entre chefes de governo árabes e sul-americanos, proposta pelo Brasil e prevista para ocorrer em dezembro. O assunto seria levantado pelo presidente libanês, Émile Lahoud, segundo acordo entre ele e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando Lahoud visitou o Brasil, em fevereiro deste ano.
Segundo Torbey, após o cancelamento e as divergências que vêm sendo expostas entre os países da região, a tendência é de que "a agenda de discussões seja reduzida ao mínimo" e fique concentrada nas "questões internas do mundo árabe". Ele acredita, porém, que ainda há espaço para que o encontro com os países sul-americanos seja debatido.
A Liga Árabe é o principal organismo de representação árabe. Foi fundada em 1945 por sete países: Arábia Saudita, Egito, Iêmen, Iraque, Jordânia, Líbano e Síria. Hoje, engloba os 22 governos do Oriente Médio e Norte da África: além desses sete, Argélia, Bahrein, Catar, Djibuti, Emirados Árabes Unidos, Ilhas Comores, Kuwait, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, Somália, Sudão e Tunísia.
O organismo surgiu logo após o fim da Segunda Guerra Mundial para criar um fórum permanente de cooperação econômica, cultural, política e social entre os países árabes.
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